LOUCA? - II

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Estou num corredor.

Minha visão embassada.

Tudo gira.

"Érica?"

As palavras não saem, como seu eu estivesse esquecido como falar.

"Érica!!!" grito, mas não emito um só sussurro.

Me arrasto segurando na parede esquerda do corredor. Um borrão escuro, turvo, graças ao que se assemelha a um véu sobre meus olhos.

Tudo gira, sem perspectiva ou forma.

"Onde estou?"

Sinto a fraqueza consumindo o último resquício de poder e de energia do meu corpo.

"O que está acontecendo comigo?"

Encosto as costas na parede, escorrego sentando no piso gelado e  abraço os joelhos.

"Isso é loucura!"

Olho para os dois lados do corredor sem fim, sem enxerga-lo realmente.

"Érica, onde você está?"

O no na garganta cresce junto com aquela angústia.

Balanço para frente e para trás apertando tanto os olhos que os glóbulos oculares doem.

"Estou ficando louca"

Sinto sob mim um tremor quase imperceptível.

"Passos" penso.

Levanto em um salto, piscando inutilmente para tentar enxergar algo.

- Vamos! - homens gritam

"Guardiões"

Olho para o final do corredor, a tempo de ver silhuetas marrons correrem.

Ouço um rugido alto, tão distante que parece ser coisa da minha cabeça. Um clamor de dor, que encheu meu coração, e penetrou cada parte do meu corpo. Algo agonizante, indescritível, fazendo meus pelos se eriçarem. Então eu entendi: o Dragão estava em perigo. O meu dragão!

Meu peito estava cheio de sentimentos, bem mais dolorosos do que tudo o que eu acabo de sentir, uma dor profunda, que gerava mais que uma sensação, mas, um sentimento que eu não consigo identificar. Eu quero... Vingança? Contra quem?

Parte de mim sabia o quão irracional era aquilo, um animal grotesco, selvagem, mortal, contudo, a outra parte sentia que era bem mais que uma fera, um dragão que perante todos é uma ameaça. Feri-lo se tornou pior do que ferir a mim mesma.

Quero bem mais que apenas vingança. Quero matá-los.

Matar! Matar!

"Matar todos os guardiões!"

Endireito o corpo, e em só uma piscadela, minha visão torna-se perfeita. Aguço os ouvidos que voltam a funcionar perfeitamente, como se nada tivesse acontecido.

Ergo as mãos e vejo o poder na ponta dos dedos, visível aos olhos, um fogo azulado cintilante.

Mais um rugir.

Minhas pernas se moveram rápido, correndo, irrompendo o espaço entre eu e aqueles guardiões, me aproximando cada vez mais, numa velocidade surpreendente.

Minha visão veloz, as paredes e a proximidade com os guardiões, e todos os seus movimentos eram lentos demais.

Meu coração martelava forte no peito, preparado para uma luta, não como na noite em que Kira me derrubou, quando meus passos é que estavam lentos. Dessa vez, tudo em volta estava em câmera lenta, enquanto eu me movia surpreendentemente rápido, mais que preparada, eu tinha um objetivo. Não lutar, não conversar.

Matar.

Eles param, e olham para trás erguendo suas espadas e formando uma barreira humana para que eu não passe.

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