Amor Sobre Rodas

Breno

Meus pais se conheceram na escola. Minha mãe era a garota mais inteligente da classe e filha do diretor e meu pai era um delinquente juvenil que vivia fazendo visitinhas na sala do diretor.

Todas as vezes que ele fazia algo errado ficava horas esperando para entrar na sala do diretor para ouvir uma longa e demorada bronca, e mamãe esperava meu avó para ir pra casa. E foi assim em muito desses encontros de espera que eles se conheceram e se apaixonaram.

Tia Veronica que era dois anos mais velha que mamãe, não parava de contar sobre como foi quando minha mãe levou para a apresentar para a família o meu pai.

Ela dizia que meu avó levou um enorme susto, mas aceitou, pois o amor dos dois era algo incomum.
Tia Veronica ainda diz que assim que mamãe deu o primeiro beijo no meu pai, foi correndo para contar para a irmã mais velha.

Fico imaginando se eu faria o mesmo. O que meu pai diria quando soubesse que seu filho descobriu o amor?

****

Foi um beijo leve e verdadeiro. Senti a pele de boneca de Lesly perto do meu, senti o cheiro de flores de seu perfume, senti seu coração mais acelerado que o meu.

Nossos rostos que antes eram um só se afastaram devagar, antes dela ficar em pé nos olhamos mais uma vez.

A magia havia terminado, o gazebo estava escuro, a música da festa era eletrônica e ouvíamos gritos animados de várias pessoas.

Lesly solta minha mão. O que eu teria feito de errado? Vejo seus lábios se movendo como se quisesse dizer algo, mas nenhum som sai.
Ela passa por mim correndo, indo em direção ao salão.

****

—Por onde você esteve? — pergunta Ronan quando volto para o salão.

—Reparou na minha ausência? — digo sarcástico — Pensei que Daniela havia pegado toda sua concentração.

—Não mude de assunto, estou de procurando a muito tempo.

—Fui ver o jardim, só isso.

Ronan me encara.

—Aproveitando a festa garotos? — diz uma voz atrás de nós.

Vemos Sandra, Tiffany e Marina lado à lado, com vestidos enormes.

—Sandra? Você foi convidada? — Ronan pergunta.

—Claro que sim. Estranho é vocês dois serem convidados para algum evento. Dois fracassados. — Sandra fala e suas amigas soltam risadinhas.

Daniela vem em nossa direção.

—O que você faz aqui? — pergunta para Sandra.

—O que está acontecendo? É tão surpreendente que eu esteja na festa de Lesly?

—Melhor você ir embora.

—Me poupe Daniela, fui convidada e agora vou ficar — ela aponta para uma senhora que está conversando com alguns convidados — Dona Marília!

A senhora chega ao nosso lado. É a mãe de Lesly.

—Sandra minha querida! — diz dando beijinhos no rosto. — Como você cresceu. Que bom que venho.

—Obrigada pelo convite querida, mas parece que algumas pessoas não estão felizes que eu esteja aqui. — ela fala apontando para Daniela, Ronan e eu.

A expressão de alegria da mãe de Lesly muda para uma de nojo.

—Aproveite a festa querida, deixe que eu resolvo.

Sandra e seu bando saem pelo salão. A mãe de Lesly coloca as mãos pela cintura e olha séria para nós.

—Quem vocês acham que são para querer expulsar uma convidada minha?

—Dona Marília, essa menina detesta Lesly. Não é certo ela vir para a festa. Se Lesly saber que Sandra está aqui ela pode..

—Não é da sua conta Daniela! — ela diz alto. — Sandra é uma garota fina e de família nobre, diferente de você. E vocês dois — ela fala agora apontando para Ronan e eu. — Não me lembro de seus nomes na lista de convidados.

—Eu recebi o convite. — digo.

—Não me responda garoto. — ela continua.

—Calma Breno, não vamos discutir. Se não somos bem-vindos nessa festinha vamos embora. — Ronan diz.

—Festinha? Vão embora daqui!

—Não faça questão madame. Vamos Breno.

—Mas a Lesly.. — tento me defender.

—Deixe minha filha em paz, conheço de longe a suas intenções com Lesly. Mas acorde para a vida real. Nunca terei um deficiente na família!

Ronan me tira rápido do salão e é seguido por Daniela que corre com as mãos no rosto.

Passamos por três quarteirões até Ronan parar com minha cadeira e Daniela desabar na calçada.

—Não acredito que ela fez isso. — Daniela diz.

—Está tudo bem Breno? — Ronan me pergunta aparentemente preocupado.

Não falo nada. Não tenho forças para falar. Não existe palavras para mim.