MORTA

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Luck

Após sair daquele ambiente hostil, deixando apenas um cilindro de bastão para Hannah, fui em direção a sala do trono, onde o rei e sua filha mantinham-se sentados em seus tronos, assistindo a garota em sua mais terrível decisão.

Do cetro de Kiron, um feixe de luz formava a extensa tela com imagens da moça.

Sentei-me no terceiro trono vago. Dando a total atenção a imagem de Hannah dentro de um círculo de fogo com a criatura das profundezas de meus pesadelos.

A garota girava no sentido ante-horario junto com o animal prestes a atacar. Eu poderia até mesmo ver as engrenagens funcionando dentro da cabeça de Hannah em busca de um meio de vencer o dragão.

Por que justo ele Hannah? Você está vulnerável!

Lembro de todas as pessoas que já tentaram domar ele. E todas, inclusive Kira sofreram uma quase morte. A lenda é clara. Mas como Hannah poderia saber se eu mesmo não quis comentar?

Me acomodei melhor no assento apoiando os cotovelos nas coxas e o maxilar sobre os dedos entrelaçados das mãos.

Hannah ergueu os braços assim como David a ensinara, e no mesmo instante o bastão estava armado e pronto para o uso, mas diferente do que imaginei, a garota não partiu para o ataque afim de derrubar o animal, e sim, arremessou seu corpo o apoiando no bastão sobre o solo, caindo em um arco de parábola exatamente na vasta boca do dragão, que a engoliu rapidamente.

Levo as mãos a cabeça apertando-a em um pulo desesperado. Ouço um barulho estarrecedor e abafado até notar que ele havia saído de mim.

Como Hannah fez isso? Como pôde fazer isso? Ela falou que não morreria. E mesmo que eu soubesse que seria difícil, ela não poderia ter dado-se por vencida! Não sem lutar!

Olho apavorado para o lado, onde o rei permanecia imóvel, o desgosto estampado em sua face enrugada. Kira mantinha-se sentada ao seu lado, seus olhos negros brilhavam satisfeitos, mas ainda, entediada, como se aquela que agora tinha sido engolida por uma fera, não pudesse ser sua própria irmã.

Kiron tocou o cetro no piso branco reluzente e imediatamente a tela desapareceu e com ela a luz do ambiente, deixando tudo mais tenebroso. Saio do salão em passos largos e pesados.

Tenho que bater em algo!

Depois de alguns poucos minutos,três dos quatro guardiões que treinavam comigo, já estavam ao chão, exaustos e com hematomas no rosto e no corpo. O quarto continua de pé, com as costas curvas e as mãos apoiadas nos joelhos, arfando, suado e com o canto da boca sangrando, o nariz provavelmente quebrado.

O estrondo fez-me virar para porta entre aberta. David estava ali, de pé ofegante, falando algo que era mais como um sussurro. Depois de inspirar profundamente para balbuciar alto e em bom som, corro mesmo cançado em sua direção.

Seguro seus ombros.

- O que?- grito.

Ele olha no fundo dos meus olhos - Ele está passando mal! Talvez... Talvez ela não esteja morta.

Empurrei-o de lado e corri o mais rápido que pude a sala do trono.

Ela está viva! Tem que estar!

O rei estava em pé, bem próximo a tela que provia de seu cetro. Seus olhos azuis estavam vermelhos e deles lágrimas transbordavam sem cessar. Kira estava ao fundo da sala, encostada em uma das colunas com os braços cruzados sobre o peito.Trombuda.

Volto a olhar a tela a tempo de ver a criatura contorcendo-se. Ele vomita Hannah, sem roupa alguma, encolhida com o líquido gosmento da alimentação do animal. Antes mesmo de recompôr-se, a garota levantou com dificuldade, estendeu a mão e o bastão surgiu, tocando o peito do animal.

O dragão parecia confuso, talvez não soubesse o que estava acontecendo. Por fim ele pois uma das patas a frente e curvou-se diante de Hannah. Kira bufou logo atrás, decepcionada.

Ela venceu! Venceu!

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