Dizem que o melhor caminho para o descanso e descobrimento interno é a morte. Já estive em frente a ela duas vezes, e por alguma razão do destino ela nunca me levou, mas levou coisas que eu amava e que me destruíram. Meus pais, minhas pernas e Lesly. Quando meus pais morreram eu havia sentido que o mundo estava contra mim, que a vida me odiava e que eu tinha algum tipo de praga que impedia o surgimento da felicidade, o tempo passou e isso foi comprovado.
Eu podia ser feliz por oito minutos mas a infelicidade sempre estava ali no intervalo desses oito minutos.
Porque meus sonhos chegavam devagar e se vão muito rápido, em um piscar de olhos.Eu não queria aceitar no que havia acontecido, eu queria parar o tempo e tê-la comigo, por uma noite, por uma hora ou que fosse por um segundo. Eu só queria senti la ao meu lado por uma última vez.
Se eu tivesse a oportunidade de escolher entre andar ou vê-la por uma última vez, eu escolheria vê-la. Quando estava com Lesly eu não precisava de nada, ela me fazia flutuar.
Não abri meus olhos porque eu sabia que não a veria mais, eu não a tocaria mais, eu não viajaria pelo seus olhos verdes.A razão que a despedida dói tanto é que nossas almas estão ligadas. Sempre quando olhava para Lesly era como estar meu próprio corpo, ela me fazia bem, tão bem. Talvez nossas almas sempre tenham sido e sempre serão ligadas uma a outra. Talvez nós tenhamos vivido mil vidas antes desta e em cada uma delas nós nos encontramos. E talvez a cada vez tenhamos sido forçados a nos separar pelos mesmos motivos: A morte.
Toda despedida é dolorosa, se você vai dar adeus para aquele parente querido que vai viver em outra cidade, se despedir da filha que vai mudar de casa para começar uma família ou se despedir dos amigos porque chegou a formatura, em todos os casos são tristes e difíceis de se encarar, porém, comigo a vida nunca me permitiu que eu desse um simples: "até logo".
Não calculei as horas que estava deitado naquela maca com os olhos fechados. Senti algo quente no meu rosto querendo me forçar a abrir as pálpebras e acordar para mundo, mas eu não queria. Eu não iria conseguir encarar. Senti uma mão macia e delicada passando pelos meus cabelos.
—Eu sei que está acordado, sabe por quê? — Era a voz de tia Veronica. Ela continuou massageando os meus cabelos e respondeu sua própria pergunta: — Você franzi a sobrancelha toda vez que ouve alguém entrando pela porta. Acorde Breno. Eu preciso de você, todos nós precisamos.
Meu rosto estava paralisado, apenas no transe com Lesly no pensamento. Porque ela tinha que ter tirado a minha cadeira de rodas no meio daquela rua? Se o destino queria me tirar dessa vida, ela não deveria ter impedido.—Eu sei que dói meu amor. Estamos todos destruídos. Lesly era uma garota, fantástica — Pensei em abrir a boca e falar que Lesly era muita mais que isso. Ela conseguiu me aquecer em um inverno infernal. — O motorista do caminhão foi preso por homicídio quando não há intensão de matar, ele tentou freiar e acendeu o farol no último segundo, enfim, essa é a justiça do nosso país.
Continuei com os olhos bem fechados e minha tia parou de massagear meus cabelos e segurou minha mão.—Lesly amou você tanto quanto você amou ela. Amor adolescente é algo muito suspeito e muitas vezes não é sincero mas vocês, me mostraram que o amor vem em toda a idade. Você precisa continuar, você precisa fazer isso por ela. Lesly era forte, você também precisa ser.
Não, eu não precisava. Não quero mais amar a ninguém, não fui feliz, o destino não quis. O meu primeiro amor, morreu como aquelas rosas vermelhas que pensei em te presentear, ainda jovem e sadia. Deixando espinhos, que dilaceram meu coração e me destruíram por completo.
Senti a mão de tia Veronica abandonado a minha e a entrada de outra pessoa no quarto. Houve uma leve batida na porta e outra pessoa se aproximando de mim. A pessoa ficou em silêncio por minutos e eu me recusei em abrir meus olhos para descobrir quem era. Pouco depois a pessoa falou e eu reconheci apenas pela primeira frase, era Ronan.
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Amor Sobre Rodas
RomanceBreno fez fórmulas, resolveu equações e tentou telefonar para o além do túmulo de Albert Einstein, mas não conseguiu entender. Lesly fez rascunhos em guardanapos, comprou a última versão da gramática e releu os clássicos, mas também não conseguiu en...