Mitchell estava certo, disse Tanner para si mesmo com um resmungo interior. Não fora boa ideia se queixar com a polícia local em vez de simplesmente conversar com o vizinho. Mas em sua própria defesa, Tanner podia alegar que nunca se dera com vizinhos. Droga, ele morava em seu apartamento em Los Angeles havia cinco anos e não seria capaz de reconhecer os seus vizinhos se cruzasse com um deles na rua.
- Mike... - Ivy parecia preocupada e o tom de voz dela fez Tanner balançar a cabeça, contrariado.
- Não, Ivy, ele está certo. - Ele buscou os olhos de Mike e achou ver um lampejo de admiração ali dentro. Por que aquilo o fez se sentir melhor Tanner não saberia dizer. - Sr. Angel, eu deveria ter vindo lhe falar desde o início. Esse foi o meu erro. Talvez pudéssemos acertar as coisas entre nós sem haver a necessidade de envolver a polícia.
- Bem - ponderou o homem cuidadosamente -, pode me chamar de Mike. Eu respeito um homem que admite os seus erros. - Ele estendeu a mão direita e esperou para ver se Tanner a aceitaria.
Ele aceitou. O velho tinha um aperto de mão duro e firme, que indicava anos de trabalho físico. E a expressão em seus olhos dizia claramente que ele estava com pouca paciência e muito curioso em saber o que acontecera antes de ele aparecer.
Ao pensar nisso Tanner sentiu o desejo renascer dentro dele. Mas seria melhor deixar aquilo de lado um instante. Mais tarde, haveria tempo suficiente para recomeçar de onde ele e Ivy havia parado.
- De qualquer forma - disse Tanner abruptamente, quebrando o silêncio tenso - eu gostaria de lhe agradecer a autorização para Ivy me mostrar a fazenda de árvores. Eu não quero que ela se meta em apuros por ter disposto de tempo de trabalho para me fazer tal gentileza.
- É mesmo? - Mike murmurou, voltando o olhar para Ivy.
Ela se encolheu um pouco, obviamente desconfortável com a conversa. Ela e Mike se entreolharam por um longo minuto antes de o homem voltar a olhar para Tanner.
- Não há problema nenhum - disse ele. - Fico feliz que ela o tenha feito. Mas, agora, é hora de voltarmos ao trabalho.
- Claro. - Tanner meneou a cabeça e disse: - Eu também devo voltar a trabalhar. Ivy, obrigado pela visita. Mike, foi bom conhecer você.
- Digo o mesmo. Agora, se você tiver algum problema com a fazenda, é só dizer.
- Farei isso - assegurou Tanner. - E agradeço terem baixado o volume da música.
- Isso foi ideia da Ivy - disse ele.
O olhar de Tanner se voltou para ela. Ela tentara melhorar as coisas para ele à sua maneira e não dissera nada a respeito. Ivy era uma mulher intrigante, disse ele para si mesmo. Ao olhar nos olhos dela, ele fez questão de deixá-la saber, sem dizer uma palavra, que estavam se separando agora mais que ele estaria esperando por ela mais tarde. Ele a desejava agora mais do que desejara antes e, caso tivesse de esperar muito mais tempo, certamente não aguentaria.
Os olhos de Ivy brilharam, indicando terem captado a mensagem silenciosa e ele soube que, ao menos quanto àquilo, estavam de acordo.
- Então eu acho que lhe devo os meus agradecimentos por tornar as coisas mais silenciosas por aqui - disse Tanner por fim.