Havia três caras na minha frente e de Ronan mais dois. Hugo estava no meio deles, como se fosse o líder daquela alcatéia toda. O lobo principal.
—O que eu disse? — disse entre um sussurro para Ronan. Havíamos acabado de sair do colégio, quando fomos cercado por eles. Não havia pra onde correr.
Ronan apenas assentiu com a cabeça e continuou olhando para Hugo.
—Sabe, eu tenho dó de vocês dois. — Hugo falou andando para mais próximo de nós. —principalmente de você Breno. Coitado. Sem poder andar, sem pais. Um fracasso total.
Senti meu punho coçar e uma vontade incontrolável de acabar com o rosto de Hugo. Eu estava cansado de aguentar calado. Ele mexeu com meu ponto fraco: meus pais.
—Não fala deles. — murmurei tentando me controlar.
—Você vai fazer o quê? — Hugo estava na minha frente me encarava com um sorriso debochado. Não aguentei e acabei dando um soco certeiro no olho dele. Ele cambaleou para trás. Seus amigos vieram para cima de mim, mas Ronan me defendeu.
—VOU ACABAR COM VOCÊ. — Hugo gritou e veio para cima de mim. Acabei caindo no chão.
—BRENO! — gritou Ronan. — DEIXA ELE EM PAZ. FUI EU QUE COMECEI TUDO. BATA EM MIM, NÃO NELE.
Hugo não ligou, mas em vez de vir para cima de mim, pegou minha cadeira de rodas e a quebrou com ajuda dos amigos. Ronan tentou impedir, mas levou um chute de Hugo. Eles quebraram minha cadeira de rodas, quebraram assim minhas pernas. Fechei meus olhos e a escuridão virou minha nova amiga.
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—ELES FIZERAM O QUÊ? — gritou meu tio, quando chegamos em casa. Ronan acabou me levando praticamente nas costas para casa. Estávamos com os rostos machucados e não houve outra opção em vez de contar a verdade para meus tios.
—Isso que o senhor ouviu, tio. Minha cadeira de rodas já era. — falei com dificuldade, pois tia Veronica pressionava um gelo sobre minha boca machucada.
—Vou ligar para a polícia agora. — ela disse se levantando do sofá e indo em direção ao telefone.
—Acho que não vai adiantar muito — falou Ronan, que também estava com um saco de gelo só que dessa vez na cabeça. — O pai de Hugo trabalha como delegado. Não iria dar muito certo. Certamente que ele iria encobrir o filho delinquente.
Minha tia colocou o telefone no lugar e veio para perto de mim me abraçar.
—O que você falou para eles fazerem isso com vocês? — perguntou ela enquanto passava a mão por meus cabelos. Já ia dizer quando Ronan me cortou.
—A culpa é minha. Fui eu que enfrentei Hugo. Deveria ter apanhado sozinho.
—Não é verdade, fui eu que dei um soco em Hugo. Você não estava sozinho. — falei e senti o abraço confortável de tia Veronica.
—Mas por que você bateu no menino, Breno? — perguntou Tio Luis que estava mais preocupado do que aparentava. Eu reconhecia seu semblante.
—Ele mexeu no meu ponto fraco. — Não precisei dizer mais nada, meus tios já tinham entendido. Tio Luís se sentou ao lado de Ronan.
—Obrigado por ajudar nosso garoto. — ele disse sorrindo para Ronan.
—Não fiz nada demais. Se ele apanha, eu apanho também.
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Quando Ronan foi embora, meu tio me ajudou a ir para o quarto. Agora sem a cadeira de rodas tudo ficaria mais complicado. Fiquei deitado, mas não consegui dormir. Do meu quarto ouvi o choro baixinho da tia Veronica e o tio Luís falando com ela.
—O que vamos fazer? — perguntou tia Veronica - Como vamos arranjar outra cadeira de rodas?
—Não sei. Elas não são muito baratas.
—Ele precisa da cadeira para viver também. — ouvi a voz de tia Veronica ficar cada vez mais fraca.
—Vamos usar o dinheiro que o os pais deles deixaram. — meu estômago se revirou. E nosso projeto para tio Luís?
—E a mecânica? — perguntou Tia Veronica.
—Querida, prefiro ter que trabalhar igual um escravo do que ver nosso garoto deitado sem poder se mexer em uma cama.
Isso acabou comigo e senti lágrimas escorrendo meu rosto. Chorei até adormecer.
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Amor Sobre Rodas
RomanceBreno fez fórmulas, resolveu equações e tentou telefonar para o além do túmulo de Albert Einstein, mas não conseguiu entender. Lesly fez rascunhos em guardanapos, comprou a última versão da gramática e releu os clássicos, mas também não conseguiu en...