Pego um vestido curto azul claro no closet e sigo para o quarto sentindo minha pele formigar de tanto esfregar a bucha para sair aquele cheiro podre do meu corpo. Não é o tipo de aroma que eu queira levar comigo quando for falar com Luck.
Abro lentamente uma fresta da porta do quarto e percebo não só dois, mas quatro guardiões de guarda.
Franzo o cenho.
Por que aumentariam a segurança do meu quarto?
Ao perceberem minha presença, primeiro seus olhos ficam confusos oscilando entre um pensamento e outro, depois eles se entreolham assustados e abrem caminho com uma reverencia, para que eu passe.
Sigo pelo corredor gelado ainda sem saber o que aconteceu. Verifiquei meu aspecto antes de sair, e pela primeira vez, não tem nada errado comigo. Meus cabelos estão molhados, mas ruivos, um sinal de que ainda não usei meus poderes. E apesar desse aspecto cansado, e uma leve perda de peso, não ha nada que tenha causado tal ação naqueles homens ali atras.
Érica aparece logo a frente, virando a esquerda em direção a meu quarto. Seus olhos estão inchados, o uniforme que antes era cinza, agora foi trocado por um todo negro. Ela parece tão cansada e tão magra quanto eu.
No momento em que seus olhos encontram os meus, um faísca bilha, seus pés começam a se mover mais rapidamente, numa passada quase como correndo.
Sinto imediatamente o conforto quando me enlaço em seu abraço acalentador.
— Shiii... pequena, está tudo bem — sua voz soa abafada, entre o encontro do meu pescoço com a clavícula.
Sorrio pela a ironia de ser um pouco mais alta que ela e ainda me sentir tão pequena quanto uma criança.
Soluço sentindo as lagrimas escorrerem por minhas bochechas. Não um choro de desespero ou tristeza. Mas sim um choro de alguém que apesar de dificuldades enormes, ultrapassou uma barreira quase letal, e encontrou a vitoria do outro lado. Alguém que enfim, depois de mais de uma semana de muitas dores físicas e torturas psicológica, sente que pode enfim respirar. Seus pulmões liberam o medo que sentia e agora se enchem de paz e esperança de algo melhor.
— Érica, eu consegui! — me afasto para encara- la. Eu precisava olhar em seus olhos, saber que tudo realmente tinha acontecido, que o improvável se tornou provável, e que minha morte iminente era apenas o medo e o capiroto agindo novamente.
As lagrimas estavam ali. Mas havia algo a mais em seus olhos. Sim, estava alegre, senti isso em seu abraço. Mas tinha alguma coisa ofuscando o brilho da alegria que eu tanto esperava ver. Ela não vibrou com o meu sucesso como eu gostaria que tivesse acontecido.
Meu sorriso diminui e aquela euforia do inicio, aquela que me dizia que eu tinha feito o certo, que eu tinha conseguido e que me aplaudiriam por isso, desapareceu. O capiroto fungou no meu cangote mais uma vez. Parecia ter tomado o lugar da minha sombra, e agora não queria mais largar meu calcanhar.
— O que aconteceu?— minhas palavras soaram amargas.
Ela envolta meu braço com seus finos dedos trêmulos e me guia novamente ate meu quarto.
A porra ta seria...
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Herdeira De Gelo
FantasyHannah, uma garota como qualquer outra da sua idade, com apenas a preocupação de não saber o que cursar quando terminar o ensino médio, se vê em uma situação inexplicável no momento em que suas ações se tornam questionáveis. Depois do estranho e tem...