Efeito Alice

Capítulo Seis - Arrependimento

Capítulo Seis — Arrependimento

Adam Beaumont

Arrependimento.

Este pode facilmente ser o meu segundo nome.

Se arrependimento matasse, eu estaria morto há uma semana, dois dias, nove horas, e quarenta e sete minutos.

É... Estou contando.

Me arrependi no momento em que deixei meu nervosismo me dominar, e desde então tenho a certeza de que o arrependimento é um dos piores sentimentos que uma pessoa possa sentir.

Eu sei que é tarde demais para continuar revirando esse assunto, mas é inevitável. Principalmente hoje.

Para início de conversa é melhor eu explicar o que aconteceu.

Quarta-feira, após eu sair da empresa e Elena e Travis me levarem para casa, em um terrível silêncio, eu repassei em minha mente tudo o que aconteceu na sala da Alice. Após muito pensar, e muito repassar tudo, eu percebi que apenas não queria ser tratado com frieza por ela também. E o motivo é simplesmente porque eu já fui muito tratado dessa maneira, e ter alguém que eu idealizo há anos (e por quem já nutri uma simpatia após a primeira conversa) me olhando com tal frieza, me desestabilizou. Eu apenas não quero que Alice me olhe com indiferença. Ela não.

A vergonha e a culpa me dominaram. Aquela não foi a educação que minha mãe sofreu para dar a mim, e aos meus irmãos. Minha mãe sempre me ensinou a ter humildade, não por nossa classe social, mas por simplesmente ser a melhor virtude que um ser humano possa ter. Ela me ensinou a reconhecer as atitudes das pessoas, e a ser sempre grato. E eu fiz exatamente o oposto de tudo o que me foi ensinado. E percebi isso tarde demais. A culpa me tomou com intensidade, no momento. Eu senti a necessidade de ir até Alice e me desculpar. Mas como faria isso?

A minha esperança estava em encontrá-la na empresa, já que agora trabalharei próximo a ela. Planejei, durante todo o final de semana, o pedido de desculpas por tratá-la mal, por dizer desaforos que ela não precisava ouvir. Escrevi, inclusive, o meu pedido de desculpas. Coloquei, naquele pedaço amassado de papel, as minhas mais sinceras palavras. Ensaiei o que diria, por mais verdadeiro que o pedido fosse. Eu escrevi e decorei, dizendo em frente ao espelho, me sentindo um verdadeiro palhaço. Me preparei bastante, pois a simples presença de Alice é intimidadora. Um simples "Oi" vira uma missão de superação. Eu sou tímido e inseguro com as demais pessoas; perto de Alice eu tenho vontade de sumir. O medo de falar ou fazer algo de errado me domina com mais intensidade quando penso nela. E depois de tudo o que eu já disse, estragar tudo mais uma vez não é uma opção.

No domingo eu mal consegui comer. Tanto pela ansiedade do dia seguinte ser o primeiro dia de trabalho, quanto o primeiro dia de faculdade. E principalmente porque eu procuraria por Alice, e pediria desculpas. Arrumei minha melhor roupa para o trabalho: um terno simples, preto, e arrumei calça jeans e camiseta para a faculdade. Precisei de um chá para me acalmar, e para eu conseguir dormir tranquilamente. Por pouco não perdi a hora do trem para a empresa. Quando cheguei, mal me continha de ansiedade. Entrei no elevador cheio às seis horas e cinquenta e seis minutos da manhã.

Conforme Alice avisou, meus contratos estavam bem visíveis em cima da mesa vazia, na sala que antecede o escritório do Aaron.

Minha sala: Um cubículo simples, de aspecto não muito bonito, com um sofá de couro preto, ao lado de uma planta em um enorme vaso de cerâmica, uma poltrona grande também de couro atrás de uma grande escrivaninha de madeira escura. As paredes brancas, o piso de madeira clara, e os dois quadros de paisagem davam um ar de tranquilidade ao ambiente que, normalmente, daria uma sensação claustrofóbica a qualquer um que ousasse passar tempo demais ali. As portas de entrada e a de acesso ao escritório do Aaron são as únicas formas de escape da sala.