Eles passaram algum tempo juntos, conversaram, riram.
Ela se apaixonara por ele e, durante todo esse tempo, ele não a conhecera.
Que piada, pensou Ivy. Ela havia perdido o seu primeiro amor em um acidente e, agora, perdia o amor de sua vida por sua própria culpa. Mas, de qualquer maneira, pensou Ivy ao vê-lo olhando para ela, eles jamais teriam uma chance de darem certo um com o outro. Porque Tanner King não queria desejar alguém. E ela precisava ser desejada.
Ela olhou para ele e sabia que estava tudo acabado. Seja lá o que poderiam ter tido se desintegrara tão completamente quanto folhas de outono em uma forte ventania de inverno.
Não havia como voltar atrás. Não havia como desfazer o que fora feito. Do mesmo modo como ela não poderia desfazer a badalada de um sino.
Uma vez que estava tudo acabado, uma vez que ela não tinha nada a perder, Ivy prometeu a si mesma que, ao menos, falaria a verdade. Ela devia isso para si mesma.
- Sabe por que eu dormi com você, Tanner? - perguntou, encarando-o para que ele pudesse ler a verdade de suas palavras em seus olhos. - Porque eu amo você.
Um longo momento se passou antes que ele se afastasse dela.
- Ora, por favor. Você espera que eu acredite nisso? Você me ama? Que conveniente.
Ela riu e agora o som de sua risada soou duro e quebradiço, mesmo para os seus próprios ouvidos.
- Conveniente? Longe disso. - Ivy passou uma mão pelo cabelo. - Meu Deus, você acha que eu queria amar você? Eu nunca conheci um homem mais difícil de ser amado!
- Muito obrigado.
Ela balançou a cabeça e caminhou até a mesa da cozinha, em que sua bolsa estava pendurada em uma das cadeiras. Ela a pegou, jogou-a sobre o ombro e, em seguida, voltou-se para olhar para Tanner novamente.
- Eu menti para você Tanner. Lamento muito. Mas, principalmente, eu lamento por você.
Ele se deixou ficar onde estava, sob a luz do sol que inundava a cozinha, olhando-a como se ela fosse uma intrusa.
- Eu não preciso de sua pena. Eu não preciso de nada de você.
- Essa é a parte realmente triste - disse ela. - Você precisa. E muito. Você precisa de alguém para amar. Alguém que lhe mostre como viver fora deste palácio fechado que construiu em torno de si.
- E esse alguém é você, eu suponho?
- Poderia ter sido - concordou ela, com o coração dolorido enquanto caminhava até a porta da cozinha. Ela girou a maçaneta e olhou para trás por cima do ombro. - Eu quero que você se lembre, Tanner, de que eu o teria amado pelo resto da minha vida. - Ela lhe lançou um sorriso cansado. - Mas isso não é mais problema seu. Ah, e mais uma coisa: você não precisa me demitir. Eu me demito.
Ela saiu, fechou a porta silenciosamente e deixou para trás o homem que ela amava e o futuro que poderiam ter tido juntos.
- Você está demitido.
Mitchell Tyler riu ao telefone e Tanner apertou tanto o aparelho que se surpreendeu como não o partiu ao meio.
- Não vejo a graça, Mitchell - rosnou.
- Ora, por favor. Você não pode me demitir.
- Acabei de fazê-lo.
Ivy tinha ido embora havia apenas meia hora e o silêncio da casa já batia no cérebro de Tanner como um martelo envolto em seda. Cada sala ecoava com as lembranças de Ivy. Ele ainda podia ouvir a voz dela em sua mente. Ainda podia ver os olhos dela banhados em lágrimas pouco antes de ela sair.
Ele também podia sentir a dolorosa facada da traição. Então, que melhor momento para ligar para o amigo que o traíra?
- Você é um cretino, um inútil... - murmurou Tanner, sombrio.
- Tanner, o que diabos está acontecendo?
- Ivy Holloway - disse ele. -- Proprietária da Fazenda de Arvores de Natal Angel.
- Ah.
Tanner afastou o telefone do ouvido, olhou para o aparelho, atônito e voltou a levá-lo ao ouvido.
- Ah? Isso é tudo o que você tem a me dizer? Você mentiu para mim, droga.
- Sim, menti - admitiu Mitchell.
Tanner resmungou baixinho enquanto dava voltas na cozinha. Hairy estava logo atrás dele, com as unhas deslizando no chão de madeira polida. O bolo de chocolate que Ivy fizera ainda estava no meio da mesa, e ele sentia o cheiro dele cada vez que se aproximava dali. E mesmo com tudo o que tinha acontecido, mesmo com a raiva que ainda sentia dentro dele, ele não poderia deixar de desejar que, em vez de chocolate, estivesse sentindo o aroma cítrico floral de Ivy.
O que o tomava o maior idiota do mundo.
Quando achou que poderia voltar a falar sem gritar com seu velho amigo, Tanner perguntou:
- Você não é o cara que me falou que sempre me diria a verdade, quisesse eu ouvi-la ou não?
- Sim.
- Então explique isso para mim.
Mitchell murmurou algo que Tanner não entendeu, e então falou:
- Eu tentei lhe dizer o que eu pensava, mas você não quis ouvir. Você não me deixou muita escolha.
Ele riu ao ouvir isso. De alguma forma, Ivy e Mitchell sempre encontravam uma maneira de culpá-lo pelas mentiras deles.
- Como você chegou a essa conclusão?
- Porque você estava se portando como um idiota, Tanner - disse Mitchell sem rodeios. - Procurando o maldito xerife, ameaçando iniciar processos sempre que me ligava revoltado com a fazenda de árvores de Natal. Você estava ficando maluco e agravando a úlcera que já me causou.
Será qee Tanner ah ama ??