DEIXADA

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Hannah

Já estávamos muito próximos dos animais quando Luck me fez parar.

- Três animais. Uma escolha. Pense em qual deles a servirá e lute. Não será fácil, mas se vencer, pode ficar viva e ainda levar de brinde uma dessas criaturas. - ele pousou as mãos sobre meus ombros e virou-se lentamente para ficar de frente para mim. - E por favor - seus olhos eram sinceros e quase pude vê-los encher de lágrimas - Não. Morra - disse ele pausadamente apertando meus ombros.

- Não morrerei. Pelo menos não antes de derrotar você com uma espada.- ele gargalhou secamente e depois largou-me a sua frente antes de dar vários passos para trás ainda me fitando, até desaparecer por entre a névoa.

Luck me fez parar aqui, e é onde exatamente estou. Não ousei dar mais nem um passo a frente. O que quer que tenha aqui no local, está mantendo de alguma forma, as criaturas exatamente onde estão; presas por um tipo de proteção ou feitiço invisível, onde não as deixa vir em minha direção. Mas ainda sim consigo sentir o forte poder de Kiron emanado de todos os lugares.

Volto os olhos em direção as criaturas. Examino os três animais me perguntando qual deles me mataria mais rápido ou o que pelo menos não me faria sofrer enquanto me mata.

Sou pessimista, eu sei, mas nesse momento, quando se está face a face com a morte, é melhor aceitar e tentar morrer da melhor forma possível.

Minhas esperanças sumiram quando fui impedida de trazer qualquer a arma do meu arsenal. Todos pareciam querer de fato a minha morte. E Kiron pouco se importa se a última garota com chances de ser sua filha, vai ou não morrer hoje.

Levando em conta todos os dias que passei aqui. Tenho plena certeza que o pouco que aprendi, não ira me ajudar em nada aqui. Vou morrer antes de poder dizer a todos o que sinto. Que por mais que eu tente, não consigo tirar Luck da minha cabeca, que mesmo com dores, sofrendo por um amor não correspondido, meu coração bate por ele, por sua face fria, por sua voz aveludada com um timbre que faz tremer meu coração e borbulhar meu sangue. Estou ciente do carma que carrego; gostar de alguem que nao gosta de mim. Mas agora, sabendo que não terei mais chances de faze-lo me amar, de contar a ele o que sinto, tudo parece em vão.

Me sinto morta por dentro. Meus pais me enganaram a vida toda (aliás, todos os país que já tive, mas não lembro), o meu recém descoberto pai parece querer me matar, me pondo aqui com essas feras sem qualquer arma ou um treinamento adequado para meus poderes. Minha "irmã" me quer morta, e o cara pelo qual estou apaixonada me surra todos os dias, 5 horas por dia. O que mais posso fazer? Existir para eles mas não viver para mim? Não. Chega. Estou farta de ser saco de pancada.

Do lado esquerdo, uma cobra de talvez 30 a 50 metros de altura, siliba e lança freneticamente as duas línguas para fora, está por sua vez, possui duas cabeças exatamente iguais, verde e marrom. Cada cabeça possui presas afiadas, cobrindo todo o contorno externo da boca onde a gosma verde ácida e tóxica escorre por entre os dentes e cai sobre a neve que é dissolvida rapidamente, e dela fumaça emerge do solo, enquanto isso, o rabo do animal em uma lâmina metálica, vai de um lado a outro esperando penetrar em minha pele. Com certeza me mataria lentamente, por puro prazer.

A cobra mutante não é uma opção

O segundo animal, está mais atrás, ainda do lado esquerdo em relação a cobra, ele é uma espécie de gato cinza gigante,cada pata, possui três grandes lâminas curvadas como uma foice, seus olhos: um azul e outro verde, carregam um brilho cruel, seu corpo luta para se desvencilhar do feitiço que o prende ali. Seus dentes são pequenas pontas de canivetes que cobrem todo interior da primeira boca, a segunda está inclusa na primeira o que o torna ainda pior que a anaconda mutante do lado.

Fecho os olhos apertando-os tanto que chega a doer. 

Respiro profundamente.

Tem que ser o próximo

Por fim, o terceiro. A mais bela criatura que já vi e que ao contrário dos outros, este não tenta desesperadamente livrar-se do possível feitiço do rei, apenas espera, indo de um lado a outro, da esquerda para direita e visse verça. Seus olhos são de um amarelo vivo, a testa é preta assim como o focinho. O verde, amarelo e vermelho, estão em uma mistura deslumbrante, sendo assim as enormes asas de um encarnado fosco, tendo em seguida barriga em tons amarelado, quase um coral, as patas musculosas e torneadas abrangem a coloração verde.

O olhar dele me examina minuciosamente, de sua boca saem larvas de fogo derretendo toda a neve em sua volta, revelando a terra avermelhada sob suas patas.

Nas melhores das opções, o dragão ali seria uma ótima escolha, tirando o fato que ele derrete a neve.

Ele derrete a neve!

Ta legal. Respira Hannah. Se ao menos eu soubesse lidar com espadas, seria uma vantagem, pois meu único trunfo sobre essas criaturas são meus poderes.

Ele também lança fogo a distância! E se eu o escolher, ele poderá voar e só pousar para me transformar em carvão!

Merda.

Com a cobra e o gato seria mais fácil, pois eles estariam em solo e eu poderia de alguma forma usar o que sei fazer com meus poderes. O que não é lá muita coisa. Mas também a morte é iminente então devo escolher o melhor meio de morrer, pelo menos uma forma de morrer inteira.

Em meio ao solo branco, encontro um cilindro pequeno. Uma ponta de esperança ressurge em mim enquanto recolho o pequeno pedaço de metal do chão.

-Segure-o firme. Ele irá transformar-se em um bastão- disse David. - Apóie-se nele e poderá saltar em até 3 ou 4 metros. Será uma grande vantagem contra seu oponente.

Eu posso ser um fracasso com espadas, mas sei lidar com um bastão muito bem.

- Que seja! - grito dando pequenos passos. Assim que me movo, campos de força são criados em volta de duas das três criaturas. Praticamente o mesmo que criei no primeiro dia de treinamento, mas com certeza esse é mais forte, pois foi feito por Kiron. Forte demais suponho eu.

A larva escorria da boca do dragão a medida que andávamos em circular - o que é bastante estranho para um dragão fazer, já que ele poderia cuspir fogo e me matar logo de uma vez.- em pouco tempo o circulo-limite já havia sido formado por sua larva, e prosseguia sua verificação a mim.

Vamos lá! Quantas vezes você já fez isso?
E quantas vezes já perdi?
Todas. Mas você sabe os golpes!
Mas ele é um dragão!

Que merda!

Terminado o debate interior, ergo o punho fechado em volta do cilindro e rapidamente ele triplica de tamanho até tornar-se um bastão de um metro e meio.

-Tomara que não conheça a história do cavalo de tróia! - grito em plenos pulmões.

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