Decidi que o encontro com Lesly seria mantido em segredo. Não contaria até mesmo para Ronan. Na escola minha primeira aula era de exercícios, ou seja ficaria sozinho sem fazer nada por 60 longos minutos. Fui no meu armário deixar alguns livros para me preparar para a aula, quando vi uma folha com letras de revistas e livros cortadas que formavam uma frase que aparentemente levava as palavras ''cadeirante''- ''inútil'' e ''desgosto''. Rasguei o papel e joguei na lixeira mais próxima. Já desconfiava de quem poderia ter escrito aquilo.
Vi Hugo e seus amigos indo em direção ao vestiário, esperei eles passarem pela porta e fui atrás. O esporte da vez era basquete, o treinador Yan, um japonês que vivia com um apito no pescoço, pediu para formamos times, pois esse ano nossa escola iria participar de uma competição extraescolar. Hugo como era capitão do time, teria que escolher o time principal.
—Escolho os gêmeos Ansel.— ele disse. —Você atrás dos gêmeos também.
O time estava quase completo faltava apenas 1 membro para fechar. Hugo percorria o olhar para cada um e isso fazia todos ficarem eufóricos. Ele olhou para Taylor Cook, um dos melhores atletas da escola, mas logo desviou e seu olhar veio certeiro para mim.
—Escolho o Breno. — Hugo disse com um sorriso no rosto.
—O quê? — gritou um do seus amigos. —Ele não sabe e não pode jogar, olhe pra ele.
—Calminha, Breninho deve ser um ótimo jogador só que não prática. Já vi vários jogadores de basquete que usam cadeira de rodas, e afinal, ele pode ser nosso mascote. — Hugo se aproximou de mim. — Como pedido de desculpas quero você no nosso time.
Não falei nada e ele ficou me encarando por minutos.
—Time formado? Ótimo. — o professor Yan, disse entrando no meio da nova equipe de basquete. — O nosso primeiro jogo é na primeira semana do mês que vem, por isso vamos treinar em todas as aulas. Estão dispensados.
—Espera aí vocês,— falou Hugo para o restante do time — Treino hoje lá em casa depois da aula. Quero todo mundo lá. — ele se virou e olhou fixamente para mim — Inclusive você.
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—Você não vai. — falou Ronan no almoço.
—Tenho que ir ou ele vai me chamar de covarde.
—Breno, da última vez que você quis dar uma de corajoso, sua cadeira foi quebrada. Será que você não aprende? — Ronan parecia nervoso e jogou a barrinha de cereal que eu havia trazido no meu rosto.
—Eu sei, mas eu preciso ir. Não tenho medo dele.
Ronan se levantou da mesa.
—Onde você vai? — perguntei.
—Pra quem você quer provar que é corajoso? Você não precisa. — algumas pessoas do refeitório observavam tudo entre sussurros e risadinhas abafadas.
—Olhe pra mim! Preciso provar que não sou um pobre coitado.
—Pra mim você nunca foi.
Ronan saiu e fiquei sozinho. Afastei a bandeja com lanche. Havia perdido o apetite.
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Amor Sobre Rodas
RomanceBreno fez fórmulas, resolveu equações e tentou telefonar para o além do túmulo de Albert Einstein, mas não conseguiu entender. Lesly fez rascunhos em guardanapos, comprou a última versão da gramática e releu os clássicos, mas também não conseguiu en...