Breno

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Lesly e eu fomos em direção ao parque principal da cidade. Passamos por várias barracas e chegamos na área de piqueniques. Havia várias mesas vazias, ficamos na mais distante de todas, em um local mais sossegado. Lesly tirou a lista de exercícios da bolsa, enquanto nos aconchegávamos no novo ambiente. O parque de Fishers, era conhecido pela bela e livre areá verde que tinha. Muitas pessoas se juntavam ali, para piqueniques ou para admirar o crepúsculo.

—Qual nosso próximo tema? — perguntei.

—Raízes Complexas de Um Polinômio. — ela leu.

—Fácil. — peguei a lista de suas mãos e li o que pedia o primeiro exercício.

Lesly se debruçou na mesa e ficou olhando para as poucas famílias que estavam no parque. Lesly parecia cansada.

— Tudo bem? — perguntei e ela apenas assentiu positivamente com a cabeça. —Não parece. Quer conversar? — assentiu negativamente dessa vez. —OK. Vou estar aqui quietinho resolvendo os exercícios. Resolvi alguns exercícios, até que vi que Lesly olhava para uma pequena família no lado Leste. Parei de ler e acompanhei Lesly na observação. Era um casal com apenas uma garotinha, mas parecia que era apenas por enquanto. A barriga da moça, mostrava que em breve a pequena garotinha teria companhia.

  —Eles parecem felizes. — falei e vi Lesly levantar o rosto para me olhar. 

 —Estou tentando imaginar, se alguma vez a minha mãe já cogitou a ideia de ter mais filhos e como seria isso. — ela falou olhando ainda para a família. Segui seus olhos verdes.

  —E você consegue?— perguntei.

  —Não.

Em um gesto comovente, a possível mãe da garotinha se deitou e a pequena lhe deu um beijo na barriga e logo colocou as mãos sob. A percepção de que ali teria uma nova vida em breve, mexeu um pouco comigo. Me virei para ver Lesly e vi um sorriso em seus lábios. 

 —Gostaria que meus pais fossem assim. — ela murmurou.

—Pelo menos eles estão vivos — falei sem pensar e vi que Lesly se virou para me encarar. Desviei o olhar de qualquer maneira possível, me concentrando na mais mísera folha.

—Breno?— Lesly disse. —O que aconteceu com o seus pais?

Meus pais. Esse era um assunto que eu não tocava com ninguém. Não gostava de me lembrar do acidente, do carro, de tudo.

—Eles faleceram em um acidente e eu fiquei com a cadeira de rodas. — senti minha voz falhar aos poucos.

—Sinto muito.  

—Eu também. — peguei o lápis e continuei resolvendo os exercícios sem falar mais nada. Percebi que ela ainda me olhava, mas logo depois deitou a cabeça sobre os braços e voltou a observar a família.

Horas depois já estava ficando noite e estávamos saindo do parque, quando vimos a mesma que família que brincava antes indo pela beira do estacionamento.

—Mamãe, eu não quero ir para casa. Quero ficar pra ver o eclipse. — disse a garotinha. O pai balançava as mãos dela para frente e para trás. 

—Não querida, precisamos ir. — a moça falou.

—Eu queria ver. — agora em vez de um pedido, parecia um resmungo. Lesly riu discretamente enquanto empurrava a minha cadeira.

O pai da garota a pegou no colo e colocou em suas costas. Ela parecia estar se divertindo com toda aquela situação.

—Que tal se antes de ir para casa passássemos na sorveteria?

—Sorvete! Eu quero. — a menininha gritou e o pai saiu correndo com a ela sobre as costas, enquanto a mãe foi logo atrás, sorrindo.

—Eclipse. — disse Lesly no caminho pra minha casa. — Gostaria de ver também.

Pensei rápido e falei.

—A gente podia ver junto, se você quiser claro. — senti o vento fazendo meu cabelo cair sobre meu rosto.

—Mas vai ser à meia-noite.

—Podíamos dar uma de espiões igual você quando invadiu meu quarto.  — falei sorrindo.

Lesly riu.

—Mas como você vai passar pela janela? Eu sou a espiã. 

—Eu tenho uma ideia.

Tínhamos chegado já minha casa.

—Onze e meia te encontro?

—Onze e meia! — ela falou sorrindo.

                          

                                                                                        

                                                                                      ****


Eu estava nervoso. Lesly e eu ficaríamos juntos em um lugar sem ser para estudar e o melhor, eu que tinha tomado iniciativa o que é uma coisa rara. Eu não tinha um plano de fuga, mas eu precisava sair de casa. Decidi que iria ficar na sala, assim quando meus tios fossem dormir daria uma de Jet Li. Coloquei um filme e fiquei tranquilo na sala, olhando o relógio de minuto á minuto.

—Breno? É tarde. Vai dormir. — falou Tio Luís já de pijama saindo do seu quarto.

—O filme já está terminando. — respondi inocente. Eu nem sabia o nome do filme.

—Que filme é?

Pronto. Meu plano tinha sido arruinado. Meu tio se sentou ao meu lado e ficamos os dois olhando para a tela de televisão tentando entender porquê um garoto estava entrando em um carro que o levava pro futuro. Olhei no relógio já estava quase na hora. Faltava poucos minutos para Lesly chegar.

—Tio? Amanhã você não vai trabalhar? — perguntei na fase número dois da inocência.

—Vou sim, por quê?

—O senhor parece cansado, devia dormir cedo.

—E amanhã, você tem aula. Também deveria estar na cama. — Desviei o olhar para o chão. —Sabe Breno, já tive sua idade. Quando um adolescente fica fazendo hora à noite só tem duas opções. Ou ele está realmente assistindo alguma coisa legal na TV, o que não é seu caso porque esse filme é uma porcaria, ou ele está esperando alguém para dar uma saidinha rápida.

Olhei surpreso para meu tio que parecia tranquilo. Meu celular vibrou. Havia chegado a hora.

—Vai lá Breno. Sua garota chegou.

Amor Sobre RodasOnde histórias criam vida. Descubra agora