Ade Oba

Rafael

Um calor de 40 graus, um sol escaldante.

A sensação térmica parece ser de mais de 50 graus.

Naquela rua movimentada num subúrbio do Rio, um homem com um paletó impecável espera impaciente.

O homem deve ter cerca de quarenta anos, está suando com o calor. A sombra em que se esconde não protege seu corpo todo, está desconfortável mas não quer sair dali. 

Está esperando a uma hora naquele posto de gasolina abandonado a beira da rua. De canto de olho, vê algumas crianças sem camisa brincando no posto.

Ele, não se engana, eles são olheiros, olheiros dos traficantes de drogas, ele sabe que sua presença já foi notada, e, antes que aconteça alguma coisa, é melhor tomar uma atitude.

O Homem vai na direção das crianças e, sem falar nada entrega-lhes um folheto com dizeres religiosos. Uma das crianças guarda o folheto, as outras jogam fora, daqui a pouco elas se dispersam.

"_Nada como oferecer uma explicação, sem se explicar."

Rafael diz isso baixinho, para si mesmo. Sabe que agora os meninos estão falando para o chefe do tráfico que aquele homem ali parado deve ser um "evangélico". 

Está seguro por enquanto.

Enquanto espera, fica pensando sobre a sorte, aqueles meninos brincando são um pouco mais novos que sua filha, e, quem decide quem terá uma boa vida ou uma vida difícil ? cada vez mais Rafael pensa que o Sr.José pode ter razão, a unica coisa que difere uma pessoa da outra é a sorte.

O Telefone toca, é uma musica infantil, Rafael pega o celular e reconhece a menina sorridente na tela, ela tem os cabelos e os olhos da mãe, mas o sorriso, esse sorriso é o mesmo sorriso que ele vê no espelho quando sorri.

Mas Rafael sorri muito menos do que gostaria. 

_ Fala meu amorzinho !

_ Pai, o senhor vai demorar muito pra voltar ?

_ Um pouco filha, papai ainda tem muito o que fazer.

_ Hã...tá bom...

Rafael conhece aquele tom, sabe o que virá depois desse charme da filha, e vai doer em seu bolso.

_ Quer alguma coisa filhota ?

_ Quero que você volte logo !

Agora Rafael sabe que a filha vai pedir algo caro.

_ Papai já volta filha. Mas, quer que eu leve algo para você ?

_ A pai...

_ Diga bebê.

_ Eu não sou mais baby pai !

_ Está bem meu amor, minha pré adolescente, minha aborrecente!

_ Pai ! Para !

_ Vai me dizer o que quer meu anjinho ?

_ Tá bom... Me traz um estojo de maquiagem ?

_ Maquiagem? Da Hello kit ou das princesas Disney?

_ Traz da De adulto dessa vez pai, não de criança. Quero da MAC, da Channel ou da Revlon.