~♥~Capitulo 45

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Talvez não - concedeu ele, olhando-a fixamente. - Mas outras o fariam.

Havia dor na voz dele agora, para coincidir com a escuridão nos próprios olhos.

Tanner passou a mão pelo cabelo e sacudiu a cabeça como se enojado de si mesmo por ter começado aquela conversa.

-- Tudo o que eu quis dizer é que eu não faço bastardos - disse ele simplesmente. - Isso é coisa de meu pai.

O uso ocasional de palavras tão duras a chocou. Os belos olhos dele se fecharam, como se a estivessem evitando. Havia dor antiga ali, e ela teve apenas um vislumbre daquela dor antes que ele a disfarçasse por trás de uma camada de indiferença.

- Tanner...

- Por favor - disse ele em meio a uma risada estridente. - Eu não preciso de consolo. Eu cresci em um bom ambiente. Tenho mais meios-irmãos e meios-primos do que alguém deveria ter. Só estou dizendo que sou cuidadoso.

Ele deixou de lado a preocupação e ela compreendeu a necessidade de que ele tinha de se apegar ao seu próprio orgulho. Para que ela lhe ofereceria compaixão quando ele claramente não desejava aquilo? Mas ela também não o deixaria fugir de um assunto que obviamente precisava ser falado.

- Eu compreendo. Mas há mais, não é mesmo?

- O que quer dizer?

O que ela queria dizer era que estava começando a ver por que Tanner era tão fechado para as outras pessoas. Apesar do que ele dissera, certamente tivera uma infância solitária, e as memórias, senão as mágoas, ainda estavam nitidamente dentro dele.

- Bem - disse ela em voz baixa -, o modo como você se sente em relação ao Natal, por exemplo.

- Eu não preciso de terapia.

- Ótimo. Nem eu sou uma terapeuta.

Ele olhou para ela.

- Então, desista.

- Por que você odeia o Natal, Tanner?

A mandíbula dele trabalhou como se estivesse mordendo e engolindo uma enxurrada de palavras que tentavam escapar. A luz do abajur iluminava a pele bronzeada dele e a fazia parecer dourada. E embora pudesse esticar a mão para tocá-lo, Ivy sabia que ele estava mais longe dela do que jamais estivera anteriormente.

Um ou dois momentos tensos se passaram antes que, finalmente, ele desse de ombros e dissesse:

- Eu nunca celebrei o Natal quando criança. - Ele mudou de posição e sentou-se, recostando o corpo contra os travesseiros que reuniu contra a cabeceira da cama, com o lençol esticado sobre o abdome.

- Essa não é a única razão - disse ela.

Ele lançou-lhe um olhar rápido.

- Por que você se importa com isso, Ivy?

- Chame de curiosidade - disse ela, embora fosse mais. Muito mais. Ela queria entendê-lo. Queria conhecê-lo.

Balançando a cabeça, ele disse:

- Certo. De qualquer modo, não importa. Meus Natais geralmente eram passados em quartos de hotel vazios querendo saber quando minha mãe voltaria. Ela geralmente estava fora, ao lado de seus amantes, e não tinha tempo para cuidar dessas coisas de árvores e presentes. - Ele deu de ombros como se o que estava dizendo nada significasse, embora ela pudesse ver que significava muito. - Minha babá sempre me trazia algo, de modo que o Natal não passava completamente em branco. E tudo o que meu pai me mandava, sempre chegava por volta do dia 25 de dezembro, de modo que importava muito.

Ela sentiu uma pontada de piedade. Não do homem que ele era agora, mas do menino que ele foi. Do lado de fora, olhando para dentro, e sem saber por quê. Aquele menino fora solitário e infeliz. O homem ainda era solitário, mas se convencera de que era assim que ele queria ser.

- Eu posso ver em seus olhos que você está ficando toda chorosa por minha causa - disse ele e balançou a cabeça com um sorriso. - Você não precisa. Eu me saí bem. Eu me saio bem.

Ela respirou fundo e expirou.

- Claro que sim. Mas eu não me importo em lhe dizer que eu gostaria de voltar no tempo e esganar a suã mãe.

Ele emitiu um breve sorriso e ela ficou grata ao ver um pouco da tensão desanuviar.

- Sabe - disse-lhe Ivy em voz baixa - você não precisa evitar o Natal para sempre. Só porque você teve Natais ruins quando criança não significa que você tenha de dar continuidade a tradição. Você pode fazer as suas próprias escolhas em vez de viver com velhas mágoas.

- Aí vem a terapia - murmurou ele, lançando um olhar para ela. - Todo o mundo tem respostas. Todo o mundo sabe o que alguém deve fazer. O que faz você pensar que eu estou triste por algo que aconteceu há décadas? O que a faz tão certa de que eu estou sofrendo? Eu faço o que eu quero quando eu quero. Eu não preciso de sua preocupação, porque é inútil. Não há um menino furioso dentro de mim à espera de ser tranquilizado. Então, me poupe de tudo isso.

- Uau. - Ela se sentou, erguendo o lençol e apertando-o contra o peito. Todo o seu desejo subitamente se dissipou. Tudo bem, sim, ela o amava. Mas isso não queria dizer que ela ficar ali sentada servindo de alvo para as grosserias de Tanner. - Para um sujeito que deixou tudo para trás, você parece um tanto sensível quando falamos sobre esse assunto.

- Por que não deveria? - perguntou ele. - E por que você começou a me dar conselhos, afinal de contas? O que você sabe sobre a dor, Ivy? E fácil ficar fora e dizer para os outros como devem superar os seus problemas e seguir em frente. Bem, você não faz a menor ideia de como foi a minha vida.

- Não, eu não faço - disse ela, agarrando o tecido do lençol e torcendo-o com força. Ela não tinha certeza de como eles tinham passado de um sexo espetacular e um pós-coito tranquilo para aquela discussão furiosa, mas Ivy não o deixaria falar assim com ela. - Mas sei o suficiente para entender que a gente deve parar de lamber feridas antigas. Eu sei que, se desligar do mundo e se isolar em uma casa onde nunca tenha de falar com ninguém não é resposta para coisa nenhuma.






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