Conversão

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Quando a porta da cela abre, automaticamente a menina se encolhe na parte escura da cela.

Uma atitude infantil, não tem como resistir ao que virá, não tem como fugir.

Sempre teve medo do escuro, desde criança, mas, agora são as luzes acessas lhe trazem o medo e o pequeno canto escuro da cela traz alguma segurança.

Ela descobriu, da pior maneira possivel, que os monstros não vivem nas sombras,eles andam soltos na luz do dia, e não existe nenhuma forma de descobrir quem eles são.

Se esconder nas sombras é sua unica alternativa.

Uma mulher entra na cela, é bonita. Todo seu corpo, todos os seus músculos são definidos, apesar dela não ter uma aparência de fisiculturista.

Esta mais para uma professora de yoga.

Ela veste uma calça colada e uma blusa solta, traz uma cadeira dobrável que abre no meio da cela, vem trazendo um prato de sopa em uma das mãos.

O cheiro da sopa quente inunda aquela cela fétida, com acolchoados meio mofados.

O cheiro da comida é irresistível, mas ela não sai das sombras.

_ Eu me chamo Rebeca. Qual o seu nome?

Não existe resposta. Ela senta na cadeira.

_ Se importa que eu coma?

Rebeca leva uma colherada a boca, faz uma expressão de pura satisfação, a expressão de quem descobre que a comida é tão saborosa quanto seu cheiro.

_ Isso está divino!

Ela leva, devagar, mais uma colherada a boca.

_ Quer dividir comigo? Eu enchi demais meu prato.

O silêncio toma a cela.

Rebeca precisa levar mais duas ou três colheradas a boca antes que uma figura se arraste das sombras até a sua cadeira.

Ela tem o cabelo totalmente despenteado e embaraçado, o rosto e o corpo cheio de hematomas, manchas de sangue seco embaixo do nariz e em filetes, pelas pernas, deixam claro o que aconteceu com ela.

Está amarrada em uma camisa de força, nua da cintura para baixo.

_ Abra a boca.

Ela abre e Rebeca lhe dá uma colherada de sopa.

Em qualquer pessoa, a figura da mulher geraria alguma reação, de pena, indignação, medo... Mas Rebeca a tratou como se acabassem de serem apresentadas em uma festa, numa sexta a noite.

_ Está gostoso? Come mais. Posso fazer outro prato, se você quiser.

A mulher como desesperadamente. Quase um animal atacando a colher.

Quando o prato acaba, a mulher balbuciou pela primeira vez.

_ Me ajuda.

_ Eu ajudei, te trouxe comida.

_ Me ajuda a escapar.

_ Você está aqui para ser curada.

_ Eu não sou louca.

_ Você está presa numa camisa de força, num manicômio.

_ Isso aqui não é um hospital. Estou presa com um maluco.

_ Tem certeza?

_ Tenho, o nome dele é Cordial, ele fez um acordo comigo, por favor, me salva!

_ Que acordo?

Ade ObaOnde histórias criam vida. Descubra agora