Breno

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—Vamos Breno! — pediu Tia Veronica pela décima vez só naquele dia. Era meu primeiro dia de aula. Era a primeira vez que eu iria para a escola depois do acidente que me deixou na cadeira de rodas.

—Tia! Você não precisa me levar. Eu posso ir sozinho. — pedi. Tinha apenas 9 anos de idade.

—Você não vai sozinho! Agora vamos, senão chegaremos atrasados.

—Não. — protestei e coloquei todo o meu peso na cadeira emburrado.

—Bom dia — falou um garotinho franzido, magro, moreno e alto para a idade. Ele admirava minha cadeira de rodas como se fosse ouro. — Será que posso tocar em sua cadeira?

—Quem é você garoto? — perguntou Tia Veronica.

—Me chamo Ronan. Moro a três quarteirões daqui — O garoto se aproximou com as mãos já estendidas. — Posso tocar?

Assenti positivamente e o garoto sorriu. Tocou levemente pelas as rodas da minha cadeira e por todo o resto. Parecia que estava tocando algo tão precioso por tanta delicadeza.

Uau! suspirou.— É igual a do
Professor Xavier.

—Quem? — Tia Veronica perguntou com as sobrancelhas franzidas.

—É de um desenho — falei. — Você gosta?

—Eu sou super fã. — Ronan falou mostrando a camisa que vestia. Com uma grande imagem do Professor Xavier de estampa.

—Legal!

—Bom, precisamos ir agora Breno ou você vai se atrasar para a aula. — Tia Veronica falou indo para trás da minha cadeira.

—Não!—  protestei decidido novamente.

—Vocês estão indo para a "República Mendes I"? — Ronan perguntou.

—Estamos, mas parece que Breno não quer a companhia de sua tia e ele não vai sozinho.

—Bem, eu estudo lá — Ronan falou animado. — Ele pode vir comigo se quiser.

Tia Veronica me olhou como se esperasse uma resposta rápida. Não podendo exitar aceitei o convite e Ronan e eu partimos para o primeiro dia de aula.
Não era tão longe que eu não pudesse ir sozinho, mas a companhia de Ronan era agradável até mesmo quando ele tentava fazer piadas.

—Ronan, você não acha estranho eu estar em uma cadeira de rodas?— perguntei já perto da escola.

—Não.

—Porquê?

—Porque você é igual ao meu herói. — Ronan falou finalmente apontando para a camiseta.

****

—Passem todos os trabalhos para frente.— Pediu o professor Henrique no dia da entrega dos trabalhos.

Eu havia passado três madrugadas seguintes para concluir a caderneta de 67 exercícios diversos e complicados. Mesmo amando matemática, aquele trabalho havia me deixado desgastado e eu só queria um lugar confortável para dormir pelas próximas 48 horas. Era o tempo até o baile.

—Vejo que alguns alunos não conseguiram concluir o trabalho por inteiro não é senhor Ronan?

O rosto moreno de Ronan se corou assim que o professor falou. Ele como metade da sala não conseguiu concluir o prazo estabelecido pelo professor depois de suas alterações, já que era para ser um trabalho em dupla.

Amor Sobre RodasOnde histórias criam vida. Descubra agora