Encontro

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Beatriz não sabia mais que dia era

Nem se era dia ou noite.

Girava num sonho, que parecia mais uma visão.

Algumas vezes via a cabana de palha que estava, algumas o universo.

Os tambores e a festa continuavam fora da cabana, eles continuaram a noite inteira.

Mas tudo durou um só momento para Beatriz

Ou será que foi uma eternidade?

_ Só percebeu que os tambores haviam parado quando o céu, o universo começou a clarear.

No inicio foi uma imagem de luz.

Depois, foi ficando mais forte, aparecendo no meio do nada, no meio das estrelas, do Universo com uma luz intensa.

Tão Intensa que Bia não via mais as estrelas, o Universo se apagava em sua presença de luz.

Bia se ajoelhou com o rosto em terra.

Alguns dos cortes em sua cabeça recomeçaram a sangrar.

Ela sentia uma pressão enorme no peito, uma emoção sem fim. 

Varias emoções ao mesmo tempo.

Respeito, amor, compreensão.

E vergonha.

Vergonha por sentir que não merecia estar ali, mas ao mesmo tempo,

Não queria estar em nenhum outro lugar.

O rosto no meio da luz era sereno e indescritível, estava tão perto que Bia poderia tocá-lo.

Mas não se atreveria.

Ele não disse uma palavra, Bia o olhou por alguns instantes e sentiu que suas forças a deixavam.

O seu estomago revirou num segundo, ela se dobrou de dor e abraçou uma cumbuca, que não lembrava ter visto dentro da cabana.

Abraçou e vomitou.

Vomitou tudo que havia em seu estomago, o vomito não parava, mas a sensação de paz continuava.

Precisava vomitar mais, só que não conseguia, apenas saia água e bile.

A cabana de palha agora estava iluminada pelo sol.

Uma senhora muito idosa entrou na cabana, vinha acompanhada de uma menina bem nova, que ainda não tinha os seios formados.

A mesma que tinha visto no ritual a noite.

Ambas vestiam apenas as tangas de palha.

As duas cuidaram de Bia, até que ela parou de vomitar.

Seguraram ela sobre outra cumbuca, e pediram que aliviasse sua bexiga, depois evacuasse.

Bia tentou ao máximo, mas não conseguiu.

Não com elas ali.

As duas limparam Beatriz com um pano molhado.

Lhe trouxeram uma comida simples, uma pasta que parecia ser feita de inhame.

Bia comeu com gosto, e não vomitou.

Ao final a senhora se sentou a frente dela.

_ Pode me fazer perguntas agora, minha filha, minha irmã mais nova.

_ A Senhora é uma sacerdotisa?

_ Sou uma das grandes anciãs, mas esse é só um titulo minha irmã. Essa irmã do meu lado é o que você chamaria de minha aprendiz, mas eu aprendo com ela, e ela comigo.

Bia se dobrou em reverência as duas, primeiro a anciã, depois a menina.

As duas também lhe fizeram a mesma reverência.

_ Eu vi um homem... Não, era mais que isso... Vi o Universo, ele estava lá, ero centro, o tudo. A luz.

_ Ele falou com você?

_ Não... Não deu tempo, eu comecei a vomitar e acordei.

_ Você está acordada?

_ Estou.

A senhora e a menina sorriram uma para outra.

_ Quem era ele?

_ Quando você estiver pronta, ele vai voltar e dizer seu nome.

_ Quando ele voltar e dizer seu nome, seu trabalho começa.

_ Mas...

_ Você não estava pronta para ficar na presença dele, precisa purificar seu corpo e sua mente.

A menina lhe entregou uma bebida.

_ A mesma bebida de ontem?

_ A mesma de ontem. Ela vai fazer seu espirito ganhar a batalha com seu corpo, e você vai ver os outros mundos. Vai ser quando seu trabalho vai começar.

_ Enquanto isso nós duas seremos suas irmãs, vamos ajudar você.

_ Ambas somos suas irmãs mais velhas Beatriz. vamos ajudar você.

_ Obrigada! Podem me fazer um grande favor?

As duas assentiram com a cabeça.

_ Podem pedir pro meu tio parar de fumar? Não faz bem para ele.

_ Seu tio pode fumar o quanto quiser Bia.

_ Não! Faz mal pra ele, ele não aprende!

Ela apontou para o nada.

_ Ali, aquele índio está trocando o cachimbo com ele, meu tio não pode mais fumar.

A menina olhou para Bia e disse.

_ Deixe seu tio fumar o quanto quiser irmã. Ele já está do outro lado.

Foi quando Bia lembrou que seu tio já estava morto.

Ade ObaOnde histórias criam vida. Descubra agora