Foi manchete no jornal da escola e várias pessoas de Fishers começavam a comentar: Filho do delegado, agride deficiente físico sem motivos aparentes. O reinado de garoto bonzinho de Hugo havia se encerrado. Quando entrei na escola no dia seguinte ao ocorrido, percebi que era o assunto da vez. Todos queriam saber quem era o cadeirante. Imagino que a parte que eu entro e separava a briga havia sido cortada do vídeo.
Na aula de Ciências Humanas, Hugo parecia perturbado. Não falava com ninguém. Em um momento ele se virou para mim e me olhou como se eu fosse pior pessoa do mundo.
—Eu sei que foi você. — Sandra cochichou, ela estava sentada atrás de mim.
—O quê? — perguntei sem olhar para trás.
—Vi você espiando nas claraboias e sei que você que armou tudo para o Hugo. Sei de tudo. — sentia seu sorriso perturbador de longe.
—Se você sabia que eu faria algo, por que não tentou impedir?
—Porque queria acabar com Hugo e também com você. —ela disse e dessa vez me virei. Sandra estava com um sorriso malicioso no rosto.
-—Comigo? O que você quer dizer com isso?
—Quem você acha que tirou a escada?— ela sorriu e se aconchegou na cadeira. — Aliás, você sabia que se alguém acessa as configurações de um aparelho escolar, aparece registrado a hora e a data nos registros do diretor? Isso se chama segurança digital
Tentei me manter firme mesmo com ela sorrindo a todo momento para mim. Alguém bateu na porta da sala e tive que me virar para frente. Era o diretor da escola.
—Com licença, professor. Lesly Medley? —ele disse me fitando de longe. Seu rosto era sério.—Por favor, me acompanhe. Precisamos ter uma conversa sobre sua visita ao telhado da escola.
—Quando eu digo que passo por cima de todo mundo para ter o que quero, não estou brincando. — Sandra falou baixinho, enquanto me levantei e saí pela porta.
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—A senhorita não vai contar o que estava fazendo realmente lá em cima do telhado da escola? — o diretor falou sério. Estava na minha frente com um terno e cabelo impecável. Ele não iria esquecer tão rápido.
Não falei nada. Mordi meu lábios. Eu estava nervosa.
—Não vai falar? OK, vamos lá. — ele disse ligando algo no computador. — E que tal você me dizer sobre o que houve ontem no telão do ginásio? No momento não me importa o conteúdo, mas sim que um aluno invadiu dados escolares. Isso pode ser considerado um crime, sabia?
Seu rosto era frio e sem reação. Apenas assenti positivamente.
—Querida, temos testemunhas de pessoas que te viram andar pelos corredores da escola. Vai querer que eu de uma checada na câmera?
Pensei em Breno, Ronan e Daniela. Exatamente nessa ordem. A culpa de sermos pegos foi minha, não podia correr o risco de conferirem os registros da câmera que nos mostram andando pelos corredores com um notebook nas mãos. Não seria justo com eles.
—Fui eu.— falei com um suspiro. — Eu só queria mostrar pra todos quem Hugo é de verdade. Ele agrediu uma pessoa por nada.
Falei o mais sincera possível. Senti que no meu rosto começaria a brotar lágrimas.
Ele pegou alguns papéis. Parecia desapontado.—Eu até poderia te expulsar da escola nesse momento, mas vou te dar uma advertência. Quero que seus pais venham na escola ainda essa semana.
Fiquei calada enquanto ele escrevia algo em alguns documentos sobre sua mesa. Eu nunca tinha levado uma advertência ou coisa parecida. Minha mãe me mataria.
—Uma brincadeira tão infantil, Lesly.— ele falou finalmente.
—Desculpe, mas para mim, infantil é o que ele fez no vídeo.
Ele não me respondeu. Talvez não havia achado uma resposta.
O diretor me olhou do mesmo jeito que meu pai me olhava quando fazia algo de errado.—Está dispensada.
Me levantei, mas antes de sair me virei para o diretor.
—Desculpe, se fiz o senhor ter problemas com o maior delegado de Fishers. —falei tentando não fazer o sarcasmo aparecer na minha voz.
Dessa vez ele sorriu.
—Tudo bem, querida. Não suporto aquele senhor, mostrando o broche que ganhou de minuto à minuto.
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Fui em direção ao corredor dos armários. Daniela estava guardando seu material.
Me aproximei.—Que cara é essa?— ela me perguntou quando me aproximei.
—Por que você falou tudo pra Sandra sobre o plano? Confiamos em você. — gritei.
—O quê? Mas eu não falei nada.
Me encostei nos armários e respirei. Não era possível.
—Foi ela que tirou a escada para que eu não descesse do telhado. Ela sabia de tudo! — falei de olhos fechados.
—Eu juro. Não falei nada.— Daniela pegou as minhas mãos. Ela parecia sincera.
Sandra passou pelo corredor. Atrás dela estava Tiffany e Marina. Parou ao nosso lado, ainda com aquele sorriso no rosto.
—Como foi a conversa com o diretor?— me perguntou com ironia na voz.
— Como você sabia sobre o plano de se vingar de Hugo?— Daniela falou ficando de frente para Sandra. A própria deu um passo para atrás assustada.
—Você deveria bloquear seu celular quando estou do seu lado. Vi suas conversinhas com aquele menino estranho que anda com Breno. — ela disse com as mãos na cintura.
—Ronan. — falei.
—Trocou de lado fácil, Daniela. Deveria escolher melhor suas amizades. Ronan um pobre coitado, Lesly agora é uma fracassada e Breno... não preciso nem comentar. — Sandra disse e foi recebida com risadinhas de Tiffany e Marina.
—Acredite, Breno faz mais coisas que você não faz com as duas pernas. — falei alto.
—Pode até ser, mas eu posso usar minhas pernas. Já ele...
Tive uma vontade incontrolável de puxar os cabelos de Sandra, mas Daniela me puxou para longe. Ouvimos a risada de Sandra quando ela se virou e continuou a andar. Uma risada maldosa e irônica.
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Amor Sobre Rodas
RomantikBreno fez fórmulas, resolveu equações e tentou telefonar para o além do túmulo de Albert Einstein, mas não conseguiu entender. Lesly fez rascunhos em guardanapos, comprou a última versão da gramática e releu os clássicos, mas também não conseguiu en...