Capítulo Trinta e Oito - "E ela chorava..."

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Capítulo Trinta e Oito — "E ela chorava..."

Adam Beaumont


— Você quer falar com ele mesmo, não é? — Alice me pergunta.

Estamos na sala de estar, depois do almoço. A mãe de Alice está lendo uma revista, enquanto o pai dela está ao telefone.

— Sim. Você está tentando me fazer mudar de ideia? — Suspeito e a encaro com os olhos cerrados.

Alice ri antes de dizer em um sussurro:

— Não mesmo. Como eu sou uma ótima namorada, eu vou te ajudar. — Pisca-me um olho.

— O que vocês estão sussurrando? — Nádia questiona, curiosa.

Heiko retorna antes mesmo que eu possa questionar o que Alice disse e que nós dois possamos pensar em algo para responder à sua mãe.

— Quem era ao telefone? — Nádia sobressalta quando o marido volta, esquecendo-se completamente de mim e de Alice.

— Heidi. E, no entanto, eu tenho a plena certeza de já ter falado sobre quem tinha ligado... — Ele responde tranquilamente.

Nádia sorri timidamente.

Olho para Alice, para fazer algum comentário aleatório, e a encontro revirando os olhos.

— Ela sempre marca bem em cima... — Alice suspira ao me dizer.

— Mas não deixa de ser uma preocupação compreensível.

Alice abre a boca para retrucar, mas para quando seus pais se aproximam.

— Acho que agora, finalmente, teremos um tempo tranquilo. — Heiko diz, sorridente.

Eu fico duvidoso de que agora seja a hora certa para falar com ele... Talvez ele prefira passar um pouco de tempo com a filha. Talvez seja melhor eu conversar com ele próximo à hora de irmos embora...

— Pai! O Adam quer muito falar com você. Aproveitem agora que não tem ninguém para atrapalhar. — Alice fala, sorrindo animada.

E eu sinto minha espinha gelar. Não consigo mover um músculo. Não consigo sequer piscar.

Eu tenho que falar com ele agora?!

Céus! O que eu vou falar?

Seria mais fácil se eu tivesse dado o primeiro passo e pensado, antes, em como abordá-lo...

— É mesmo? — Heiko me olha, sem demonstrar surpresa.

Engulo a seco, e movimento minha cabeça para baixo uma única vez.

— Ele quer sim! Há alguns dias, inclusive. — Alice reforça, ignorando o meu nervosismo mais do que aparente. — Ele é tímido, por isso não disse antes.

— Bom, então... Podemos ir ao meu escritório, se quiser. — Heiko diz, atencioso. Ele, pelo menos, parece perceber o meu desconforto.

Busco o olhar de Alice, em um pedido mudo por socorro, mas ela apenas dá um sorriso para me encorajar e volta a se sentar, conversando com a mãe algo sobre uma infestação de camundongos em algum lugar qualquer, que esta leu na revista.

Obrigo meus pensamentos a focarem apenas no pedido decente de permissão de namoro;

Obrigo-me a parar de calcular o tempo que eu levaria até a janela, ao meu lado esquerdo, sem que ninguém me visse;

Efeito AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora