DESPEDIDA

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David

Sorri.

Limpo uma de suas lágrimas que escorre por sua face avermelhada.

Quando a vi, naquela maca, adormecida, não precisei tocá-la como Luck fez para sentir seu poder. Eu mais que ninguém, por ter sangue puro dos Nascido de Gelo, saberia diferenciar um código genético apenas, do poder que corria em suas veias.

A única que pude sentir de fato algo forte emanar dela, algo que bem mais me fazia ter a certeza de era ela, mas que também me fazia sentir que tudo aquilo que eu e minha família queria, estava ali, diante de mim, tão próxima, serena, em seu sono profundo.

Mas, não era apenas sua beleza estonteante, a mulher mais bela que já vi, era sua personalidade que me fazia querê-la para mim. Esse gênio forte, atrevida como poucas, que parece frágil e inofensiva como naquele dia no helicóptero, mas que é muito mais que apenas uma garota, é uma mulher de fibra, crítica e forte o suficiente para não ter enlouquecido com tamanha responsabilidade e riqueza desse mundo.

E então, a encontrei naquela arena, deitada sobre a neve, calada, os cabelos brancos loiros se misturando à neve, sua pele tão pálida que quase não podia ser vista ali, a não ser suas vestes negras, que se destacavam entre o branco.

Eu já estava ali à algum tempo, a observando, vendo-a franzir de vez em quando o cenho, e depois torná-lo neutro novamente. Na verdade, eu não sabia o que estava fazendo ali, observando ela de longe, fitando a provável filha do rei. Eu só podia estar enlouquecendo. E o pior, é que por mais que eu estivesse fascinado por ela, seus olhos brilhavam apenas para uma pessoa: Luck.

Nós havíamos crescido e lutado em muitas batalhas juntos. Como ele pôde ter se tornado tão egoísta a ponto de deixar a garota se apaixonar por ele? Sabendo que terá que cumprir a promessa que fez ao rei?

Me indigna saber que nesse momento terei que deixá-la e que tudo o que tentei fazer para protegê-la dele será em vão. Ela apesar de chorar por mim nesse momento, não lutou apenas pelo dragão, mas sim, por Luck, e se enfureceu ainda mais ao vê-lo ao lado de Kira.

Lanço um olhar para Érica na porta de entrada, chorando.

"Você tem que protegê-la"

Érica acena positivamente com a cabeça.

Meu trabalho foi feito. Nós dois prometemos protegê-la de tudo, e agora esse trabalho foi passado unicamente para Érica. Quisera eu poder dizer que Luck seria de grande ajuda, mas sabemos, nós dois, que ele a fará sofrer quando ela souber a verdade. E a menos que seja um caso extremo, é que Érica deverá informá-lo sobre tudo. Mas enquanto tivermos escolha, e não soubermos de fato, de qual lado Luck está, não podemos contar com sua ajuda.

- Você é... - Pigarreio e engulo o pouco sangue que veio à boca - É a Escolhida. Não... - me contoço de dor - Não esqueça...

Meu corpo torna-se pesado de mais. Minhas pernas já não conseguem sustentá-lo, então desesperadamente, Hannah me deita em seu colo, aos prantos.

Eu queria conforta-la, queria lhe dizer meus sentimentos. Que o que sinto é muito mais que uma paixão passageira. Eu a amo, da maneira exata que é. Adoro quando ri, ou quando me faz rir ao ficar estérica, ou apenas me olha com um olhar maldoso, do tipo que quer tocar em mim, que sente curiosidade nisso. Acho que por isso nunca ousei me aproximar dela, isso apenas me feriria mais ainda, e além do mais, nunca fui do tipo opressor, acho que tudo acontece no momento certo. E agora, morro feliz ao ver o rosto da única mulher que me conquistara de verdade, a única que já desejei que fosse minha esposa. Mas que jamais saberá disso.

Por que lhe dizer agora, quando não há como voltar atrás?

Não a farei sofrer ainda mais. Vou morrer como seu amigo, e só isso.

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