Dois meses atrás:
Hannah
Adolescentes circulavam pelo pátio escolar. Alguns ainda estavam na fila pegando seus lanches e correndo para os últimos assentos da mesa azul retangular, ao lado do jardim.
Do segundo andar a visão privilegiada me causa náuseas.
Falta menos de dois meses para o ultimo ano letivo acabar e eu ainda não decidi qual faculdade irei cursar. Na verdade não sei se sou boa em algo.
Bufei.
Apoio minha testa nas mãos cruzadas uma sobre a outra, pousadas no apoio do parapeito, ainda observando o movimento do primeiro andar.
Uma garota passa olhando de baixo a cima. Seus olhos encontraram os meus, encarando-me, mas sua expressão antes repulsiva, agora era serena, e então seus lábios finos contorceram-se em um tipo de sorriso forçado. Milly Parker, possuia as roupas mais caras e da melhor estilista de Hitdowns. O uniforme com certeza valia milhões. A saia quadriculada branca e preta era parcialmente coberta pelo blazer azul marinho, que mantinha bem visível o brasão escolar ; Deep Blue Hall.
Enquanto isso,meu uniforme foi comprado em um brechó de roupas de segunda mão, não valendo mais que vinte e oito dólares. - não que eu tenha inveja, claro. Meu uniforme apesar de tudo tem toda uma história. Inclusive tem uma mancha horrível de mostarda irremovível, da sua antiga hospedeira.- A filha do diretor foi-se ,ainda com o nariz empinado, fazendo seus sapatos pretos novos e caros, com detalhes em ouro, ecoarem por todo piso cinza do corredor principal.Retiro do bolso o celular semi-novo, que ganhei a três dias no meu aniversário de 18 anos -12:30
Sentei no piso colocando cada perna por entre os espaços das barras de ferro do corrimão, as deixando totalmente suspensas e coloquei as mãos em volta de duas barras enquanto observava uma trilha de formigas indo do corrimão a um dos pilares azuis ao meu lado direito. E então percebi o quanto elas se assemelhavam conosco. Iam e vinham sem um propósito certo. A única certeza que tinham era que deveriam correr por suas vidas, se alimentar, reproduzir e enfim esperar a morte. Não somos tão diferente delas.
O sinal finalmente tocou, anunciando o fim do intervalo. Alunos corriam de um lado a outro. Uns deixavam apressados seus lanches. Outros mais espertos corriam para seus armários afim de recolherem seus livros e irem para suas aulas. Fiquei ali, observando enquanto os corredores e pátios eram esvaziados lentamente. Não iria para a sala agora. Sabia que a Srt. Clarke, uma senhora de no máximo sessenta anos, que apesar da feição cansada e das rugas, ainda sim era doce. Sua voz era tão macia e aveludada que eu nem mesmo imaginava uma profissão melhor do que a de coordenadora. Quem melhor para apaziguar as confusões entre alunos e diretor? Era a típica senhora que de longe sabíamos sua rotina, seu amor por gatos e a solidão de uma vida encalhada. Na verdade, eu lavaria os banheiros da minha casa durante um mês se soubesse o que a Srt. Clarke faz no pouco tempo livre que lhe resta. Se sua casa é de fato enfestada de gatos, ou se ela matou alguém no passado (o que é pouco provável, julgando o quão inocente ela é).
Mas não importa sua bondade. Não podemos perambular pelos corredores durante o horário das aulas, não podemos ir para o lado oeste onde se encontra a ala masculina. E isso eu já fiz. Várias vezes. Com certeza ela viria direto à minha procura, e mais uma vez diria o quanto é errado estar fora da sala de aula. Mas enquanto isso iria respirar um pouco sem toda aquela confusão monótona dos corredores entupidos de alunos. Sem aqueles rostos me encararem como intrusa onde era assim que me sentia. Uma total intrusa. O ar naquele momento era meu. Não estava oprimido entre tantos aromas de desodorante, perfume e shampoos. Era apenas ele. O ar.
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Herdeira De Gelo
FantasyHannah, uma garota como qualquer outra da sua idade, com apenas a preocupação de não saber o que cursar quando terminar o ensino médio, se vê em uma situação inexplicável no momento em que suas ações se tornam questionáveis. Depois do estranho e tem...