Lesly

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— Filha, as meninas chegaram! — era mamãe gritando no andar de baixo.

— Já estou indo! — respondi e me voltei para o espelho onde terminava de enrolar os cabelos. Decidi não ir extravagante no primeiro dia de aula, já que ser notada não era o que eu queria. Cobri cautelosamente as olheiras que havia ganhado nas férias de tantas horas sem dormir, peguei minha mochila e desci.

Saí de casa e vi as TDMS juntas, ou para os menos atualizados nesse grupinho imbecil que elas criaram, estava Tiffany, Daniela, Marina e Sandra em frente a um carro preto enorme. Uma imitação fajuta de Mean Girls.

— Lesly! — todas gritaram em coro e vieram me receber com um caloroso abraço. As bolsas prada e os batons bem vermelhos foram as únicas coisas que consegui distinguir.

—Oi, garotas. — falei com um sorriso. Observei elas. Se eu queria parecer menos extravagante com minha calça jeans básica, elas queriam chegar chamando atenção de quem fosse possível com seus vestidos e acessórios derivados.

— Gostou do meu novo carro? — Sandra pergunta com animação — Meu pai que me deu.

— É lindo! — digo analisando o carro. — Deve ter custado uma fortuna.

Sandra sorri satisfeita e abre a porta do motorista.

— Vamos meninas ou iremos chegar atrasadas. — diz colocando um óculos de sol e fechando a porta do carro sem se importar com o impacto. Tiffany, Marina, Daniela e eu seguimos ela e nos aconchegamos no estofado de couro do carro. Parecia uma mini limusine com ar-condicionado e rádio.

— Então como foi as férias, Lesly? — perguntou Marina, e eu não conseguia tirar os olhos do cabelo vermelho volumoso que ela havia adquirido nas férias. — Você sumiu.

— Não fiz nada demais. Apenas estudei. — falei sincera e logo Sandra abaixou o retrovisor para me encarar.

— E namorar muito com o gato do Hugo, correto? — ela disse com um olhar maldoso, que eu desviei na hora.

Todas elas caíram na risada, enquanto eu fiquei meio sem graça, mas mesmo assim continuei sorrindo, afinal elas eram minhas amigas.

— É. Talvez. — respondi finalmente.

Sandra dirigia rápido. Encarava as lombadas da estrada como obstáculos a serem enfrentados. Vi quando passou bem perto de um cadeirante e de um garoto moreno que andavam em fila indiana próximo da calçada.

Ela buzinou e abriu a janela do motorista.

— Saía do meio da rua, seus idiotas! — Ela gritou e acelerou sem olhar para trás.

— Que folgados! — falou Daniela.

— Eles não são aqueles esquisitos que estudam na nossa escola? — perguntou Tiffany.

— Seja quem for são dois idiotas e folgados. — disse Sandra irritada.

— O garoto era cadeirante e tinha um poste no meio da calçada. Talvez ele teve apenas que desviar e andar pela rua, aliás todo mundo sabe que as calçadas de Fishers, não estão apropriadas para deficientes. — respondi de modo automático.

Todas as garotas me olharam como se eu estivesse ficando maluca.

— Ficou louca, Lesly? Acho que você estudou demais nas férias e isso desfigurou seu cérebro. — Sandra tinha a voz muito irritada. — Dava muito bem para aqueles idiotas andarem na calçada e não atrapalharem minha passagem. — Olhei chocada para Sandra, porém ela continuou: — E já que você sentiu tanta pena dele, da próxima vez venha para escola arrastado o deficiente e sua cadeira de rodas, ou melhor coloque a cadeira de rodas nas costas e leve ele por todo o caminho.

Gostaria de xingar Sandra. Dizer que ela não podia falar de alguém que ela não conhecia e que não estava entendendo sua irritação, mas fiquei igual Tiffany, Daniela e Marina. Não disse absolutamente nada.

Amor Sobre RodasOnde histórias criam vida. Descubra agora