Beatriz acordou bem disposta, olhou seu relógio, passavam das 10 da manhã.
_ Tirou o pé da lama né Boneca?
A mulher do dia anterior fala rindo. Bia sorri para ela.
Estava dolorida por ter dormido no chão, mas conseguiu descansar muito bem.
Olhou para cima, o teto já meio sem telhas deixava o sol entrar, a noite a lua cheia e algumas luzes tinham deixado Bia ver onde dormiu, mas agora, a luz do dia, podia ver melhor.
Estava dentro do que poderia ter sido um ginásio.
A mulher chamava-se Claudia. Lhe deu café e um pão com manteiga. Estava fresco.
Disse que era a sexta geração a morar na rua.
Descendia de escravos, ela disse.
_ Sabe a estação? Bem ali do lado ficava a fazenda. Minha familia fabricava aguardente, de uma hora pra outra não servimos mais e fomos expulsos da fazenda.
Ela ficou quieta um tempo. "Historias, Bia pensou, só historias. Você não tem como saber se nada disso é verdade."
_ Fazer o que? Uns foram embora, arrumar um lugarzinho. Minha mãe velha e meu pai velho ficaram por ali, na rua. Tiveram filhos, os filhos outros filhos, que tiveram outo filhos e disso dai eu sai.
_ Sabe o nome deles?
_ Eu tenho documentos! Meus pais tambem tinham, mas os pais deles não. Minha familia é das ruas. Nascida e criada nas ruas. Meus filhos tambem.
_ Tem filhos?
_ Sete, depois liguei. Três morreram, um eu dei pra uma mulher daqui do bairro. Estudou, virou doutor. Ele passa por mim e nem sabe quem eu sou. Mas é boa gente, me dá dinheiro sempre que passa.
_ E os outros dois?
_ Um não presta, tá na cadeia e não faço questão que saia. O outro é novinho, quer morar na zona sul, acha que lá a gente ganha mais na rua. Rico não dá dinheiro não filha. Pobre é que dá, pobre sabe o quanto é ruim passa fome, fica sem dinheiro.
_ Claudia, sua blusa está rasgada.
_ E dai? Por isso me deram.
_ Deixa eu costurar pra você.
_ Sabe costurar?
_ Sei. Eu gosto.
A mulher tira a blusa, fica só de sutiã. Bia retira linha e agulha da bolsa, para ela aquilo sempre foi um passatempo.
Aprendeu pra ganhar uns trocados a mais, uma época que a mãe não podia lhe dar uma mesada melhor. Seu maior "cliente" era seu tio.
Bia riu sozinha, seu tio não jogava nada fora, nenhuma roupa, nenhuma colcha, nada.
"Vocês tem tudo fácil! Quando eu era criança a gente mandava trazer o pano e mamãe costurava."
_ Ai tio... Mais uma mentira? Será?
Uma vez ela tirou a gola e os punhos de uma blusa branca que tinha rasgado de um jeito que ela não conseguiria costurar, e reaproveitou uma camisa azul dele que estava com a gola "poida".
Ele gostou tanto do resultado que lhe deu cinco reais de gorjeta.
_ Esta pronta Claudia.
_ Caralho! Não dá pra ver aonde foi! Você é boa.
_ A camisa é estampada, fica mais fácil esconder o conserto.
Logo surgiram mais algumas calças, camisas, meias, cuecas, calcinhas...
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Ade Oba
General FictionSó Beatriz pode salvar uma criança sequestrada por um maniaco. Mas ela foi capturada por um Psicopata e vai contar com a sorte para tentar escapar. Enquanto isso, Hanna começa a treinar seus assassinos para que se tornem os melhores matadores que já...