Capítulo Cinquenta e Quatro - Acidentes de vidro, de café fedorento e o Furacão

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Capítulo Cinquenta e Quatro — Acidentes de vidro, de café fedorento e o Furacão


Adam Beaumont

— Nós vamos no mercado? — Marion puxa o meu braço repetidas vezes para me fazer dar atenção totalmente a ela.

O problema é que eu estava guardando os copos de vidro no armário de cima depois de todos terem terminado o café da manhã.

Agora três copos estão em cacos pelo chão. Três dos copos preferidos da nossa mãe.

— Ops. — A menina diz em voz baixa e amedrontada.

Eu abaixo o meu olhar para ela. Não que ela tenha feito algo gravíssimo, mas também não fez nada sem importância, e eu preciso repreendê-la por não tomar cuidado, é o que mamãe faz e pede para nós, os mais velhos, fazermos, no entanto as feições culpadas e receosas da minha irmã caçula faz com que eu me sinta solidário a ela e receie falar qualquer coisa...

Céis! Eu preciso fazer o que é certo...

— Marion... — Eu começo a adverti-la no exato momento em que mamãe entra na cozinha, assustada com o barulho de vidro se quebrando.

— O que aconteceu? — Ela pergunta em tom alto e alarmado.

Seus olhos passeiam pela cozinha e terminam nos cacos dos seus copos preferidos.

— Eu puxei o braço do Adam, mas os copos que caiu. — Marion conta na sua típica inocência de menina bagunceira.

Mamãe assume uma feição engraçada de quem ouviu o que não gostou, mas logo é tomada pela chateação.

— Eu realmente gostava destes copos... — Ela suspira e dá as costas junto à ordem: — Limpe a bagunça, Adam. E está de castigo, Marion, até aprender a tomar mais cuidado com as coisas de casa.

Seu tom severo assusta a caçula. Em situações normais, Marion teria se revoltado, questionado e revidado a ordem – não que seja certo fazê-lo –, porém a postura da nossa mãe foi mesmo inabalável e séria demais para mostrar à menina que não estava aberta a brincadeiras e provocações.

Marion me olha em busca por ajuda e conforto. E eu dou.

— Cuidado com os cacos, Pequenininha. — Eu a pego no colo e deixo-a sentada na bancada. Em um rápido olhar à minha irmã, vejo-a prestes a chorar.

Oh, Céus! Não a deixem chorar! Não sei lidar com as minhas meninas chorosas.

— Shhh. Está tudo bem. Não passa dois dias e mamãe terá se esquecido dos copos. — Eu procuro falar qualquer coisa, qualquer coisa, que a faça se acalmar. — Eles eram bem feios, de qualquer forma. Os cacos brilhantes são bem mais bonitos, não são?

Com olhos e nariz vermelhos, ela acena com a cabeça.

— Ela 'Tá triste com eu, porque eu fiz você derrubar eles. — Seus finos lábios tremem quando está prestes a chorar.

E eu só quero que o choro vá embora antes mesmo de vir.

Abraço-a apertado e passo com leveza as mãos pelas suas costas e seus cabelos.

— Ela não está triste, não. Ela só se assustou, você a conhece. Vai passar, Pequenininha, tudo bem? Vai passar. — Eu prometo e enxugo delicadamente as suas lágrimas.

Ela acena com a cabeça e, impaciente como é, afasta as minhas mãos de perto do seu rosto e começa a passar com violência as próprias mãos para afugentar as lágrimas teimosas.

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