- É mesmo? - Os olhos escuros dele se arregalaram quando ele fingiu espanto. - E como você chegou a este conhecimento mágico? Vendo TV? Com quais grandes dores você teve de lidar em sua vida? Droga, você mora em uma cidade que bem poderia ser a capital do Natal!
Ivy sentiu-se profundamente magoada e ergueu o queixo para olhar fixamente para ele. Ela sabia o que estava acontecendo, sabia por que eles estavam tendo aquela briga ridícula. Ambos estavam se sentindo emocionalmente abalados com o que tinham partilhado e ambos estavam entrando em modo de defesa.
- Tudo bem, - disse ela, levantando-se da cama porque precisava se erguer sobre os próprios pés e deixar de partilhar a cama com um homem em quem ela estava com vontade de dar um chute - se você não quiser conselhos, a escolha é sua. Mas não pense que você é a única pessoa no planeta que teve problemas.
- Ivy.
- Não - interrompeu ela, completamente desgostosa com Tanner. - Você disse que tinha uma mãe e pai. Eles ainda estão vivos?
- Sim...
- Meu pai morreu quando eu era uma menina - disse ela. - E eu ainda sinto falta dele.
Um lampejo de algo que poderia ser arrependimento através do rosto dele por alguns instantes.
- Olha, talvez eu tenha me exaltado...
Ela inclinou a cabeça para o lado e olhou para ele.
- Você já amou alguém, Tanner? Quero dizer amor de verdade?
Seu olhar escureceu.
- Não.
- Bem, eu sim.
Ele piscou, mas esse foi o único sinal de surpresa que demonstrou para ela. Ivy não se importou. Tudo o que ela queria era sair daquela casa e ficar longe dele. Mas ela não iria a lugar algum antes de lhe dizer algumas coisas.
- Há quatro anos, meu noivo, David, sofreu um acidente de carro e morreu.
- Droga, Ivy... - Ele levantou da cama e fez menção de se aproximar dela, mas ela se afastou para bem longe, erguendo uma das mãos para mantê-lo a distância.
- Três semanas antes de nosso casamento - ela prosseguiu - eu fui ao funeral de David.
Lágrimas turvaram-lhe a visão, mas ela as evitou com um piscar de olhos. De alguma forma, ambos haviam aberto feridas antigas e agora se revezavam jogando sal sobre elas. Tudo para evitar falar sobre a ligação emocional que tiveram. Ivy não sabia com quem estava mais furiosa. Com Tanner? Ou seria consigo mesma? A única saída agora era ir em frente.
- Eu poderia ter me fechado dentro de mim mesma e me deleitado com a minha própria dor - murmurou ela. - Eu poderia ter me fechado em casa e nunca mais falado com alguém. Mas, quer saber, Tanner? Isso não é vida. Isso é apenas ocupar espaço. Daí, você continua e vai em frente. Você não fica preso ao passado. Você se move. Você continua respirando, porque isso é que é a vida.
A respiração dela estava ofegante e ela sentiu as lágrimas. Droga, ela não queria chorar na frente dele. Isso só serviria para dar mais ênfase àquela cena, não é mesmo?
- Ivy, eu não sabia.
- Não, você não sabia - murmurou ela, dirigindo-se para a porta do quarto. - E eu também não estava buscando a sua pena, Tanner. Portanto, me poupe.
Ele pegou a calça jeans, vestiu-a em seguida e, quando ela saiu do quarto como uma rainha arrastando a capa, seguiu atrás dela.
- Droga, Ivy, não vá.
- Não há razão para eu ficar - disse ela, pegando as roupas e se vestindo o mais apressadamente que pôde. Tanner agarrou-lhe o braço, mas ela se livrou com um safanão. - Eu não estou gostando muito de você agora, Tanner. Portanto, vou para casa.
- A culpa é minha? Ela afastou o cabelo dos olhos e calçou as sandálias.
- Não se trata de culpa, Tanner. É sobre estarmos indo muito mal muito rapidamente. E agora eu tenho de ir embora.
- Quem está se escondendo agora? - perguntou ele. Ela se acalmou, ergueu o olhar para ele e lançou um sorriso tenso.
- Touché, Tanner. Bom tiro. Agora, simplesmente... Cale a boca.
Antes que ele pudesse detê-la, ela abriu a porta da frente e começou a descer os degraus da varanda. Ele a viu partir e desejou poder voltar no tempo. Se pudesse, ele teria evitado a discussão inteiramente. Ambos ainda estariam lá em cima, em sua cama. Em vez disso, ele estava sozinho, no escuro.
Quando Ivy chegou para trabalhar na tarde seguinte, Tanner a esperava no corredor. Ele pensara muito na noite anterior e achava que sabia como consertar o que havia de errado entre eles. Então, ele acordara cedo, fora até Lake Tahoe para fazer algumas compras e agora estava de volta, preparado para aceitar os agradecimentos dela. Então ele a levaria lá para cima novamente e ambos lembrariam por que se davam tão bem juntos.
- Tanner - Ivy parou no vão da porta e olhou para ele. Ele viu as olheiras sob os olhos dela e percebeu que ela passara noite sem dormir, assim como ele. De alguma forma, aquilo o fez se sentir melhor. Ele estava mais do que certo de que estava prestes a resolver o impasse entre os dois.
- Ivy, eu andei pensando - disse ele.
- Sim, eu também - disse ela levando as mãos ao seu rosto. - Acho que devemos conversar, Tanner. Eu preciso.
- Faça-me um favor? - perguntou ele, entregando-lhe o pacote que estava escondendo atrás das costas. Era uma caixa branca, longa e estreita, envolvida com uma fita vermelha. - Abra isto em primeiro lugar.
- O quê? Por quê?
Ele ergueu um ombro.
- Será que isso importa nesse momento? Basta abrir o embrulho.
Ela tirou a caixa de suas mãos, lançou-lhe outro olhar curioso e, em seguida, puxou a fita. Ao abrir a caixa, ela murmurou em meio a um suspiro:
- É lindo!!