Balançando a cabeça para afastar aqueles pensamentos rebeldes, ela se concentrou, em vez disso, no cão e no homem que olhava para ele.
- Ele gosta de você - disse Ivy.
- Ele está imundo.
- E morrendo de fome, sem dúvida - acrescentou ela, passando pela dupla que trocava olhares mistos de desconfiança e curiosidade. - A família deve tê-lo jogado aqui há, pelo menos, uma semana. Parece que ele não come há vários dias.
- Abandonado? - perguntou Tanner, lançando um olhar para Ivy. - Como?
Ela procurou duas tigelas dentro de um armário. Uma ela encheu com água fresca e a outra levou até a bancada da cozinha.
Cortando um par de generosas fatias da carne recém-assadas, ela as desfiou e, em seguida, levou ambas as tigelas para o cão.
O animal olhou para as tigelas, mas não desviou o olhar de Tanner para comer, independentemente do fato de estar desesperado por comida.
Ivy balançou a cabeça enquanto observava o pobrezinho. Não era maior do que um spaniel de tamanho médio, mas parecia ainda menor graças ao fato de ter sido obrigado a sobreviver por conta própria durante todo aquele tempo. Ele deve estar aterrorizado, pensou com tristeza. Novas paisagens, novos sons, nada familiar ao seu redor e nenhum lugar aonde ir.
- As pessoas da cidade - murmurou ela com um balançar de cabeça contrariado. - Elas vêm para o campo e abandonam ao longo da estrada os animais de estimação que não querem mais. Em seguida, eles vão embora, deixando para trás um pobre animal que não tem ideia de como sobreviver por conta própria.
- Que raio de gente faria isso?
Ela sorriu para ele, feliz ao ver que ele estava tão indignado com aquela prática quanto ela.
- Você ficaria surpreso.
- Não sei por que ficaria - murmurou ele, agachando-se sobre um joelho para estudar o cão mais de perto. - A maioria das pessoas é idiota.
- Neste ponto, eu concordo.
Ele lançou-lhe um sorriso e se voltou para o cão.
Timidamente, Tanner esfregou a cabeça do animal e sorriu quando o cão emitiu um ganido, valorizando o afeto recebido. Então, Tanner empurrou a tigela de comida para mais perto e viu que o animal comia o que ganhara educadamente em vez de devorar tudo em bocadas famintas.
- Então, o que devo fazer com ele? - refletiu Tanner, voltando a acariciar o cão.
- Você poderia chamar a carrocinha - sugeriu ela, quase como um desafio, para ver qual seria a reação dele. Tanner não a desapontou.
- A carrocinha? - Ele olhou para ela com espanto. - Mas eles não vão apenas o sacrificar?
Satisfeita com a resposta, Ivy disse:
- Se ele não for adotado em uma semana, sim, eles o sacrificam.
- Que maldade.
Ivy sorriu para si mesma. Ela andava se perguntando quando começariam a falar um com o outro novamente depois daquela discussão que tiveram. Então, o cãozinho apareceu e, por causa dele, aquela noite que passaram juntos foi, se não esquecida, ao menos deixada de lado. Por enquanto.