A escola estava tomada com cartazes de divulgação para rei e rainha do baile de formatura que seria daqui a três meses. Eu nunca entendi o porquê daquela coroa ser tão importante. É apenas uma coroa de plástico que simboliza o título da nobreza por uma única noite.
—Ouvi falar que eles usam a coroa dos anos anteriores para cortar custos. — Ronan falou durante o intervalo.
—Com certeza a Sandra vai ganhar. Ela vai subornar todos — disse Daniela — Ano passado ela ganhou porque me fez mudar os votos de todos.
—É só uma coroa. — falei sincero.
—Para você pode, mas pra maioria das pessoas dessa escola, a coroa é a porta para a popularidade — Daniela falou se levantando da mesa e dando um beijo na testa de Ronan. — Preciso ir, minha próxima aula é da megera Dona McFly.
Daniela se afastou de nós e Ronan e eu ficamos sozinhos. O que não acontecia a muito tempo, já que sempre Daniela estava ao lado ou Lesly.
—Então, como foi passar 24 horas sem energia? — Ronan perguntou analisando a barrinha de cereal que Daniela havia deixado na mesa.
—Me senti naqueles filmes de terror que não existe dia, apenas noite.
—Parece que foi no bairro todo. Vi milhares reportagens que esse apagão vai começar a ser frequente.
—Você lendo jornais? — perguntei sarcástico. — Você não lê nem os emails que te mando.
—Como você é antiquado. Quem ainda manda emails nos dias de hoje? — Ronan falou jogando a barrinha de cereal na minha bandeja. — Como está Lesly?
—Bem.
—Fala sério. Eu quis dizer: como você e ela estão? Já pediu ela em namoro?
—Mas o quê? — falei — Eu não vou pedir assim do nada. Nem sei se ela realmente gosta de mim.
—Vamos apostar — Olhei confuso para Ronan, que de uma risada e continuou — No dia do baile de formatura você vai pedi-lá em namoro.
Ronan estendeu a mão como prova do acordo. Por que esperar até o baile se eu podia pedir agora? Eu a amava. Mas teria que esperar até ver que ela também sentia o mesmo. Estendi a mão enfim para finalizar a conversa.
—Estamos apostados.
****
—Calcular expressões envolvendo as operações com números complexos na forma algébrica. — li na caderneta de exercícios.
Lesly e eu estávamos na capela. Combinamos que durante as próximas duas semanas iríamos estudar e terminar a caderneta de exercícios. Não havíamos feito nenhum ainda e Lesly estava mais desanimada do que antes.
—Eu odeio matemática. — Lesly murmurou.
—Mas tem letras nesse exercício. Álgebra liga letras e números. Liga eu e você. — falei e consegui arrancar um meio sorriso dela.
—É tão engraçado essa sua forma de conseguir ser romântico em todas as horas.
—Eu? Romântico? — falei rindo.
Lesly riu e rascunhou algo em seu caderno, que logo notei que era o caderno que eu havia dado no dia do seu aniversário. Tentei me concentrar na caderneta de exercícios mas era difícil vê-la escrever tão concentrada.
Dei um sorriso involuntário que foi notado por Lesly.—Que foi? — ela perguntou.
—É interessante te ver escrevendo, assim, concentrada.
Lesly fechou o caderno e vi seu rosto ficar corado, como se eu acabasse de ter visto ela cometendo um crime. Lesly pegou a caderneta da minha mão.
—Acho que é a minha vez de resolver alguns cálculos.
—Vai em frente garota das letras. —sorri.
Vi as suas sobrancelhas franzidas e a boca se movendo lentamente. Lesly não estava entendendo absolutamente nada, mas com um gesto involuntário ela pegou o lápis que resolveu uma das contas. Tentei ver o que ela escrevia mas foi em vão.
—Então Lesly — falei decidido a começar um assunto — Você vai ao baile de formatura?
—Eu não sei. Na verdade estou achando melhor eu não ir.
—Mas é para a formatura. Você não terá outra chance. — Falei propenso a convencê-la a ir.
Eu queria que ela fosse. Queria ter um motivo para vestir um smoking e levar um pequeno buquê para sua casa. Eu queria que ela fosse comigo.
Eu queria tê-la comigo como no dia de sua festa, sim... Eu queria perguntar se ela me amava.—Vou pensar á respeito. — Lesly falou finalmente e juntos terminamos a primeira caderneta de trinta exercícios que ainda viriam.
A minha rotina havia virado: Acordar, Escola, Capela, Estudo, Casa e Dormir. Eu estava gostando dela assim. Eu via Lesly todos os dias e durante o caminho para a capela sempre cantávamos alguma das nossas músicas favoritas. Lesly e eu tínhamos quase o mesmo gosto musical o que facilitava na escolha da música.
—Quando você vem lutando por isso a vida toda. Você vem se esforçando para fazer as coisas certas. É assim que um super herói aprende a voar. — Lesly cantou afinada durante o caminho de volta para casa.
—A cada dia, a cada hora. Transforme a dor em energia. — cantei acompanhando.
—Ela tem leão em seu coração. Um incêndio em sua alma. Ele tem um besta na sua barriga. Isso é tão difícil de controlar. Porque eles já foram golpeados muitas vezes. — cantamos juntos e Lesly estacionou finalmente em frente a minha casa.
Íamos estudar com o carro de tio Luís e depois Lesly ia pegar o dela que ficava estacionado na nossa garagem.
—Te vejo amanhã? — perguntei sabendo que a resposta seria sim.
—Claro! — Lesly falou sorrindo. —Aliás esqueci de te avisar. Amanhã Ronan, Daniela e eu vamos comemorar o aniversário de Dani em um restaurante aqui da cidade, ela pediu para te convidar. Vai ser um jantar à luz de velas. — Lesly corou quando completou a frase.
—Claro que vou.
—Legal, vamos vir te buscar às 7.
Sorri enquanto Lesly partia para sua casa.
****
Minha mochila estava uma bagunça. Depois de um bom banho e de colocar uma roupa totalmente folgada e confortável, decidi arruma-la.
Encontrei lápis de escrever que eu nem sabia que tinha, livros do Julio Verne que eu sempre levava comigo para onde fosse, papel de bala e de outros docinhos, fone de ouvido quebrado, um dos bonequinhos colecionáveis de super-heróis de Ronan, canetas de cores diversas e várias outras coisas inúteis que deviam estar no lixo. Tirei também um caderno de capa dura. Logo reconheci, era o livro de anotações pessoais da Lesly. Estava com vários marcadores coloridos e parecia cheio. Como se ela tivesse colado imagens trazendo volume para o pequeno caderno.Me tentei em não ler. Queria saber se Lesly já havia escrito algo sobre mim. Como naqueles diários das garotas de filmes, onde a menina escreve maravilhas sobre o que ela sente por determinada pessoa. Me recusei em ler e guardei novamente na bolsa com a decisão de entregar para Lesly no dia seguinte.
Eu queria que ela confiasse em mim e sabia que se eu lesse, Lesly não iria gostar nem um pouco. Era algo pessoal dela. Apenas dela e demais ninguém.
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Amor Sobre Rodas
Storie d'amoreBreno fez fórmulas, resolveu equações e tentou telefonar para o além do túmulo de Albert Einstein, mas não conseguiu entender. Lesly fez rascunhos em guardanapos, comprou a última versão da gramática e releu os clássicos, mas também não conseguiu en...