ESCOLTADA - II

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Chegamos até um ponto onde uma ponte de cristal liga um lado e outro de um precipício que rodeia todo o muro do reino.

O reino é enorme, com casas simples. Possuíam não mais de dois andares, o teto era como o restante do reino, escuro e sombrio. Tudo encoberto pela neve densa, e em cada casa uma bandeira mantinha-se erguida com o urso e seu floco de neve. Não havia pessoas nas ruas, e as casas estavam vazias, desertas. O vento continuava assobiando entre as brechas dos imóveis desocupados.

Me aproximo um pouco mais de Luck, sentindo calafrios por todo o corpo, e lembrando que não sinto frio, foi quase como um pressentimento de que algo está errado. Quase como se o capeta fungasse no meu cangote, rindo macabro, enquanto observa minha caminhada para a morte.

Mesmo sendo escoltada por Luck e seus três cães de guarda, a morte ou tortura é quase o único destino que vejo em meio a esse tapete branco. Quase como se lê-se minha mente, o rapaz ao meu lado me encara com um sorriso largo.

- Não tenha medo, seu pai organizou uma surpresa para você - seus olhos cinzas brilharam enquanto o hálito fresco saia de seus lábios. Quase instantaneamente, senti o peso dos meus ombros sumirem e o fungado impertinente do capiroto desaparecer.

- Se vocês não me jogarem em uma arena para lutar com um urso polar que vocês parecem amar, por mim, tudo bem. - dou de ombros.

- Falando em enfrentar ursos...- seu sorriso desaparece e ele passa a encarar novamente o horizonte a sua frente. - Você terá de passar por 3 provas antes do Sr. Kiron aceitá-la como filha.

- Que seriam...- O incentivo a falar.

- A primeira, eles iram dar a você a tarefa de escolher um objeto ou um animal. A segunda será ficar durante uma noite inteira em uma cabana escura no meio do nada.

- Ótimo - interrompi revirando os olhos.

- E a terceira só será possível se você concluir as duas primeiras.

Percorremos por mais alguns instantes antes de avistarmos aí longe o castelo real. Olho de soslaio para Luck que mantinha ainda aquela sua expressão neutra.

- Um castelo? Sério? - falo revirando os olhos. Castelos são cafonas e antigos. Um planeta que pode visitar outros na velocidade da luz, deveria no minimo ter uma mansão flutuante ou algo assim.

De longe pude ver as três torres de cores e tamanhos diferentes. A do meio, tão grande a ponto de tocar o céu acinzentado, era toda em branco, azul e um brilho amarelado, que deduzi ser ouro. A da esquerda era detalhada com branco, preto e vermelho. E a última não tinha nada, nem cristais como a do meio, nem cordas pretas amarradas em cada janela como a da esquerda. A da direita era simples, toda branca sem nem mesmo uma pedrinha brilhante.

Luck nada disse. Só assentiu com a cabeça e prosseguiu em passos mais lentos.

- Então...o que posso fazer com meus poderes? - Tento não pensar no que está por vir.

- Você domina o gelo. Este por sua vez toma forma de toda e qualquer moldura em que for colocado. Portanto um de seus poderes é mudar as coisas de forma, desde um simples grão de areia a um castelo inteiro. Mas não pode criar nada. Como por exemplo o vento, você não pode modifica-lo já que ele não possui matéria.

Olho para o meu vestido simples e decido tentar. Fecho os olhos e penso em algo ainda branco, mas tomara que caia, folgado desde a cintura aos pés, e com pequenas pedras brilhosas sobre um tecido fino e transparente que cobria toda a extensão folgada do vestido.

Quando volto a abrir os olhos, os pequenos diamantes que estavam na neve, se separaram subindo em direção a um vestido branco tomara que caia que eu vestia, se cravando sobre o tecido fino transparente.

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