OUSADA

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Lanço um novo portal e atravesso a porta protegida por dois guardiões, reaparecendo do lado de fora, no jardim 4.

Novamente meu coração se aperta no peito.

As lágrimas lutam para caírem e deslizarem sobre meu rosto e o nó está ali, em minha garganta, me asfixiando como sempre.

Porém, quaisquer que sejam os sentimentos que tenham me trago aqui desaparecem e o ódio se torna meu único combustível.

Luck estava ali.

Mas não estava lutando, nem ao menos treinando. Estava parado, frente a frente, corpo com corpo, colado pelos lábios com Kira.

Eu já os tinha visto próximos, rindo junto, mas não assim.

Quero matá-la!

Meu sangue ferve nas veias, tremo de raiva, o poder ocilando por todo meu corpo.

Eu queria esquecer. Tudo.

Mas não posso.

Ela matou David. Ela destruiu qualquer esperança que havia em mim. E agora está com a língua na garganta do homem que amo.

Não posso simplesmente jogar meus problemas. Tenho que resolver.

Respiro fundo e fecho os olhos.

A imagem da cela me lembra de que só tenho uma oportunidade de permanecer em liberdade e não posso desperdiçar-la.

Abro os olhos.

"Tremor"

Penso apontando com as mãos para a neve sob meus pés.

Rapidamente o solo me obedece, forçando o casal à frente a parar o que faziam.

Luck é o primeiro a me ver. Seu olhar assustado mostra que não sabia que eu viria aqui, que os veria assim. Ele baixa a cabeça e fita suas botas negras.

- O que faz aqui poeira terráquea? - Kira é a primeira a falar.

Ela soltar um sorriso triunfante erguendo ao máximo seu queixo mostrando imponência.

- Eu sabia que era muito boa com lutas, porém, pensei que era um pouco mais inteligente - lanço o mesmo sorriso - Bom - olho ao redor estendendo os braços para demonstrar o lugar - O que sei, é que aqui ainda continua sendo meu jardim de treinamento. Agora se não me falha a memória, aquele imundo e obscuro que é o seu jardin fica bem distante daqui. - ergo o queixo da mesma forma que ela - Então, saia e leve seu cheiro de enxofre com você.

Ela suspira raivosa.

- Não importa se leu o livro! Você não é...

- Não - interrompo - Não sou filha do rei, mas se bem me lembro - me aproximo dos dois. Luck permanece cabisbaixo - Se li o livro quer dizer que tenho poder para reinar alguma das casas.

Ela entre abre os lábios mas exita.

- E você? Quem é? - Pergunto a ela - Quem seria você se não apenas a filha desprovida de poderes do rei? - gargalho - Você não é nada além de mais um soldado. Como você tem vários.

A encaro. Seus olhos enchem de lágrimas não caídas.

- Hannah, já chega - é a vez de Luck falar.

Vejo em seus olhos a mesma dor que há nos de Kira. Os dois não tem poderes. E mesmo que tais palavras que lancei com tamanha felicidade de vingança, agora estejam me ferindo arrependimento por ter tocado na ferida de Luck, sei que ele merecia ouvir.

Eles mereciam.

- Chega? - gargalho.

Queria poder tocá-lo. Queria ao menos um abraço seu, que ele segurasse a minha mão e chorassemos juntos a morte de David. Eu queria não ter que fazer o que estou prestes a fazer. Porém preciso. Preciso destruir eles.

Todos.

Já não me restara mais ninguém e agora o que menos preciso são de distrações. Vou viver e vou matar Kira. Ainda que demore, estou livre hoje e permanecerei assim.

- Desde que cheguei me pergunto quem é você Luck. Um soldadinho qualquer. Um pião no jogo do grande e poderoso Kiron...

- Como ous...

Aperto o punho e um muro de Gelo cobre todo o corpo de Kira, deixando apenas seus olhos para fora da cobertura gelada.

- Já estou cansada dessa sua frase tola Kira - falo calmamente tendo todo o controle da situação - Eu ouso, eu posso, eu tenho poderes aqui. Se seu pai não lhe ensinou a ter educação eu o farei e darei até tapinhas na sua bunda se for preciso. Agora fique calada que estou conversando com Luck.

Desvio os olhos dela e vou até os de Luck que já mantém a mão direita sobre a base da espada em posição de defesa.

- Você não passa de poeira Luck. Ao menos chorou a morte de David ou riu por terem me aprisionado como outros? - olho com desdém para kira ainda presa.

- Eu... Eu não sabia que a prenderiam... - ele suspira pesadamente.

Sei que falou a verdade, mas não posso permitir que seu olhar penoso amoleça meu coração.

- Não importa mais. - sorrio - Sabe... - me aproximo um pouco mais - Houve um tempo, bem no início em que você era minha motivação. Foi o que me fez sair viva daquele dragão.

Eu precisava machucá-lo de todas as formas possíveis e iria enfiar o dedo o mais profundo que puder na sua ferida.

- Porém, hoje, estou livre, e eu vou fazer você chorar Luck. Se não teve a decência de fazer isso por David, eu o forçarei, nem que tenha torturar você pra isso. Você. Vai. Chorar - falo pausadamente para que entenda - Preparem-se. Hoje é um grande dia, não? - saio lançando uma gargalhada maestral e abro um portal para meu quarto, após desfazer o muro de gelo com a certeza de que o mesmo queimou a pele de Kira em que teve contato.

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