Já passaram-se horas, ou talvez dias. Meus estômago está um vácuo e meu corpo treme pela falta de proteínas e carboidratos.
Fome.
Uma palavrinha tão pequena para o tamanho do buraco em meu estômago. Ela simplesmente não representa o estado em que estou. Só consigo imaginar pedaços de bife acebolados envoltados por uma camada fina de calda da própria carne mal passada, estalando sobre a panela e trazendo consigo o aroma maravilhoso da mistura que há ali.
Olho para as minhas mãos e imagino esse bife ali, num prato bem posto e decorado como daqueles restaurantes finos, não que isso fosse relevante, mas isso conteria meu instinto carnívoro para saborear, ao invés de jogar tudo guela a baixo sem a quantidade mínima de mastigação necessária tenha sido feita.
Um estalido me põe em alerta.
Aguço os ouvidos e pisco algumas vezes procurando a fonte daquilo.
Um som arrastado e grave invadem a cela. Som que desde quando entrei por aquela porta não havia ouvido novamente.
Passos.
Me arrasto engatinhando sobre o piso gelado até a porta, e como um cãozinho, sento sobre os tornozelos e espero pacientemente uma pratada de comida como aquelas de pedreiros vir em minha direção.
O que me surpreendeu não foi nem as mãos vazias do meu visitante ali, foi quem vinha de mãos vazias.
Após a enorme porta se arrastar, meu estômago chora pelo prato inexistente. As mãos trêmulas do Mestre Filegein me partem o coração.
Como ele pode vir aqui sem um carocinho de feijão?
Espero que em baixo de todo esse tecido azulado tenha uma barrinha de cereal, se não, ele vai falar com as paredes. Não darei a mínima para o que quer que ele tenha a me dizer.
Ele se agacha com uma facilidade irreal para alguém velho como ele e me olha com um olhar penoso.
Deveria ter me trago ao menos uma tigelinha de sopa.
- Minha rainha - ele baixa levemente a cabeça numa mine reverência.
Acho que ele não está à par das últimas notícias.
- Ouça com atenção. Temos pouco tempo - proceguiu ele ignorando minha carranca. - Amanhã haverá o Encontro Branco e o rei não poderá deixá-la de lado, já que foi apresentada oficialmente como a Herdeira.
Uma luz acende em minha mente e de derrepente todos os pensamentos em comidas diferentes somem para apenas um: liberdade.
Ele acena positivamente com a cabeça quando percebe que entendi o que ele quis dizer.
- Ouça. Haja o que houver, comporte-se como se nada estivesse acontecido. Ou o rei não dará a mínima para essa data e a colocará novamente aqui.
Sem comida... Água... banheiro...
A humilhação de ter que urinar novamente num tipo bizarro de vulcão de Gelo que fiz para que o líquido não escoasse para o restante da cela.
O simples pensamento faz meus pelos se eriçarem.
- Não po... - sinto minha garganta arde.
Estou a muito tempo sem falar.
- Não se esforce. Logo sairá daqui. Só siga minhas instruções. NÃO FAÇA CONFUSÃO. - ele ergue seu corpo ossudo e me olha por um instante - E mais uma coisa: não reclame. Algumas coisas mudaram desde sua saída. E uma delas foi sua serva.
- Que bom - consigo murmurar
Ele balança negativamente a cabeça.
- A serva teve motivos para fazer o que fez. Espere e verá que nada nunca parece o que é.
Dito isso ele dá as costas corcunda e antes de fechar a porta atrás de si, joga um pequeno frasco de no máximo 10 ml de um líquido viscoso branco.
Seguro firme aquele frasco, arranco a rolha do gargalo e o ponho sob o nariz afim de sentir seu aroma.
Nada.
Assim como água. Não há cheiro algum.
Seria essa mais uma ilusão de Kiron? O conteúdo nesse frasco pode ser uma passagem só de ida para o mundo dos mortos?
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Herdeira De Gelo
FantasyHannah, uma garota como qualquer outra da sua idade, com apenas a preocupação de não saber o que cursar quando terminar o ensino médio, se vê em uma situação inexplicável no momento em que suas ações se tornam questionáveis. Depois do estranho e tem...