Lesly

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Minha mãe sempre me disse que o primeiro amor é aquele para vida toda, ela por exemplo se casou com o seu primeiro namorado que foi meu pai.

Meu primeiro e único namorado desde então foi Hugo, nossos pais eram muito próximos e isso nos aproximou. Todo final de semana ia brincar na casa enorme de Hugo, nossos pais sempre diziam que no futuro nós seríamos um belo casal.

Hugo pode ter sido meu primeiro namorado, mas não meu primeiro amor. Eu nunca o amei.

****

Corri pro o salão sem ainda ter parado para pensar sobre o beijo em que dei em Breno.
Fiz sem pensar, o beijei sem se preocupar com nada e ninguém. Naquele momento era apenas eu e ele.

—Festinha animada. — alguém fala e me viro para ver. Infelizmente a voz é de Sandra, que está na minha frente em um vestido vermelho muito decotado.

—Por que está aqui?

—Feliz aniversário querida! — ela diz tentando me abraçar porém me afasto.

Tiffany e Marina também estão ao seu lado.

—Parabéns Lesly! — dizem em coro.

—Dezessete anos já.. Nem parece que nos conhecemos desde os seis anos — Sandra fala enquanto olha para o borrão do meu batom que arrumo na hora. — Andou beijando alguém querida?

—Por que você não toma conta da sua vida?

—Lesly! — alguém grita e me abraça por trás.

Era Hugo.

—Mostrando o colar que te dei para a amiguinha? — diz em tom de deboche.

Sandra olha para o colar sobre meu pescoço. Por alguns segundos achei que ela iria arranca-lo de mim. Ela desvia o olhar e arruma o cabelo para o lado.

—Você dá isso para sua ex-namorada?

Ex? — ele continua a me abraçar, porém me afasto. — Ex é você Sandra, aliás nem sei se posso considerar você como minha ex-namorada já que não namoraria uma garota como você.

—Chega! Vão os dois embora daqui! — digo alto — Vocês dois se merecem pelo simples fato de serem iguaizinhos nas atitudes. — me viro para Hugo, tiro o colar e coloco sobre sua mão - De para alguém que seja como você.

As luzes do salão se escuressem e a música para.
Vejo dezessete velas em um enorme bolo, mamãe e todos os outros convidados começam a cantar o tradicional "Parabéns pra você".

Entre palmas e cantoria vou em direção ao bolo, mamãe e papai ficam ao meu lado. Minha mãe faz questão que tirem fotos da família feliz por isso sussurra no meu ouvido:

—Um sorrisinho e isso acaba.

Sorrio para todos os fotógrafos e me viro novamente para o bolo.

—Faz um pedido! — alguém grita.

Só quero que tudo isso acabe e possa pensar. Pensar no meu possível futuro!

As velas apagam com um leve sopro e a festa para mim acaba.

****

Papai me leva para casa com a desculpa de uma leve dor de cabeça.

—Não quer que eu fique aqui com você? — papai pergunta já no meu quarto.

—Não precisa pai, é só uma dorzinha.

Estou largada na minha cama porém ainda estou com meu vestido branco que ainda brilha.
Papai alisa meu cabelo.

—Como você cresceu essa noite.

—Pai...

—Lembro do seu primeiro aniversário, sua mãe tinha convidado todas as crianças da sua escolinha, alugamos balanços, pula-pula, mas você só queria ficar no meu pé. Isso deixou sua mãe maluca. — seus olhos brilhavam enquanto falava, como se realmente essas lembranças fossem importantes. — Você se melou toda no bolo, correu dos palhaços. Para sua mãe foi um grande desastre, mas para mim.. É a melhor lembrança que tenho de você criança.

Pai... Vou ser sua eterna criança. — me sento na cama e dou um leve abraço.

—Te amo querida, seu sorriso é coisa mais valiosa desse mundo.

Papai se levanta rapidamente e segura minha mão.

—Vou fazer um chá para você antes de voltar para a festa. Tome um banho e troque de roupa.

—Obrigada pai. — digo enquanto ele fecha a porta do quarto.

****

Breno.
Essa era a única pessoa que vinha na minha cabeça.
Por que havia corrido sem trocar nenhuma palavra com ele?

Peguei meu celular na escrivaninha e fui em contatos.

Breno - online

Abri o aplicativo de conversa, queria falar com ele. Pelo menos dizer "Oi". Senti borboletas formarem no meu estômago.

Breno - digitando...

Sento na cama esperando a mensagem, mas parece que ele desiste de me mandar.

****

Era domingo, acordo com o barulho de caminhões dando partida.
Me levanto cambaleando e vou para a janela, vejo várias caixas saindo de lá.

Desço correndo as escadas, mamãe está em seu melhor vestido casual e aponta para vários homens onde devem colocar as caixas.

—Bom dia. Dormiu bem querida? — mamãe diz.

—O que é tudo isso?

—Os presentes que você recebeu ontem. Eram tantos que tivemos que alugar esse pequeno caminhão.

Vou até as caixas e vejo várias caixinhas menores com laços.

—Olha! Esse aqui foi da mãe de Hugo.

É uma caixa enorme, abro e vejo uma lingerie dourada que ainda está com o preço.

—Caro hein. — fala mamãe pegando o presente da minha mão.

—Que tipo de pessoa dá uma lingerie de presente para uma menina de dezessete anos? — falo vendo os outros presentes.

Um pequeno caderno chama minha atenção. Capa dura, folhas sem nada escrito. Era o presente de Breno.

—Um caderno? — fala mamãe tentando pegar o presente da minha mão.

—É pessoal! 

—Que tipo de pessoa dá um caderno de presente para alguém?

—Melhor que receber uma lingerie.

—Quem foi que te deu?

—Um amigo. — respondo.

—Que amigo? Amigo pobre só pode.

—Foi Breno mamãe!

—Só podia ser esse menino, vamos Lesly me de isso aqui. Vamos colocar na caçamba de lixo.

—Mãe! É um presente.

Mamãe suspira e continua a pegar os presentes das caixas.

—Ele não é bom pra você querida.

Com o caderno na mão, subo para o meu quarto.
Breno não era bom, Breno era ótimo.

Amor Sobre RodasOnde histórias criam vida. Descubra agora