Lucas

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_ Serio Leonora?

_ Verdade! Ele não falou nada, mas era igualzinho o Werner!

_ Para com isso! Eu não vou dormir mais hoje.

_ Que bobeira mãe.

_ Imagina se seu pai aparece aqui Lucas.

_ Eu ia dar um abração nele.

_ Mas ele ta morto!

_ Por isso mesmo Lucia, eu ia mostrar que amo ele de qualquer jeito.

Lucia e Arminda sorriem, Leonora coloca mais uma concha de sopa em seu prato.

Fica pensando se viu mesmo um fantasma, e, se viu porque não foi sua mãe que apareceu.

_ Eu pensei que você nem vinha mais Leonora.

_ Demorei pra me arrumar.

Leonora pensou muito antes de ir, não sabia se estaria bem, mas não queria ficar só em casa.

Não depois do que viu.

_ Devia ter trazido seu pai.

_ Hã. Aquele nunca vai vir até aqui, nesse bairro.

Lucia e Arminda se olham. Aquilo foi grosseiro.

O Bairro é simples, um suburbio, e se nota que Leonora vem de uma familia rica.

_ Desculpem, isso saiu errado.

_ Não tem importância Leonora, o que conta que você é legal.

_ Não. Me deixem explicar. São duas auto estradas da minha casa até aqui.

_ E dai?

_ Vocês sabem que minha mãe morreu, eles, nós três eramos muito ligados.

As duas mulheres param para escutar, até então, Leonora nunca falou de verdade dos pais, só que a Mãe não era mais viva.

_ Meu pai deu um carro pra ela no aniversário, ele gostava de dirigir motos. Foram passear, ele de moto, ela de carro. Na autoestrada um caminhão fechou os dois.

Fez uma pausa.

 _ Mamãe morreu na frente dele.

Leonora começou a lacrimejar.

_ Ele ficou muito mal, não queria sair de casa, nem andar de carro. Hoje ele anda, dirige, mas auto estrada é pedir demais pra ele, duas então? Acho que ele ia ter um troço.

Arminda dá a volta e abraça Leonora.

Depois de um tempo quietas, Lucia quebra o silêncio.

_ Agora me deu uma vontade de abraçar seu pai! Especialmente se ele for bonito que nem você.

Depois de rirem, Leonora enxugou as lagrimas.

_ Ai Lucia, você chegou tarde. Eu demorei pra vir porque peguei o meu pai namorando na praça.

_ Não!

_ Foi um choque.

_ Quanto tempo tem que sua Mãe morreu?

_ Vão fazer três anos.

_ Quando o pai do Lucas morreu eu fiquei muito mal, muito. Depois de dois anos, o Lucas me apareceu aqui com um professor, disse que tinha arrumado um encontro pra mim.

_ Foi mesmo Lucas?

_ O cachorro do meu amigo morreu.

_ O que?

_ O cachorro do meu amigo morreu, seis meses depois, a cachorra dele morreu de tristeza, juro! Não queria que a mamãe morresse de tristeza.

_ Você não existe Lucas.

_ Você quer que seu pai morra Leo?

_ Não!

_ Ele está feliz?

_ Ele tá mais feliz,  até tira fotos!

_ Deixa ele namorar de novo. Ninguem tem que ficar sozinho.

Lucas pega a mão de Leonora, por um instante ela sente que o mundo para.

_ Mãe, vou pegar a sobremesa.

_ Pode pegar Lucas.

"Ai ai, o encanto se foi..."

Lucas vai na cozinha pegar sorvete, tigelas e colheres para trazer a mesa.

_ Sabe, sua historia é igualzinho a daquele milionario que perdeu a esposa num acidente de Jaguar.

_ Verdade Lucia, Peter alguma coisa...

_ Longstone. Ele é meu papai.

As duas se olham de boca aberta.

_ Mas você é tão simples, tão...

_ Gente como a gente? rs

_ Isso Lucia!

_ Bobagem! Eu fui criada sem frescura.

_ Nunca ia imaginar você lá na clinica, limpando fraldas.

_ Você não conheceu minha mãe. Nossa, ela era incrivel, o que ela podia fazer pra ajudar alguem, ela fazia. Meu pai tambem é um cara simples.

Arminda segurou a mão dela.

_ Você está meia chateada por ter visto seu pai com a namorada?

_ Estou. Egoismo né? Uma babaquice, mas estou.

_ Natural Leonora, mas o Lucas tem razão, eu ficava em casa olhando as nossas fotos, se não fosse os meu namorados, acho que enlouquecia.

_ E ela teve vários!

_ Para de ser má Lucia!

Lucas volta com o sorvete, todos tomam enquanto conversam. No final da segunda Taça, Lucas fala.

_ O papo está bom, mas vou para o meu quarto a Lulu acabou comigo.

_ O que ela fez filho?

_ Fui eu! Ela ficou conversando comigo eu errei a contagem das voltas, na quarta!

_ Nossa, vocês tiveram que dar oito voltas!

_ Eu errei de novo.

_ Deram treze voltas?

_ Demos. Estou mortinho.

_ Sabe Leonora, a Lucia dá voltas seguindo...

_ A Proporção Áurea? A Sequencia de Fibonacci?

_ Isso mesmo. Dá uma volta, depois mais uma, depois mais duas, depois mais três...

_ E dai 5, 8, 13, 21, 34. Sou boa com números.

_ A Lulu é demais, a vida dela são os números. Mas estou cansado demais, vou pro meu quarto.

Ele sobe as escadas, enquanto Leonora olha desolada.

"Talvez ele não pense em mim desse jeito."

_ Vai dormir aqui Leonora?

_ Eu queria Arminda, não quero voltar pra casa hoje.

Arminda abraça Leonora.

Lucas aparece no alto da escada.

_ Leo, o que está fazendo parada ai embaixo? Vem conhecer o meu quarto!

Ade ObaOnde histórias criam vida. Descubra agora