APRISIONADA - II

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Olho ao redor.

Eu estou no... Isso não é possível!

Levanto lentamente vendo Luck à minha frente observando satisfeito enquanto os cinco guardiões enlaçavam o dragão.

Giro os calcanhares para ver logo atrás a enorme porta de madeira, que antes eu havia atravessado após lançar um portal.

Olho para minhas mãos.

Não se pode criar nada... Foi isso que Luck disse. Mas como criei um portal? Como posso ter criado algo dessa magnitude?

A criatura lança um rugir desesperado logo à frente.

Franzo o cenho.

Como? Isso não está certo.

O procuro com os olhos semi serrados até encontrá-lo ajudando um outro qualquer a puxar as cordas presas às pernas do dragão.

David...

Sorrio.

Uma euforia entorpecente vem até mim.

David!

Ergo a mão em sua direção.

- Portal - logo uma circunferência reluzente surge e me suga para o meu alvo.

- David! - me lanço sobre ele enlaçando-o pelo pescoço

- Hannah o que...

- David - soluço - Você tá bem. Não acredito... - me afasto e o puxo pelo braço - Vem, você precisa sair daqui .

Ele estaca no lugar e me fita com face interrogativa.

- Hannah, não posso. Tenho ordens de...

- David - suplico - Por favor, vem comigo - seguro seu bíceps com as duas mãos e puxo com toda minha força - Veemm!!!

Ele lança um olhar para criatura, exitando entre ir comigo ou ficar ali.

Finalmente ele dá as costas para todos, entrelaça os dedos nos meus e me guia em passos rápidos para a entrada mais próxima do castelo.

Sorrio, as lágrimas minando dos meus olhos como se estivessem guardadas ali a muito tempo.

Tudo só pode ter sido um sonho não é? Nos filmes geralmente após ultrapassar um portal, as pessoas vomitam, ficam tontas e etc. Eu posso simplesmente ter fantasiado tudo.

David está vivo!

Olho para nossas mãos ligadas, apertadas fortemente e me sinto protegida novamente, ali, naquele aperto de mão, com o homem que sempre esteve junto comigo, que sempre me protegeu.

Nada mais importa. Não enquanto eu estiver com ele e puder o manter a salvo, longe do maldito dragão e da espada de Kira.

O vento deslizava os fios castanhos em sua face, sua pele meio bronzeada e aquele cenho franzido deixava claro que sua decisão não tinha sido uma das melhores.

Consegui! Eu consegui salvar ele!

David abre a enorme porta, me deixa entrar primeiro e logo após se certificar da nossa escapatória ele encosta a porta e me fita com um olhar estranho.

- O que você fez? - pergunta segurando meus ombros.

Franzo o cenho.

Do que ele está falando?

- Hannah, as coisas fugiram do controle - alerta - Ele fugiu do controle. - aponta para a porta por onde acabamos de entrar - Eu não sei o que você fez, mas precisa parar a criatura agora - ele passa os dedos por entre os fios ondulados e coloca as mãos atrás da cabeça.

Meu sorriso desaparece rapidamente do meu rosto.

- Hannah, você precisa falar com o rei, ele pode ajudar a controlar a situação. - diz saindo de sua posição e voltando a me encarar sério. - O que quer que tenha feito, precisa dizer ao rei.

Ele caminha novamente até a porta e abre um brecha acenando para que eu siga seu olhar. Olho na direção indicada a tempo de ver o dragão engolir de uma única vez um dos guardiões e usar o enorme rabo para derrubar outros poucos que tentavam enlaçar ele.

Um monstro. Como posso ter tentado defender algo assim? Pus minha vida em risco. E por minha causa David mor...

Olho nos olhos de David.

Não. Ele está vivo agora. É isso que importa.

- Está vendo? Ele é um assassino e se não for contido, despertara pânico em todo o reino. - suspira - Esse dragão já extrapolou as cotas de destruição. Fale como conseguiu domar ele e talvez possamos vencer a criatura e por um fim em todos esses séculos de destruição.

O que?

Ele dá um meio sorriso e acaricia meus ombros - Fale ao rei tudo o que sabe e assim poderá tranquilizar e salvar as vidas daquele que como aquele guardião ali, morreram para defender o reino - diz apontando para o dragão - Não deixe que a morte de tantos como ele seja em vão.

Olho para o dragão novamente.

- Dragão... - murmuro.

Não o sinto. Não como na vez passada. Não sinto ele como um parte de mim, agora não passa de uma criatura matando e disseminando ódio e mortes, derramando e manchando de sangue a pura neve daquele campo vazio.

- Você está certo - observo o sorriso de David crescer. Não aquele contido, tímido de sempre. Mas sim um malicioso, os olhos vazios, sem uma real expressão.

Seguro em uma fivela pequena do seu uniforme e o puxo para bem próximo do meu rosto.

- Eu quero você David - murmuro bem próximo ao seus lábios, olhando fixamente em seus olhos.

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