SEQUESTRADA

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Hannah

Feixes de luz entravam em meus olhos entre abertos, os fazendo lacrimejar acostumados com a escuridão. Levo a mão à testa, afastando os fios suados e grudentos.

Percebi um barulho alto e desagradável vindo de algum lugar, como um liquidificador logo de manhã, só que dessa vez bem mais alto, quase como se mamãe estivesse fazendo de propósito para me fazer acordar. Mas então, ouvi uma voz ao fundo. Uma voz masculina que não consegui associar a ninguém.

Abri lentamente os olhos, piscando algumas vezes para acostuma-los com a claridade. Foi então que percebi onde estava. O ambiente era fechado e pequeno, não cabendo mais que quatro pessoas ali dentro. Tudo era branco e metálico. Do lado esquerdo da minha cama havia uma barra de ferro que ia do piso ao teto, com uma bolsa de soro.

Olho para baixo, e então vejo dois homens tão grandes quanto a própria caixa metálica em que nos encontravamos. Eles murmuravam algo um para o outro, mas eu não entendia o que diziam por causa do som das hélices. E então um deles desviou o olhar do seu companheiro e fixou em mim, fitando-me. Seus braços eram musculosos e fortes, ombros largos, pernas grossas e torneadas. Sua pele era de um bronzeado não natural e seus cabelos cacheados rente á nuca. Suas vestes eram escuras e pesadas como se esperassem um temporal. E ao julgar o lugar onde moro, diria que não estamos indo dar uma voltinha no quarteirão.

Vejamos as possibilidades: uma linda moça acorda em um helicóptero rumo a qualquer lugar do mundo, com dois brutamontes incrivelmente lindos e fortes, do tipo estripers em despedidas de solteira. Apesar de a moça ter os seus 18 anos completos, ela só beijou uma vez na vida ( foi um incidente) e, claro, ainda é virgem.

Claro, se eles chegassem sorrindo de canto soltando "Vamos dar uma voltinha conosco no nosso helicóptero? Prometo não fazer nada que você não queira" Talvez, e somente TALVEZ, eu não fosse me importar tanto se eles iriam ou não tirar minha incomoda virgindade, pelo simples fato de serem os homens mais gostosos que já vi. Mas quando não se há escolha, e você está presa com eles, querendo ou não, com aqueles braços fortes e sarados eles tomariam meu tesourinho rapidinho.

Desvio o olhar para a porta. Meu coração martelando forte no peito. Eu não os conhecia, mas coisa boa não eram. Lembrei que a ilha em que eu moro é, bem, uma ilha. Então, qualquer lugar que eles queiram ir comigo, teram que passar pelo mar.

O que mais posso fazer? Olhei dentro de seus olhos amendoados antes de me lançar contra a porta e abri-la.

Num instante, a força gravitacional me puxou para fora, no outro, minhas costas reclamavam de uma dor insuportável, e então, ele estava em cima de mim, sobre minha barriga, com uma perna em cada lado do meu corpo, pondo todo seu peso sobre mim.

Atordoada, examino o local. Ainda estou dentro do helicóptero deitada no piso metálico, entre a porta ainda aberta, e a pequena cama. Encaro o agressor por um instante, até que a raiva ardeu novamente dentro das minhas veias. Jogo o joelho na direção das cortas do homem com toda força, mas ele em nada reclamou. Então parti para um novo golpe. Girei a perna em direção a cabeça dele, seus olhos castanho se arregalaram antes que minha perna o trouxesse para trás pela garganta que estava enroscada em meu calcanhar. Ele agarrou minha perna mas não conseguiu livrar-se. Seu corpo apesar do meu esforço, não estava agindo da maneira pretendida. Tive que usar a outra perna, colocando em forma de ioga e finalmente o homem cedeu. Derrubei-o e antes que ele pudesse revidar, levantei em um pulo chutando-lhe as têmporas e então ele desmaiou.

Respiro profundamente, me apoiando com as mãos nos joelhos flexionados. Limpo a testa soada, ate que percebo pelo canto do olho, a presença de alguém. Lembro rapidamente, do segundo homem presente no local. Giro os calcanhares já preparada para um novo ataque até perceber que não havia só um homem a minha espreita e sim dois. O primeiro era aquele que conversava com o que eu derrubei. Encaro o segundo cara, atrás do anterior, um mais jovem que me estuda silenciosamente. Se a sala fosse um pouco maior e eu estivesse mais distante, não perceberia o par de pupilas cinzas me observando cautelosamente, mas sua expressão era neutra, como se não houvesse um homem desmaiado no único espaço disponível para caminhar

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