A Suprema Iniciação - Segunda parte

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Bia estava dentro da cova, não sabia a quanto tempo.

Percebeu que o choro sobre sua cova havia parado. O seu próprio choro havia parado. 

Pensava no porque foi posta ali.

"Talvez tinha que ser assim desde o inicio, meu tio não me queria como Ade Oba."

Nua, suja de terra, dentro de uma cova.

"Existe um jeito pior de morrer?"

Não conseguia enxergar um palmo a sua frente. Lembrou de quando Cordial havia lhe deixado sozinha naquela solitária escura.

"Pelo menos não estou com uma camisa de força... Mas lá eu tinha água. Porque fui pensar em água? Agora fiquei com sede!"

Revia a sua vida, especialmente os últimos dias. Procurava aonde errou.

"Não podem ter me condenado só porque pus os pés, na verdade um pé para fora! E minha pequena irmã? O que fizeram com ela? Minha estrela, minha 'pequena vénus'..."

Estava enterrada, mas não estava morta. A  sua mente não parava.

Seus ouvidos estavam se acostumando ao silêncio, e, no silêncio total se ouvem sons, as vezes, sons da própria alma, as vezes sons que passam despercebidos na loucura do seu dia a dia.

_ Você precisa ouvir.

"Eu escutei algo, não estou louca, estou?"

_ Você precisa escutar.

"Agora eu ouvi alguma coisa"

_ Você precisa me ouvir falar.

"Agora eu escutei, eu escutei! Por favor, fale!"

Bia apurou os ouvidos e, muito, mas muito baixo, percebeu o som de aguas.

"Isso é agua?"

Andou de joelhos pela cova, se arrastava por cima de ossos.

"Os ossos dos meus ancestrais. Melhor não pensar nisso, vou ficar maluca."

Percebeu que o som ficava mais alto, um pouco mais alto perto da parede da cova.

Encostou o ouvido na terra e escutou água corrente. Lembrou-se do que tinham dito sobre a piscina "Use a piscina sempre que quiser, as águas são canalizadas de um rio sagrado que fica na floresta."

_ Meu Deus! O Rio!

Com esse pensamento, Bia tentou forçar a parede da cova. Arranhou a terra e descobriu tijolos por trás dela.

Não se deu por vencida, cavou com a ajuda de um dos ossos até que  percebeu uma pedra meia solta bem embaixo.

Desenterrou a pedra da terra e conseguiu puxá-la. Quando fez isso, parte da parede cedeu, revelando um longo canal feito com pedras atrás da cova.

Bia agradeceu, agradeceu a voz que veio de dentro dela.

_ Obrigada! Eu estou morta e enterrada. Se conseguir seguir este canal até a piscina, vou entrar na casa, roubar uma roupas e fugir! Posso ter uma nova vida!

Aquilo tinha lhe dado esperança, bebeu daquela água limpa e gelada com gosto. Entrar nela foi mais complicado. 

A tumba era um local quente. Bia estava suando. Entrar na água gelado quase lhe causa câimbras nas pernas. 

Apesar de estar tremendo de frio, seguiu o fluxo da água, chegou a um local onde o canal acabava.

Mergulhou e viu por onde água seguia até a piscina, chegou mesmo a reconhecer os intrincados ladrilhos do fundo da piscina. Havia uma grade de ferro fundido, impossível passar por ali.

Ade ObaOnde histórias criam vida. Descubra agora