CURIOSA

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Um arrepio sobe por minha espinha assim que meus pés tocam o solo da arena.

Impossível esquecer os momentos que passei aqui, a morte iminente, a luta contra o dragão e todos os demais momentos que ocorreram após minha escolha.

A névoa ainda era densa e não havia um só animal ali, exceto ele, o meu animal. De alguma forma eu o sinto, próximo, tão próximo que eu não preciso vê-lo para saber exatamente onde ele está.

O nevoeiro pouco a pouco se move e um borrão escarlate surge por entre ele.

Meus passos eram lentos e os dele igual. Eram passos contidos, passos hesitantes, mas permaneciam em uma unidireçao, ruma àquela criatura.

Seus olhos estavam de um vermelho profundo e eu quase podia me ver através deles, mesmo à distância. O pulsar do seu coração ecoava e a brisa levemente fria deslizava por sobre meu corpo.

Eu queria correr até ele e ao mesmo tempo voltar e dar às costas para aquele que foi culpado por minha perda e por tantos outros problemas.

- Finn - murmuro

O dragão se aproxima até a distância ser mínima entre nós. Ele se curva em uma reverência e volta a me olhar. Suas pupilas adentrando cada espaço como se tentasse saber o que se passa por minha mente. Profunda e confusa mente.

Ergo a mão esquerda e ele imediatamente direciona sua enorme cabeça para que eu possa tocá-la.

- Onde vamos? - pergunto acariciando suas escamas quente.

Parecia uma eternidade que o meu toque havia estado tão próximo dele. Prazerosa era a sensação de tê-lo novamente em minha palma. Meu coração martelava como uma criança ao receber seu presente de Natal.

O dragão funga e em um só ato, desaba seu corpo sobre a neve, desprendendo flocos gélidos pequenos do solo. Ele abre a enorme bocarra em um bocejo e se esparrama no solo fazendo subir pequena ondas de fumaça emergidas da neve evaporada com o contato quente do seu corpo.

"Ele saberá"

Ha! Que idiota pensar que a criatura me entenderia.

Gargalho baixinho.

-Aaaaa sanidade... Onde te deixei? - dou a volta e me sento ao seu lado, próximo a seu abdômen.

- E aí? Alguma ideia? - pergunto - Sabe que hoje pode ser meu último dia viva, deveria aproveitar. Não sou tão má dona assim. - sorrio de canto.

Ele endireita seu enorme corpo.

"Será que entende realmente o que eu falo? "

-Aí! - algo me bate por trás.

Vejo seu rabo se movimentando novamente para um novo golpe.

"Que diabos"

Levanto em um salto e o vejo golpear o ar.

-Ei! O que tá querendo fazer? Por que está me batendo? - coloco as mãos na cintura indignada.

Finn bufa entediado.

- Criatura malvada - lanço

Finn ergue seu corpo e curva a parte dianteira, fazendo-a ficar um pouco mais baixa que a traseira.

- Você quer brincar? - interpelo.

Ele prossegue na posição como se aquilo pudesse fazer algum sentido pra mim.

"O que ele quer?"

Por fim, não satisfeito, o vejo sair da pose e vir em minha direção.

- O que foi? - ele continua se aproximando - Finn, o que você quer? - recuo.

Ele ultrapassa meu espaço vital e eu continuo recuando.

- Finn, para! - espalmo o ar.

Ele ignora meu pedido e continua se aproximando.

"Será que ele tá com fome e eu sou sua próxima refeição?"

Esse simples pensar faz minhas pernas se moverem em sentindo contrário.

"Ele quer me comer?"

Começo a correr quando o vejo me seguindo.

- Finn! Pará com isso! Não tô... Pra brincadeira! - falo um pouco ofegante.

Continuo correndo até que em algum momento ele me alcança.

Sinto algo úmido e gosmento escorrer por minhas costas. O líquido morno cheira a tudo. Tudo podre.

-Eca! Que nojo! - paro e o fito com desaprovação - Por que me lambeu seu nojento? - cruzo os braços sobre os seios.

A criatura gira ao redor do rabo como um cachorrinho e logo volta para a primeira posição. Como uma espécie de reverência. Seu corpo continua curvado até que eu tenho a brilhante ideia de verificar suas costas.

"Deve ter algo o incomodando aí"

Sigo e fico na ponta dos pés ao lado do seu corpo para ver o que ele quer me mostrar em suas costas.

- Finn, o que você quer? - respondo quando não vejo nada de estranhos em suas costas - Sabe que não falo Dragonês. Impossível eu adivinhar o que você quer.

Analiso novamente.

- Me solta! - seu rabo impura minha bunda pra cima - Finn, que diabo você tá fazendo? Me deixa sair! - quando finalmente ele me joga desajeitadamente sobre suas costas.

Olho ao redor.

- Isso tudo porque você queria que eu subisse em cima de você? - Sento sobre os tornozelos e admiro o ponto de interrogação enorme.

- Devagar! - ele endireita seu enorme corpo me fazendo desequilibrar.

Seguro algumas das suas escamas da escapula e sento colocando uma perna a cada lado do animal.

Ele continua em seu percurso até chegar numa das extremidades da arena.

- Finn - ameaço - O que você pretende fazer? - O observo tocar o rabo no muro da arena e olhar fixamente para o outro lado, a metros de distância.

- Não! - falo quando percebo o que ele realmente quer fazer - Finn, não se atreva!

Seu corpo se move rápido, suas pernas aumentam a velocidade progressivamente. As asas se esticam e crescem de tamanho.

Ele salta.

- Finn!

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