Nem precisei entrar pela janela de Breno. Assim que mandei a mensagem avisando que estava em frente sua casa, ele saiu pela porta da frente, parecia confuso.
—Me fala, — comecei o assunto — como você saiu de casa sem que seus tios vissem?
—Digamos que tenho meus truques — Breno agora parecia animado. — E você como saiu de casa?
—Ah, se você não conta seus truques eu também não conto. Vamos, vai começar daqui à pouco.
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Fomos para o parque e estava vazio. Breno sugeriu a parte sem árvores do parque assim iríamos ver melhor o eclipse. A parte de trás do parque era mais calma e havia um enorme lago em sua frente e um gramado verdinho. Ali estava perfeito. Me sentei na grama e olhei para o céu. Desviei o olhar para Breno e ele parecia desconfortável de estar na cadeira, enquanto eu ficava na grama.
—Quer sentar do meu lado? — perguntei, mas ele não respondeu e levantei da grama. Passei a mão por debaixo de seus ombros. —Segure meus braços. Assim te coloco na grama.
De primeiro momento ele parecia exitar, mas logo cedeu e segurou meus braços. Coloquei ele sobre a grama com cuidado e ele se deitou. Me deitei ao seu lado ficamos olhando para o céu sem dizer nada. Logo magia começou. A Lua estava mais que esplêndida.
—Isso é a coisa mais linda que eu já vi. — disse admirada.
—Existe algo mais bonito que o eclipse. — Breno disse se virando para mim.
—O quê?
Ele ficou vermelho e continuou olhando o eclipse me deixando sem resposta. Olhei para o céu novamente. A Lua parecia que estava tão próxima de mim.
—Você sabia que esse eclipse só irá acontecer de novo daqui à 30 anos? — Breno falou minutos depois.
—Puxa! — exclamei surpresa. Eu realmente não sabia disso.
—É um evento raro. Principalmente esse que é chamado de "Super Lua", veja — ele disse apontando para a Lua que estava enorme. — Ela está maior a cada minuto.
—Daqui à 30 anos podemos ver juntos novamente. — falei sorrindo.
—Combinado. — ele disse me olhando.
Durante muitos minutos ficamos quietos, sem trocar uma palavras. Isso não era mais algo constrangedor, pois eu gostava do silêncio do Breno. Mas logo, decidi que seria o momento certo para conhecê-lo mais, afinal, ele era um garoto bem legal.
—Posso te fazer uma pergunta? — falei me sentando na grama, enquanto ele continuava deitado.
—Claro.
—Como você...
—Como eu fiquei sem andar? — ele disse me cortando e apenas assenti positivamente com a cabeça. Breno suspirou e continuou sem tirar os olhos da Lua.
—Foi no mesmo acidente dos meus pais. Eles morreram e eu fiquei sem andar — ele parecia que não tocava no assunto há anos. Sua voz falhava a cada palavra. — As vezes eu sinto que tudo teria sido menos dolorido se eu tivesse falecido com eles.
—Não fale isso. — falei arrependida de ter tocado no assunto. Lágrimas pareciam querer se formar nos olhos de Breno. —Breno, se você está aqui hoje é porque te deram uma segunda chance para recomeçar. Nunca diga isso. Você tem seus tios. Pode não ser a família perfeita, mas você os tem.
—Você mesma reclamou hoje que queria que seus pais fossem diferentes, por que não posso desejar os meus também? — ele falou sem olhar para mim. Parecia que eu havia levado um tapa no rosto. Breno me deixou sem palavras. Eu era egoísta por reclamar dos meus pais, enquanto Breno queria os dele de volta.
—Eu sou egoísta. — falei me deitando na grama novamente.
—Eu também me sinto às vezes.
Naquele momento a Lua parecia maior que antes. Breno e eu olhávamos para a mesma direção e juntos nossas mãos se juntaram. Eu só fui perceber depois, pois sua mão era fria, mas aconchegante. Sabíamos naquele momento, o que o outro sentia em relação à sua vida.
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Amor Sobre Rodas
RomantiekBreno fez fórmulas, resolveu equações e tentou telefonar para o além do túmulo de Albert Einstein, mas não conseguiu entender. Lesly fez rascunhos em guardanapos, comprou a última versão da gramática e releu os clássicos, mas também não conseguiu en...