Olha o trem

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_ Esse trabalho ficou incrível Madalena. Não consigo diferenciar do original.

_ A sexta pagina, o homem com uma uma toga virou um homem de terno. Com um celular.

_ E ainda tem senso de humor! Você é um achado.

_ Mas a imagem correta vai como um adendo no final do livro, Sr. Christian.

Ele fecha o pesado livro em suas mãos, coloca junto com as outras dez copias. Pega o original e o leva para uma parte reservada de sua biblioteca, que fica numa casa em Santa Tereza.

_ Tenho um outro trabalho para você, vai levar um tempo maior, eu creio.

_ Meus Deus! Um Splendor Solis ? Mas... Eu acreditava que só existia um!

_ Não é o Splendor Solis, mas é da mesma época. Talvez até o mesmo autor. Nunca saberemos na verdade.

Madalena folheia com cuidado a obra.

_ Meu Deus, isso foi feito por um artista muito sensível, um gênio de verdade!

_ Pode levar e demore o tempo que quiser com ele. Temos doze copias perfeitas encomendadas e eu quero uma reprodução em tiragem limitada.

_ Um formato menor?

_ Não! o mesmo tamanho.

_ Eu posso mesmo levar?

_ Deve Madalena, você foi bem recomendada pelo Diego. Ele elogiou muito seu trabalho.

_ Meu trabalho não chega aos pés do meu mestre.

_ Não é o que ele diz.

_ Diego é muito bondoso.

_ Estou negociando com mais algumas pessoas, talvez consiga um manuscrito muito raro nos próximos dias, se conseguir, vou precisar que pare tudo para trabalhar nele. Vai vir emprestado e com data certa de ir embora.

_ Estou as suas ordens.

_ Obrigado, nem sei o que faria sem você. Nesse ritmo talvez consiga mais umas quinze raridades ainda nesse ano.

Madalena fica quieta, Christian sente que ela gostaria de falar alguma coisa.

_ Madalena, nunca deixe de dizer o que você pensa para mim.

_ Desculpe Sr. Christian, é que eu me lembrei de algo que o Sr. Diego me disse uma vez.

_ Que é...

_ Ele disse que a diferença do grande artista e do gênio é que o ultimo sabe quando parar.

_ Como assim?

_ Sabe, sempre tem algo a mais para se colocar na arte. Numa pintura é uma cor, um efeito de sombra, num livro é um dialogo, um enredo paralelo, uma cena em uma peça de teatro... Se o artista não sabe quando parar, pode ser bom, mas nunca será um gênio.

_ Diego é um homem sábio.

_ Me desculpe, eu vejo o senhor no meio desses livros, parece que sempre tem a impressão que falta algo, mas em nenhum local do mundo existe uma biblioteca como essa.

_ O trabalho de uma vida Madalena... Finalmente temos os meios de perpetuar e difundir esses livros, mas eles precisavam ser reunidos antes. Você tem razão, eu sempre sinto que ainda falta algum livro, um manuscrito, algo que eu podia ter insistido em adquirir, algo que deixei passar.

_ Um sentimento inútil Sr. Christian, nenhum outro teve tanto sucesso em reunir uma biblioteca dessas quanto o senhor.

Christian beija Madalena no rosto e ela fica corada. Os dois se despedem na porta, ele volta e começa a admirar sua biblioteca.

Ade ObaOnde histórias criam vida. Descubra agora