Capítulo 20

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*+'As palavras de seu avô terminaram abruptamente, mas uma antiga dor voltou a se estabelecer no coração de Ivy. David. O homem com quem ela estava prestes a se casar havia quatro anos. Até o acidente de carro que o matou instantaneamente.

- Eu não pretendia levantar o assunto - disse Mike rapidamente. -- Mas dane-se: se David estivesse aqui, seria diferente, eu poderia ir embora sabendo que você estaria bem.

Ela forçou um sorriso e disse:

- Vovô, eu estou perfeitamente bem aqui e você bem sabe disso. Eu não sou uma flor frágil em uma estufa. Eu sou uma criadora de árvores.

- Não é o mesmo.

- Não - disse ela, pensativa. - Não é. Mas David se foi.

Ela lamentou a sua perda por um longo tempo, mas, como o próprio avô a lembrara diversas vezes, era preciso continuar e seguir em frente.

Além disso, ela não ficaria realmente sozinha quando Mike se mudasse. Não com dez empregados de meio expediente, pessoas constantemente entrando e saindo de sua casa e uma cidade inteira muito interessada na vida alheia. Ainda assim, pensou enquanto percebia a preocupação do avô, seria difícil não ter a família ao seu lado todo o tempo.

Muito em breve, ela voltaria para uma casa vazia ao fim do dia, com apenas as lembranças para lhe fazer companhia. Seu olhar varreu a sala, parando brevemente sobre os livros empilhados a esmo nas estantes e sobre as mesas. A lareira de pedra que Mike construíra quando ele e a avó dela se mudaram para aquela casa. Pisos de madeira gastos, paredes cor de pêssego e o aroma, sempre onipresente, dos pinheiros.

O coração de Ivy morava naquela casa velha. Naquela fazenda. Em cada árvore de sua área cultivada. E ela faria qualquer coisa para proteger cada muda que crescia lá fora.

- Ao menos me diga por que você acha que seu plano funcionará - disse Mike, chamando-lhe a atenção.

- Na verdade, foi ideia do advogado de King - disse ela. - O nome dele é Mitchell Tyler e ele foi muito gentil quando me ligou na semana passada. Você sabe, logo após o xerife Cooper vir até aqui por causa da última queixa.

- Sim, eu me lembro.

E, a julgar pelo seu olhar, a lembrança só alimentou as chamas de sua ira. Ouvir do xerife local que um recém-chegado na cidade está atrás de você não é algo que alguém queira ouvir.

- De qualquer forma, - disse ela, tentando distrair o avô - Mitchell explicou que precisava contratar uma governanta para a casa de Tanner e ele pensou que seria uma ótima forma de eu convencê-lo de que não sou sua inimiga. Ele acha que se nós simplesmente conhecêssemos um ao outro Tanner ficaria mais disposto a ouvir a razão.

- Tanner - debochou Mike. - Que tipo de nome é esse, afinal de contas? E Mitchell? Quem dá nome para essas pessoas?

- Eu gosto do nome Tanner - disse ela. - E masculino, forte e... - Ela se interrompeu ao ver as sobrancelhas erguidas do avô. - O ponto é que Mitchell está tentando convencer Tanner a relaxar e parar de fazer denúncias. Mas ele diz que, se eu puder cair em suas boas graças, talvez isso possa ajudar a situação.

- E como esse Mitchell ouviu falar de você?

- Você não lembra? Eu o conheci há alguns meses, quando ele esteve aqui para entregar os alvarás de construção e material para a equipe que reformou a casa da Sra. Mansfield.

- Harriet Mansfield. Essa era uma boa vizinha.

- Sim, mas ela se foi e Tanner está lá agora. Temos de o fazer gostar daqui, vovô, ou ele vai criar problemas para nós.

- Gostaria de vê-lo tentar - resmungou Mike.

- Bem, eu não - disse Ivy. - Ele é rico, poderoso e muito mal-humorado. Não é uma boa combinação para se ter em um inimigo.

- E você vai transformá-lo, certo?

- Eu vou tentar - disse Ivy.

- E se você fracassar?

- Eu não vou - insistiu ela. - Tanner não é um cara mau, vovô. Ele só é muito fechado. Eu vou abri-lo para o mundo.

Os olhos do avô se estreitaram.

- Você não está pensando em talvez...

- Talvez o quê?

- Você sabe. Você é jovem e bonita. Ele é jovem e rico.

- VOVÔ!

- Não seria a primeira vez que um homem rico e poderoso viraria cabeça de uma mulher.

- Eu não me importo com o dinheiro dele. E não estou atrás de romance. - Ela balançou a cabeça. - Eu já tive a minha chance de amor verdadeiro.

O avô riu.

- Você ainda é jovem, Ivy. Você amava David, eu sei. Mas espero sinceramente que essa não seja a última vez que você amará na vida. Haverá alguém para você ao longo da estrada. Só não o procure. De outro modo, você só encontrará decepção.

Ela corou um pouco, lembrando a sensação de calor inundando seu corpo que sentiu quando viu Tanner King pela primeira vez. Apenas um olhar e ela sentiu um frio no estômago e seus joelhos bambearam.

Mas Mike estava certo, disse para si mesma. Ser amiga de Tanner, introduzi-lo à vida de uma cidade pequena e com alguma sorte conseguir que se tomasse menos rabugento era uma coisa. Romance era algo totalmente diferente. Homens como ele não se dão com mulheres como ela. E, caso o fizessem, não seria para um compromisso de longo prazo.

- Juro - disse ela. - Eu não estou procurando nada com Tanner King a não ser um cessar-fogo.

Mike estudou-a por um longo minuto e, em seguida, afagou-lhe a face.

- Bem, então eu digo que Tanner King não tem a menor chance. Uma vez que Ivy Angel Holloway começa, não há poder na Terra para impedi-la.'+*

Amantes ou Inimigos?Onde histórias criam vida. Descubra agora