ESCOLTADA - III

57 8 1
                                    

Os muros eram altos. Uma fortaleza pálida sem vida. Os portões foram abertos após um som agudo sair de algum lugar.

- Não acredito que vocês me deixariam vir com aquele uniforme ridículo - susurrei para Luck que sorriu rapidamente.

- Seria curioso já que você é da Terra. Eles veriam realmente de onde você vem.- disse ele desviando o olhar para a multidão a nossa frente.

Todo o povoado estava ali, dividido entre dois grupos, deixando um lugar ao meio que levava até os portões da entrada do castelo. Aplaudiam e curvavam-se quando nós passávamos.

- Salve a princesa! - gritavam em uníssono.

Me senti acolhida como nunca. Sorri e assenei com a cabeça a todos. Até mesmo as crianças clamavam por mim. Todos vestiam roupas longas típicas de festa. As mulheres usavam vestidos longos com cores vibrantes. As vestes masculinas eram desiguais, uns optavam por terno, outros por roupas mais simples

Mais a frente em uma varanda cristalina, um senhor permanecia em seu assento dourado com uma pedra de gelo ou diamante em seu cetro. Sua barba era longa e branca, olhos azuis piscina destacava na expressão dura e pálida do seu rosto. A coroa nada mais era do que uma espécie de cristais (ou eram mesmo cristais) em três cilindros pontudos, sendo o do centro maior. Uma capa de gelo brilhante cobria as vestes claras e pesadas com detalhes em ouro.

O rei ergueu-se do assento na sacada da torre em que se encontrava, levantando seu cetro e como se fosse ensaiado, todos, até mesmo as crianças fizeram silêncio.

- Esta - uma pausa. - É minha filha, Hivena Snow Brok, princesa dos quatros reinos e minha herdeira! - As linhas do seus rosto tremeram e se tornaram um sorriso branco enrugado.

Franzo o cenho. "Hivena? Por acaso esqueceram de comunicar ao rei o meu nome?"

Uma mulher de cabelos negros e forte estava em pé ao lado do trono real, sua mão direita pousada no ombro de Kiron orgulhoso. Suas vestes pretas, coladas como as de Luck e sua pele pouco bronzeada. Ela não poderia ser minha mãe, pois era jovem demais.

Virei-me de lado cochichando para Luck

- Quem é aquela fortona ali? - susurro inclinando meu corpo para próximo de Luck.

- Tome cuidado - disse ele rapidamente -é Kira, sua irmã. Tem temperamento forte.

- Ótimo - susurrei revirando os olhos. Kira me olha com desprezo, não há nada de acolhedor nela.

- Daremos uma festa em boa vindas a minha filha, por toda a noite - disse o rei e a multidão que ficou euforica.

O rei e sua filha desapareceram da sacada.

Continuamos nosso tour agora no interior do palácio. Os pisos eram em grandes triângulos brancos,e entre cada um ha outro azul menor. As janelas são grandes e suas cortinas quase como areia da praia, tudo lembra praia, as cores neutras e a brisa úmida. O salão do trono é redondo, Kiron já estava sentado no trono maior, mas este ao contrário do da sacada, é de gelo puro e cristalino e ao seu lado, dois outros tronos menores em gelo também, mas estes são quase como gelo seco: foscos e esbranquiçados. Kira sentou-se a esquerda de Kiron, sobre um manto felpudo que uma moça jovem que julguei ser sua empregada, acabara de colocar.

Luck imediatamente curvou-se, mas não o fiz. Ele poderia ser rei do que fosse, mas não me curvo a um homem, pode ele ter toda a riqueza e poder do mundo. Prometi dar uma chance a ele, mas isso não muda o fato dele ter me mandado para outro planeta.

Kira olhou de relance para seu pai que fitava meu ato de desrespeito. Eles não iriam me matar (pelo menos é o que eu acho). Portanto quanto antes eu voltar para casa, melhor.

- Como ousa...- o rei interrompeu Kira com um levantar de mão.

Luck continua curvado me encarando espantado.

- Desculpe, mas não me curvo diante de alguém que desconheço. - falo rispidamente.

Espero que Kiron gire seu cetro e me transforme em cubos de gelo mas ele não o fez. Pelo contrário, deu um sorriso de canto e seus olhos brilharam. Comecei a respirar, coisa que até então não tinha percebido que havia parado.

- Como você já deve saber, terá que cumprir três prova para que eu a considere minha filha. A primeira...

- Por que me fazer sua filha? Eu estava feliz no meu planeta e tenho certeza de que Kira será uma ótima rainha - interrompo.

O trono do rei pareceu estranhamente desconfortável. Kiron mexeu-se no assento e seu sorriso desapareceu por completo, tornando-se amargo e frio novamente.

- Kira apesar de também ser minha filha, não foi presenteada com poderes e mesmo sendo a mais velha, não pode exercer o cargo de rainha - suas palavras soaram tristes e decepcionadas.

É então que percebo o porquê que ela precisou forrar seu assento. Claro! Ela sente frio! Eu mesma não iria querer sentar em um trono de gelo correndo o risco de congelar minhas nádegas nobres.

- Sinto lhe dizer, mas não sei nada sobre seu reino e tão pouco sobre suas tradições. Estou impossibilitada para o cargo... - Antes que pudesse terminar meu drama o rei interrompeu.

- Luck servirá exatamente para isso. Ele lhe ensinará tudo que necessita saber.

Após o debate sobre quem iria ser rainha, fui mandada para a torre simples. Subi vários lances de escada até chegar em meus aposentos.

Alguém precisa avisar a eles que já estamos no século XXI. Eu até que aceitei de boa o castelo e tudo. Mas escadas? Cadê a tecnologia ET deles? Não poderiam ter um elevador?

Nota mental: Criar um elevador ( urgente!)

Uma das servas me trouxe uma bandeja com comidas que jamais comi antes, mas que estavam deliciosas. Minha teoria estava certa, acabei sendo a dona da torre toda branca, mas eu a mudaria. Pensei em um piso branco mas com detalhes em creme, a cama seria em dossel dourada com enormes véus azuis claros e toda em ouro, a janela possuiria as cores dos véus da cama, o closet seria em creme e branco e os criados mudos teriam a cor da areia da paia, pensei também em um tapete felpudo azul claro em baixo da cama cobrindo parcialmente a extensão do quarto. Obedecendo meu desejo, o quarto transluziu e tudo passou de branco para, creme,dourado, e azul de acordo com o que eu havia pensado.

O banheiro era maior que meu antigo quarto, a frente havia uma porta para o closet imenso, do lado esquerdo uma banheira oval branca com bordas em ouro, mantinha-se cheia com espumas até a borda, mais atrás, uma enorme porta toda de vidro, levava a um jardim particular, no centro uma fonte redonda com um urso dourado cuspindo água cristalina.

Tomei um ducha e deitei. Não tinha percebido o quão cansada estava até deitar e não ver mais nada.

Herdeira De Gelo Onde histórias criam vida. Descubra agora