Capítulo Dez - Trauma de Pimentas

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Capítulo Dez — Trauma de Pimentas

Alice K. Hildebrand



Quando o jantar foi anunciado, saí para lavar as mãos, e quando voltei me sentei intencionalmente ao lado do Garoto, na ponta da mesa. Intencional e convenientemente, já que o outro lugar vago era entre minha mãe e Elena. Quem acabou ficando ali foi o Travis, que após muita insistência e de uma breve conversa, se juntou a nós. Ele pode ser um empregado, segurança, no caso, mas é quase da família. Todos gostam dele, e o respeitam. Senti-me mal por Panic não ter aparecido. Ele ficou do lado de fora, junto aos outros seguranças do meu tio e do meu pai o tempo todo.

─ Deixa de ser antissocial. ─ Anthony move os lábios, sem emitir som, falando comigo. Ele está sentado a minha frente, e se refere ao fato de eu ficar distante.

Em reuniões de família, eu sempre me sento na ponta da mesa, ou quando não é possível, fico apenas em silêncio.

─ Não posso! Mamãe me fez assim! ─ Respondo do mesmo modo, fazendo-o rir.

─ Pra quê tanta coisa na mesa? Eu só tenho duas mãos! ─ Exclama horrorizado, continuando nossa conversa sussurrada.

─ Eu não sei! Deve ser algum complexo de gente rica. ─ Respondo.

─ Você não é assim. ─ Ele pontua.

─ Eu não sou rica. ─ Dou um sorriso sarcástico, e faço um gesto com a mão, juntando o polegar e o indicador em um círculo, e erguendo os outros três dedos.

Ele ergue as mãos em rendimento, movendo os cantos da boca para baixo, na sua costumeira expressão "Not Bad".

─ O que é isso, Anthony? Algum problema? ─ Tia Heidi questiona.

─ Tudo ótimo... Estou apenas falando com Alice.

─ Sobre o que? ─ Agora é minha mãe quem pergunta. Reviro os olhos pela inconveniência.

─ Sobre ele não ter lavado as mãos. ─ Respondo.

─ E eu mostrava as mãos, para mostrar que eu lavei. ─ Ele diz simplesmente, sem se abater.

─ Eu estava brincando com ele, apenas. — Esclareço diante dos olhares curiosos de todo mundo.

─ Agora não é hora para brincadeiras. ─ Minha mãe resmunga.

─ Ah! Claro! Desculpem-me! Me esqueci que estamos em um velório, e que devemos estar deprimidos. ─ Digo em tom amargo diretamente para minha mãe, sem poder olhá-la por causa da posição na mesa.

─ Não há necessidade de censurar a garota, Nádia. ─ Meu pai diz com seriedade, e minha mãe se cala.

Todos na mesa ficam em um silêncio momentâneo. Merda!

Suspiro e digo:

─ Tio, acho que agora é sua hora de fazer o discurso do marido feliz, depois de quarenta anos de casado.

─ Quase quarenta. Não sou tão velho assim. ─ Brinca e pisca um olho, fazendo com que meu sorriso volte.

─ Ela é um pesadelo! ─ Mexo a boca para Anthony entender, segundos depois.

─ Quem? Sua tia? ─ Ele pergunta confuso.

─ Não! Minha mãe! ─ Ele revira os olhos concordando com a cabeça.

─ Desculpe por isso. ─ Ele pede. Dou de ombros.

— Não é como se fosse sua culpa, afinal. — Digo, com uma careta. Ele sorri, e me manda prestar atenção ao meu tio, que começa um discurso emocionante e divertido sobre a sua felicidade ao lado de tia Heidi.

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