Capítulo Sessenta e Um - Ego Flutuante

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Capítulo Sessenta e Um - Ego Flutuante

Alice K. Hildebrand

- Olha só você! - O grito de Aaron me faz pular no sofá da sala dos Beaumont.

Seu rosto, retorcido devido à rachadura na tela do meu celular, ostenta o sorriso malicioso que lhe é a marca registrada e olheiras que passaram a ser comuns nas últimas semanas.

- Olha só você! - Eu devolvo e gesticulo para a tela. - O mesmo escandaloso de sempre.

- Isso mesmo, e é por isso que você me ama. - Eu abro a boca para rebater, mas ele é mais rápido ao dizer em um grito bastante divertido: - Ama sim! Só não admite porque o Adam está aí por perto. - Ele cerra os olhos e em segundos vira o rosto para o lado, provavelmente procurando por alguém.

Ele grita alguma coisa que não consigo compreender, já que o barulho dos incansáveis e agitados Beaumont também não é nada suave.

Desde cedo todos trabalham sem pausa. Tamanha agitação foi muito até mesmo para mim; fui forçada a pedir um momento de pausa para descansar e me recuperar dos estragos que longos minutos de exaustão na cozinha causam a alguém.

- Você está falando com a tela do seu telefone? - Marion me encara e passa a impressão de eu ser alguma espécie bem nova de palerma. Tal expressão é bem comum aos três mais novos irmãos do Adam, mas até então não me lembro de ter sido direcionada a mim. Em todas as outras vezes eu me diverti bastante, mas nesta foi muito... constrangedor, ainda que eu não tenha feito nada para justificar a expressão.

- Sim, estou. É uma chamada de vídeo. - Eu explico a ela, que reboca o Adam para perto de mim.

Curiosa como é, sei que quer espiar o que eu faço.

- O que é isso? - A menina pergunta, sua cabeça caída de lado nos ombros.

De maneira breve, eu lhe explico o que são e como funcionam as chamadas de vídeo, e também mostro a ela a tela do celular que transmite ao vivo a imagem do Aaron no exato momento em que o Anthony se junta a ele. Tudo isso é o bastante para deixar a minha cunhada mais nova em êxtase.

- E com quem a senhora está falando? - O questionamento do Adam vem junto à pergunta curiosa do Aaron:

- E quem é a anãzinha?

Assisto, com extrema diversão, ao meu namorado corar com violência da cabeça ao pescoço, no entanto, desta vez é em pura irritação.

- É a minha irmã, palhaço. - Adam se senta ao meu lado com um braço ao meu redor e com o outro puxa a caçula como se a protegesse das palavras irônicas do nosso amigo.

Nem mesmo a tela rachada consegue disfarçar o constrangimento do Aaron. Pelo menos desta vez ele teve o bom senso de parecer envergonhado... Ao seu lado, o Anthony gargalha com tremendo descaramento e dá duras batidas nas costas do homem.

- Bom, então... - Aaron limpa a garganta e ensaia o seu melhor sorriso simpático. Não à toa, é o único sorriso que ele consegue dar para se passar por um bom homem. Ele empurra o amigo para o lado, se inclina para frente e diz, em francês, à Marion: - Olá, mocinha. - Ele junta o indicador ao dedo médio e os leva rente à testa em um cumprimento militar. De onde ele se inspirou para tal gesto é um mistério.

- Oi. - Marion começa a se remexer no colo do irmão mais velho e, sem que ele a solte, ela reclama: - Aí, você está me apertando... Deixa eu falar com o moço do celular. Dá isso aqui, Alice. Ele quer falar com eu.

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