*+'As palavras de seu avô terminaram abruptamente, mas uma antiga dor voltou a se estabelecer no coração de Ivy. David. O homem com quem ela estava prestes a se casar havia quatro anos. Até o acidente de carro que o matou instantaneamente.
- Eu não pretendia levantar o assunto - disse Mike rapidamente. -- Mas dane-se: se David estivesse aqui, seria diferente, eu poderia ir embora sabendo que você estaria bem.
Ela forçou um sorriso e disse:
- Vovô, eu estou perfeitamente bem aqui e você bem sabe disso. Eu não sou uma flor frágil em uma estufa. Eu sou uma criadora de árvores.
- Não é o mesmo.
- Não - disse ela, pensativa. - Não é. Mas David se foi.
Ela lamentou a sua perda por um longo tempo, mas, como o próprio avô a lembrara diversas vezes, era preciso continuar e seguir em frente.
Além disso, ela não ficaria realmente sozinha quando Mike se mudasse. Não com dez empregados de meio expediente, pessoas constantemente entrando e saindo de sua casa e uma cidade inteira muito interessada na vida alheia. Ainda assim, pensou enquanto percebia a preocupação do avô, seria difícil não ter a família ao seu lado todo o tempo.
Muito em breve, ela voltaria para uma casa vazia ao fim do dia, com apenas as lembranças para lhe fazer companhia. Seu olhar varreu a sala, parando brevemente sobre os livros empilhados a esmo nas estantes e sobre as mesas. A lareira de pedra que Mike construíra quando ele e a avó dela se mudaram para aquela casa. Pisos de madeira gastos, paredes cor de pêssego e o aroma, sempre onipresente, dos pinheiros.
O coração de Ivy morava naquela casa velha. Naquela fazenda. Em cada árvore de sua área cultivada. E ela faria qualquer coisa para proteger cada muda que crescia lá fora.
- Ao menos me diga por que você acha que seu plano funcionará - disse Mike, chamando-lhe a atenção.
- Na verdade, foi ideia do advogado de King - disse ela. - O nome dele é Mitchell Tyler e ele foi muito gentil quando me ligou na semana passada. Você sabe, logo após o xerife Cooper vir até aqui por causa da última queixa.
- Sim, eu me lembro.
E, a julgar pelo seu olhar, a lembrança só alimentou as chamas de sua ira. Ouvir do xerife local que um recém-chegado na cidade está atrás de você não é algo que alguém queira ouvir.
- De qualquer forma, - disse ela, tentando distrair o avô - Mitchell explicou que precisava contratar uma governanta para a casa de Tanner e ele pensou que seria uma ótima forma de eu convencê-lo de que não sou sua inimiga. Ele acha que se nós simplesmente conhecêssemos um ao outro Tanner ficaria mais disposto a ouvir a razão.
- Tanner - debochou Mike. - Que tipo de nome é esse, afinal de contas? E Mitchell? Quem dá nome para essas pessoas?
- Eu gosto do nome Tanner - disse ela. - E masculino, forte e... - Ela se interrompeu ao ver as sobrancelhas erguidas do avô. - O ponto é que Mitchell está tentando convencer Tanner a relaxar e parar de fazer denúncias. Mas ele diz que, se eu puder cair em suas boas graças, talvez isso possa ajudar a situação.
- E como esse Mitchell ouviu falar de você?
- Você não lembra? Eu o conheci há alguns meses, quando ele esteve aqui para entregar os alvarás de construção e material para a equipe que reformou a casa da Sra. Mansfield.
- Harriet Mansfield. Essa era uma boa vizinha.
- Sim, mas ela se foi e Tanner está lá agora. Temos de o fazer gostar daqui, vovô, ou ele vai criar problemas para nós.
- Gostaria de vê-lo tentar - resmungou Mike.
- Bem, eu não - disse Ivy. - Ele é rico, poderoso e muito mal-humorado. Não é uma boa combinação para se ter em um inimigo.
- E você vai transformá-lo, certo?
- Eu vou tentar - disse Ivy.
- E se você fracassar?
- Eu não vou - insistiu ela. - Tanner não é um cara mau, vovô. Ele só é muito fechado. Eu vou abri-lo para o mundo.
Os olhos do avô se estreitaram.
- Você não está pensando em talvez...
- Talvez o quê?
- Você sabe. Você é jovem e bonita. Ele é jovem e rico.
- VOVÔ!
- Não seria a primeira vez que um homem rico e poderoso viraria cabeça de uma mulher.
- Eu não me importo com o dinheiro dele. E não estou atrás de romance. - Ela balançou a cabeça. - Eu já tive a minha chance de amor verdadeiro.
O avô riu.
- Você ainda é jovem, Ivy. Você amava David, eu sei. Mas espero sinceramente que essa não seja a última vez que você amará na vida. Haverá alguém para você ao longo da estrada. Só não o procure. De outro modo, você só encontrará decepção.
Ela corou um pouco, lembrando a sensação de calor inundando seu corpo que sentiu quando viu Tanner King pela primeira vez. Apenas um olhar e ela sentiu um frio no estômago e seus joelhos bambearam.
Mas Mike estava certo, disse para si mesma. Ser amiga de Tanner, introduzi-lo à vida de uma cidade pequena e com alguma sorte conseguir que se tomasse menos rabugento era uma coisa. Romance era algo totalmente diferente. Homens como ele não se dão com mulheres como ela. E, caso o fizessem, não seria para um compromisso de longo prazo.
- Juro - disse ela. - Eu não estou procurando nada com Tanner King a não ser um cessar-fogo.
Mike estudou-a por um longo minuto e, em seguida, afagou-lhe a face.
- Bem, então eu digo que Tanner King não tem a menor chance. Uma vez que Ivy Angel Holloway começa, não há poder na Terra para impedi-la.'+*