DESAPROVADA

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Os dois dias se arrastaram enquanto o tempo continuava fechado do lado de fora do quarto. Pela manhã Luck apareceu, assim como havia dito, mas não demorou, parecia incomodado com algo e minha presença o aborrecia. O livro que me dera é encantado, as histórias e conquistas serão acrescentadas assim que eu conquistar algo ( vencer uma guerra, matar alguém importante etc.). O bom é que não mostra as derrotas. Porque se assim fosse, o reino todo já estaria sabendo da minha "luta" com Luck, já que os nobres possuem um livro semelhante, e todos estão conectados, portanto se aparecer algo nesse, aparecerá também para qualquer outro.

- Okay, senhora, agora... Huum... Qual o lema da casa Vitch? - Érica perguntou segurando firme o livro a frente do rosto.

Luck apareceria daqui a pouco e faria perguntas sobre as casas. E bom. Não passei todas as horas do meu dia encarando um livro velho. Então não preciso dizer que estou estudando no último minuto, tremendamente preocupada.

- Acho que algo com olhos .. - penso alto

"Olho" penso. "Não, é olhai"

Bufo.

Érica me encara em silêncio com a feição cansada. Já se passara mais de uma hora. É a quinta vez que ela faz essa pergunta. E pela quinta vez eu não lembro. Nunca fui boa em decorar nada. Se minha vida dependesse disso eu já seria apenas pó, sete palmos abaixo da terra.

- Senhora, precisa lembrar. - alertou ela

Cubro o rosto com as mãos fechando bem os olhos. "Droga! E seu errar? E se não souber? O que será que Luck vai fazer? "

- Se eu não souber, o que Luck pode fazer? - minha voz soou abafada sob as mãos.

- Acho melhor você começar a lembrar - a voz de Luck ecoou por todo o quarto.

Aperto bem os olhos antes de abri-los e o encarar. Parece menos cansado que nessa manhã e pela primeira vez aparenta ser alguém normal, vestindo uma camisa branca de meia, um suéter azul marinho e uma calça moletom em tom pastel. Seus cabelos estavam úmidos e um aroma fresco adocicado exalava dele.

- Pode sair - disse ele para Érica que me encorajou com os olhos antes de sair do quarto.

Meu coração se apertou no peito.

"Cyrus: Sinta, destrua, construa. Nosso é o poder. "

"Vitc" ?

"É Veint "?

"Não. Acho que não é Vitch" Tento lembrar da segunda casa.

"É Vitch! " massageio as têmporas sentindo os efeitos de tal esforço.

"Okay, mas qual é o lema dessa casa?"

- Então - Luck senta na ponta da cama e inicia segurando o livro das casas, passando algumas páginas - Qual é o lema de Cyrus? - perguntou retirando o nariz do livro e me fitando.

Engulo em seco.

"Essa eu sei!" sorri para mim mesma animada.

Limpo a garganta.

- Sinta, destrua, construa. Nosso é o poder - falo o lema como um soldado para seu capitão.

Luck me encarou com a face neutra e enterrou o nariz no livro novamente.

Me remexo sobre a cama e espero pacientemente a próxima pergunta, taborilando com os dedos apoiados sobre os joelhos.

- Não espere que eu lhe parabenize por acertar o lema da própria casa - disse erguendo o queixo e dando uma breve olhada em mim, antes de voltar a encarar as páginas amareladas.

Eu meio que esperava mesmo que ele sorrisse, gritando "eeê! Você conseguiu!", porque é isso que eu mereço depois de todo meu esforço.

- Qual é o de Tairen? - pergunta sem me encarar passando lentamente uma página, e outra.

"Tairen"? Pergunto a mim mesma

Tento lembrar mas nada vem, nem mesmo lembro da existência de mais essa casa.

- Quantas chances tenho? - pergunto cruzando os braços sobre o peito.

Ele desviou os olhos do livro e os pousou nos meus, franzindo o cenho.

- Chances? - pergunta confuso.

- É. Quantas chances tenho para errar. - ele põe o indicador para marcar a página e fecha o livro, segurando-o de lado.

- Você tem exatas cinco chances - falou

Sorri largamente, sabendo que seria o suficiente para acertar todas. Pensei que fosse apenas três, como sempre. Mas cinco? Tá no papo!

- Cinco chances para acertar, se errar uma...- ele deixa a resposta pairar no ar.

Franzo o cenho. "O que?" entro em pânico "Tô perdida!"

- Okay, responda a pergunta - ele sorriu de canto.

Senti vontade de chuta-lo para fora da cama, do quarto, da minha vida e jogar com toda a minha força aquela porcaria de livro idiota bem na fuça maravilhosa dele. Como um cara tão bonito pode ser tão cruel? Não poderia me dar uma "colher de chá"? Poxa acabei de chegar!

- Algo com terra... Com pó. - tento lembrar.

Massageio novamente as têmporas esperando que um milagre aconteça.

De repente uma luz se acende.

- Pulo - grito o surpreendendo.

Ele me olha confuso.

- Pula de onde? - pergunta pousando de lado o livro.

- Não é de onde. É o quê. - sorrio arqueando uma sobrancelha. - Pulo essa pergunta.

Ele me fuzila com o olhar

- Não pode pular - desdenha já voltando a abrir o livro.

- Claro que posso. Você disse que tenho que responder todas, mas não disse em qual ordem. Exijo que pergunte sobre outra casa - ele balança negativamente a cabeça, sorrindo.

- Okay. - lançou um sorriso desafiador - Qual o lema de Solty ? - pergunta arqueando a sobrancelha.

Olho em volta. "Tem a ver com fogo. Sei que tem! Mas o que?" penso.

Fecho os olhos apertando-os tanto que meu glóbulos oculares doem. "Vamos! Essa eu sei! Qual é meu Deus?"

- Okay - afirma ele lenvantando-se e pousando o livro ao meu lado. - Espero você no jantar. - dito isso ele se retira me deixando sozinha com meus pensamentos confusos.

"Que diabos aconteceu?" me pergunto.

Pego o livro, com repulsa e folheio as páginas.

Cyrus: "Sinta, destrua, construa. Nosso é o poder"

Solty: "Veja-me queimar".

Rudix: "Morremos, não nos redemos".

Vitch:  "Olhai e vigiai, o destino está nos olhos de quem vê".

Teren: "O pó é apenas o início".


"Como não pude acertar isso meu Deus?"

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