Francisco

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Os olhos de Bia se acostumam finalmente com a escuridão.

Ela vê Marcos chegar mais perto dela.

Finalmente algumas luzes se acendem, os olhos dos dois estão perto um do outro.

Ele fez isso para assustá-la.

_ Você está sozinha, trancada comigo.

_ Estou.

_ Está assustada?

_ Deveria estar.

_ Mas não está.

_ Não.

_ Porque não?

Bia deu de ombros. Não sabia a resposta.

Talvez, por tudo que passou, não estivesse mais com medo nenhum.

Bia pensa se algo não "quebrou" dentro dela.

_ O que sabe sobre mim?

_ A historia que Roberto contou. Marcos capturou seu irmão, os dois ficaram morando na rua. Quando salvaram seu irmão, já era tarde. Ele já tinha ficado doido.

_ Não!

_ Não? Eu visitei seu irmão. E seu nome não é Marcos, seu nome é...

_ Marcos! Meu nome é Marcos como o homem que salvou meu irmão, o homem que me salvou!

Bia ficou quieta.

_ Meu irmão não ficou "doido" por causa do "sequestro". Venha comigo.

Eles andam por corredores subterrâneos, param em um local escuro, bem no alto da parede dá para ver uma pequena janela.

Do lado de fora aquela janelinha deve estar na altura do chão.

_ Está vendo aquela janela ali?

_ Estou.

_ Meu pai torturou o filho do Marcos, na frente dele!

_ Eu sei. Pensou que ele traia o regime militar.

_ Ele não fez nada! A filha e a esposa dele que passavam as informações.

_ Elas se mataram quando seu pai chegou com os soldados. Roberto contou.

_ Sobrou o garotinho. Torturaram e mataram o filho do Marcos na frente dele. Os dois era inocentes! Inocentes Beatriz!

_ Por isso Marcos sequestrou seu irmão.

_ Não Bia, Marcos salvou meu irmão do meu pai.

_ Seu pai maltratava vocês?

Ele fez que não com a cabeça.

_ Ele ficou com pena de nós dois. Descobriu que está tudo errado.

_ O que está errado?

_ Tudo! A sociedade, como a gente vive! Tudo! Marcos salvou meu irmão.

_ Do seu pai?

_ Salvou da sociedade, salvou do meu pai, da nossa família, de tudo! Eles voltaram a viver como Deus nos fez.

_ E como é isso?

_ Andarilhos sem casa. Livres para ir aonde quiser. Sem posses, sem preocupações.

_ Moradores de rua?

_ Na sua visão, sim. Na minha visão são seres que rejeitam as leis e regras da sociedade.

_ E seu irmão gostou dessa vida?

_ Ele gostava, mas um dia, meu irmão sentiu saudades, era inicio de mês, meu pai recebia todo dia sete, ele trazia um presente pro meu irmão, um pra mim e levava a mamãe pra jantar. Ele falava que se esperasse mais o dinheiro acabava.

Ade ObaOnde histórias criam vida. Descubra agora