Capítulo Trinta e Sete - Histórias de crianças

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Capítulo Trinta e Sete - Histórias de crianças

Adam Beaumont


Alice e eu chegamos à frente da mansão faltando exatamente cinco minutos para as três. Já vim aqui uma vez antes, mas a condição da minha presença não me permitiu prestar a total e devida atenção ao lugar extremamente belo onde está localizada a casa que parece saída de um filme de época: a ampla estrada entre os grandes portões de ferro da entrada do terreno e a frente da mansão é todo em paralelepípedos perfeitamente alinhados; a mesma estrada tem os dois lados cercados pelo mais verde gramado que eu já tive a oportunidade de ver. Há uma grande fonte de pedra no gramado à frente da mansão e bancos de madeira espalhados por todo o gramado; várias árvores de porte médio são presentes por todo o lugar, fazendo com que a sensação de casa de campo seja intensa.

A casa gigantesca é um espetáculo à parte: com mais janelas do que meus olhos podem contar, porta com um tamanho maior do que o convencional, e a estrutura em pedras cinzentas e pintura branca. Eu não poderia duvidar se me dissessem que estou, agora, no século XVIII ou XIX.

Convencer Alice de que o certo seria vir aqui, hoje, não foi uma tarefa nada fácil. Acredito, ainda, que não a convenci totalmente, mas não é como se ela pudesse fugir deste almoço na "casa" dos seus pais...

Ontem, três de novembro, fez um mês que estamos namorando e, até hoje, ela não quis me deixar falar com o seu pai. Não entra na cabeça resistente dela que eu preciso falar com os pais dela, pedir permissão para namorá-la. Assim como eu espero que os futuros namorados da Fleur e da Marion peçam a minha permissão e a de minha mãe para se envolverem com elas, os pais de Alice deve esperar o mesmo de mim. E, lógico, minha mãe gostaria de conversar com a Alice... Mesmo que mamãe ainda seja contra este relacionamento. Isso é coisa de mãe super-protetora que está longe do filho, óbvio. Tenho a plena certeza de que, quando a minha mãe conhecer a Alice, ela irá aprovar. É a única alternativa dela, de todo modo.

Alice diz que essa "coisa" - como sempre se refere ao meu pedido de permissão de namoro aos pais dela - é ultrapassada, desnecessária e boba, mas ela, também, não faz a menor questão de disfarçar o brilho no seu olhar sempre quando eu menciono o assunto. Não apenas o brilho no olhar, mas também a vermelhidão no seu rosto.

Este último mês foi um mês cheio de novidades, para mim. Alice e eu praticamente namoramos à distância. Se eu alguma vez cheguei a cogitar que a sua vida como dona da empresa seria fácil, eu mudei de ideia fácil. Alice simplesmente mal tem tempo para comer. Não conseguimos nos ver direito desde o show do meu amigo, já que eu sempre estou estudando ou trabalhando, e ela não sai de sua sala, a não ser quando tem que viajar. Estas mesmas viagens são bem frequentes, mas a nossa sorte é que a Europa é "pequena", o que acaba deixando as viagens, de certa forma, bem curtas.

Para compensarmos a nossa distância, sempre que podemos nós estamos juntos, seja ela ficando na minha casa, seja eu ficando no apartamento dela. A nossa preferência acaba sendo a minha casa, pois sempre que ficamos na dela, Alice acaba arrumando mais trabalho.

Nas poucas horas que passamos juntos, passamos com uma cumplicidade natural, que parece ser da vida toda! Nunca pensei que isso pudesse ser possível, mas estou experimentando isso com a Alice. E como eu posso não ter a certeza e a vontade de continuar com isso que temos, de formalizar e levar a sério? É praticamente impossível! E por mais que eu converse sobre, Alice tenta desconversar.

E aí chega o ponto: além de toda essa cumplicidade e dos "amassos" - como Alice carinhosamente sempre chama os nossos momentos mais íntimos, mas não íntimos demais -, nós nos conhecemos bastante neste mês, e eu aprendi a ler como Alice é, e a lidar com ela. O problema dela com essa "coisa" de permissão é mostrar vulnerabilidade emocional, algo com o qual ela nunca lidou e nem esteve acostumada. Eu a entendo, mas não posso levar em conta isso. Não posso deixar a sua vulnerabilidade nos impedir de coisa alguma. Ela tem que enfrentar isso. Céus! É uma conversa com os pais dela! Não há motivos para ela se sentir mal. Certo? Certo.

Efeito AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora