Ela tinha certeza que tudo não passava de mais uma maneira dele brincar com sua cabeça.
Mais uma forma de tortura.
Pela portinhola Bia via apenas parte da cozinha, dava para ver parte da geladeira e um relógio de parede.
Estava lá a quatro dias.
Com a camisa de força, presa naquela minuscula cela.
Cordial trazia cinco refeições diariamente.
Começava com o café da manhã, na verdade ele chamava de desejum.
Ele fazia questão que Bia tivesse a comida como num hospital, um manicomio de verdade, com os nomes corretos:
Desejum, colação, almoço, lanche, jantar e a ceia.
A ultima, a ceia, ele nunca trouxe para felicidade dela.
Nesses quatro dias ele vem falando sobre os horrores do turno da noite nos manicomios.
Conta historias de como as pessoas ficam diferentes a noite, coisas que aconteceram, algumas que ele viu, outras que escutou.
Mesmo sem uma visita a noite, uma em que ela acredita que vai ver como o Cordial realmente é louco, a rotina desses quatro dias não está sendo fácil.
A cada refeição, ele troca sua fralda.
A troca é uma rotina humilhante, ele tira a fralda, depois faz uma demorada e cuidadosa limpeza.
"_ Se alguma dobrinha ficar suja, você pode ter uma assadura ou infecção, não queremos isso não é Beatriz? Sou um enfermeiro cuidadoso."
Depois passa uma pomada contra assaduras e finalmente coloca a nova fralda.
Na maioria das vezes ele tira a fralda, limpa Bia, dá a comida e só ai coloca a nova fralda.
"_ Bom ficar um pouco sem fralda, para o corpo respirar."
Mas,de longe o que achava pior dessa rotina são as vitaminas, logo quando acorda e quando recebe a ceia.
Achava, porque na noite de ontem tudo piorou.
Depois que sentiu a ultima vitamina ser introduzida e achou que finalmente ele lhe colocaria a fralda e teria algumas horas de paz, sentiu a picada de uma agulha.
"_ Preciso te dar um banho completo, trocar a camisa de força, ainda não confio em você sem ela, não me provou que não é uma louca perigosa."
Ao contrario da ultima vez que esteve desacordada em suas mãos, conseguiu lembrar de algumas coisas.
Eram poucas lembranças, distorcidas, mas eram lembranças.
Se lembrava de estar nua numa banheira, dele estar lavando seus cabelos.
De estar nua na cama dele.
Dele estar do seu lado.
De estarem abraçados.
Lembrava o halito dele no seu pescoço, seus braços em volta de seu corpo.
Tinha certeza que aconteceu coisa pior, só não lembrava. Isso estava deixando Bia desesperada.
O não saber, não ter certeza.
Mas agora ele estava atrasado.
A ceia, a ultima refeição do dia era servida as seis.
Pela portinhola aberta Bia via um relógio, já eram sete.
Em breve estaria escuro.
Tinha certeza que Cordial viria hoje como o "turno da noite".
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Ade Oba
General FictionSó Beatriz pode salvar uma criança sequestrada por um maniaco. Mas ela foi capturada por um Psicopata e vai contar com a sorte para tentar escapar. Enquanto isso, Hanna começa a treinar seus assassinos para que se tornem os melhores matadores que já...