O avô sempre foi tão correto, pensou Ivy, subitamente desejando que ele estivesse sentado na poltrona favorita, de modo que ela pudesse ir até a casa dele para conversar. Mas tanto ele quanto a sua mãe estavam na Flórida, alegremente construindo a nova Creche Angel. Ela conversara com os dois havia alguns dias e conseguira esconder a sua própria tristeza diante da felicidade de ambos.
Ela não precisa se preocupar com a longa distância que a separava de sua família. Além disso, ela cavara um buraco para si mesma e seria ela quem deveria se esforçar para sair dele. Ivy só queria saber se Tanner se importava com ela. O sujeito era tão fechado e recluso que seria necessário um ato de Deus para ele admitir isso, mas se ela pudesse crer que aqueles sentimentos estavam lá, ela poderia viver sem as palavras se fosse necessário.
Talvez.
Mas mesmo que Tanner se importasse com ela, aquilo duraria quando ele descobrisse a verdade? Do pouco que ele contara para ela sobre si mesmo e sua família, Ivy intuíra que ele não confiava em muita gente. Então, quando ela admitisse tê-lo enganado deliberadamente, ela não podia imaginar que ele levaria aquilo numa boa.
Eufemismo.
Ela gemeu e baixou a faca de confeitar. Nos últimos dias foi muito difícil estar perto dele e não o tocar. O desejo ardia dentro dela toda vez que ele se aproximava. Estar tão perto e tão longe dele ao mesmo tempo doía de uma forma que ela nunca imaginou ser possível. Mas era mais do que apenas o desejo, disse para si mesma com severidade. Era o próprio Tanner. Amá-lo e não ser capaz de dizer isso para ele era a coisa mais difícil que ela já fizera na vida.
Ela se lembrou da última discussão, e a frase que ela dissera continuava a assombrá-la: Eu sou uma covarde. Ela não gostou de como soara aquilo. Ivy jamais fugira de nada em sua vida e, droga, ela não começaria a fugir agora.
Ela vinha pensando nisso havia dias e finalmente chegara a uma decisão importante. Ela deixaria de mentir. Ela deixaria de fazer jogos e de guardar segredos. Aquilo não era maneira de viver.
Ela amava Tanner King. Depois que David morreu, Ivy não esperava se apaixonar novamente, mas, agora que tinha se apaixonado, ela recusava a se esconder. E abominava a ideia de perdê-lo porque ela estava com muito medo de admitir que cometera um erro.
Desde o primeiro dia ela percebera que Tanner tinha um problema de confiança. Por que outro motivo ele se fechara para tudo e para todos? Por que trabalhava em uma pequena sala em sua própria casa sem nunca se envolver com ninguém? Era tudo uma questão de confiança. E como ela poderia esperar que Tanner confiasse nela quando estava mentindo para ele a cada minuto em que mantinha silêncio sobre a verdade?
- Então, chega de mentiras - murmurou ela, gostando do som daquilo. Não importando o que acontecesse com ela e Tanner, ao menos teria a certeza de que fora honesta com ele.
Quando seu celular tocou, Ivy agradeceu que tinha sido afastada de seus pensamentos. Ela olhou para o identificador de chamadas, abriu o telefone e disse:
- Oi Dan, o que está acontecendo?
O gerente da fazenda, disse:
- Não quis incomodá-la enquanto você estava na casa do King, mas Ivy, há um problema com a ponte decorativa que você queria pronta sobre o riacho a tempo para o casamento dos Harrington.
- O quê? - exclamou ela, mal conseguindo reprimir um gemido.
Dan Collins começou a falar rápido e Ivy franziu a testa enquanto absorvia as palavras. Havia um enorme casamento agendado para o próximo fim de semana e todos na fazenda estavam trabalhando duro para ter certeza de que tudo ocorreria sem problemas. O feliz casal era de São Francisco e a noiva era filha de um homem muito rico.
O casamento apareceria nas páginas sociais dos maiores jornais da cidade e, com esse tipo de propaganda boca a boca, a nova empresa de casamentos de Ivy poderia realmente decolar. Ela não poderia se dar ao luxo de cometer erros.
- Muito bem, então você está me dizendo que a serraria está sem cedro branco? - perguntou ela. - Como isso é possível? Ter madeira disponível faz parte do trabalho deles!
- Bem, eles não apenas estão sem madeira, como estão atrasados em suas entregas.
- Ótimo.
- Não é assim tão ruim - disse Dan. - A maior parte da ponte já está concluída. Só não terminaram o parapeito.
- Sim, mas ainda temos de a pintar e esperar que seque antes do casamento. - Ela esfregou a testa quando uma dor de cabeça começou a entrar em erupção. - Então, quando eles podem conseguir isso para nós?
- Sexta-feira - Dan disse.
- Sexta-feira? - berrou Ivy. - Isso é impossível. Precisamos da ponte concluída e pronta para as fotos no sábado à tarde.
- Sim, eu sei, e acho que dá para resolver - disse ele rapidamente. - Se está tudo bem para você, eu vou mandar dois rapazes a Lake Tahoe para pegar a carga e trazê-la até aqui ainda hoje.
- Claro que está tudo bem. - Ivy apoiou-se na bancada enquanto um alívio percorria o seu corpo. - Você quase me matou de susto, Dan.
Ele riu.
- Desculpe, mas já que você é a chefe eu preciso passar essas coisas por você.
- Muito bem. Então, como sua chefe - respondeu ela com a voz brincalhona -, eu estou ordenando que você pare de me provocar palpitações cardíacas. Ou a fazenda vai ter de encontrar um novo gerente.
- Eu não estou preocupado - disse Dan. - Você não pode demitir um homem que costumava carregá-la nas costas quando você era pequena.
Ivy riu das lembranças que ele lhe despertara.
- Tudo bem, tudo bem. Mas mande os rapazes imediatamente, está bem? Será que os carpinteiros estarão lá para terminar isso amanhã?
- Pode apostar que estarão. E eles vão ter de construir, lixar e pintar a ponte até quinta-feira. Eu garanto.
- Obrigada, Dan. Não sei o que eu faria sem você.
Ela desligou, enfiou o telefone no bolso e congelou quando a voz de Tanner ressoou na sala outrora silenciosa.
- Você é dona da Fazenda Arvore de Natal Angel?
Eaaaee oqe vsee acha será qee ela vaae falar pra ele ???