VITÓRIA!

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Hannah

Ofego.

Um odor podre vem a minhas narinas.

- Mãe! - grito ainda sonolenta

Espero um tempo para ouvir sua voz gritar de volta, mas nada. Apenas o silêncio.

- Mãe! O Totó fez coco de novo no meu quarto! - grito novamente.

Que dia é hoje? Será que ela já saiu pro trabalho?

Droga. Vou ter que limpar.
Como diabos ele entrou no meu quarto?

Tiro os fios do meu rosto e espero que meus olhos se acostumem com a luz.

- Que cheiro pobre é esse? - rodo o perímetro do quarto até me dar contra que o odor está impregnado em mim.

Olho ao redor até perceber o ambiente estranho em que me encontro. Não estou no meu quarto.

Pouco a pouco começo a reconhecer o lugar. Todas as imagens se alinham, se arquivando em ordem, acelerando, animando as fotos em um filme da minha vida. Um filme que mostra como vim parar em Tifon, dentro do meu novo quarto e com um odor horrível impregnado em meu corpo.

Sorrio.

— Oh meu Deus! Eu consegui — falo em voz alta, como se isso tornasse o acontecimento mais real — Eu tô viva! — grito

Uma alegria toma meu ser. Um sentimento de felicidade. Eu consegui. Sobrevivi! Como fiz isso meu Deus!

Sento na beirada da cama fitando o nada.

Há uma semana atrás, se alguém me dissesse que eu lutaria e ganharia de um dragão, sinceramente eu riria da cara da pessoa ate minha barriga doer.

Fico repensando em como consegui fazer aquilo. Como tive força e poder suficiente para sobreviver. Não pensei que funcionaria. E na verdade, no fundo eu sabia que era o fim, eu iria morrer. Mas então, um filme passou novamente pelos meus olhos, mostrando todas a dificuldades que passei para chegar ali e tudo o que aprendi sobre mim, meus poderes e o pouco que sei sobre essa nova e estranha família. Não poderia morrer ali, não sem saber tudo sobre mim.

— Você é do reino de Cyrus, nascida de gelo. Só sentirá frio se assim quiser — lembro do que Luck disse quando cheguei a Tifon.

- Tomara que não conheça a história do cavalo de tróia! - grito antes de me lançar com o auxílio do bastão para dentro da boca dele.

Me encolho para evitar que suas presas me mastiguem, e forço uma descida escorregadia por sua garganta. O fedor de carne podre torna ainda mais difícil a sobrevivência onde o oxigênio é quase inexistente.

Sei que preciso fazer algo antes que seu corpo lance o ácido digestivo em mim.

Continuo a descer verticalmente por sua enorme garganta, um corredor escuro e escorregadio, que me empurra a cada segundo para a primeira parte da digestão do animal.

Preciso fazer algo. O plano é atingi-lo de dentro pra fora. Mas o que eu não contava, era com o calor que faz aqui dentro. Não há corrente de ar, é apertado e superaquecido.

Meu corpo soa e o pouco oxigênio que trouxe em meu pulmões e na passagem de quando entrei no corpo do dragão está escasso.

Meus braços estão presos ao lado do meu corpo, e não posso mexe-lo ou então sua garganta se contrairá mais, deixando o espaço entre meu rosto e sua pele, menor, e assim, impedindo que eu respire.

Seguro firme o bastão desarmado na mão esquerda e espero o momento certo para usá-lo, isso se eu conseguir, já que nada posso ver.

Preciso sentir quando o caminho estreito da garganta da fera terminar, pois depois dá-li, não conseguirei voltar.

Herdeira De Gelo Onde histórias criam vida. Descubra agora