Capítulo Dezenove - Nós

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Capítulo Dezenove - Nós

Alice K. Hildebrand



Nosso caminho até a confeitaria foi feito com conversas simples, nos conhecendo pelas pequenas coisas, por exemplo: Eu descobri que a cor preferida do Adam é a verde, assim como a minha; por incrível que pareça, Adam também gosta de Rock, e suas bandas preferidas são uma banda francesa, a Eths, e a brasileira Skank. A segunda banda ele diz ter conhecido após eu mencionar em uma entrevista de oito anos atrás como sendo uma das minhas bandas preferidas. Eu contei ao Adam que nessa época eu estava gostando das músicas brasileiras, depois de voltar de uma viagem de férias no país. Descobri também que, apesar de gostar de rock, assim como eu, ele confessou detestar jazz, um de meus estilos preferidos. Adam disse que é música de velho. Só serviu para fazer eu me sentir mais velha ainda.

Adam riu, por diversas vezes, da minha animação ao falar de música. Mas o fato é que a música sempre foi uma das minhas maiores paixões. Contei a ele, também, que sempre que eu desenho e realizo os meus projetos, eu ouço música, pois ajuda o meu lado criativo a aflorar.

Ele me disse também sobre o que fazia na França antes de partir em sua viagem pela Europa: Em um de seus últimos trabalhos por lá, ele foi desenhista nos arredores da Torre Eiffel. Adam contou que desenhava os casais, usando carvão, e que conseguia arrumar um bom dinheiro com esse trabalho; em sua adolescência ele já trabalhou como garçom em uma antiga cafeteria onde a mãe trabalhava; ele já foi até mesmo ajudante de pedreiro no seu bairro, mas abandonou este serviço porque ganhava muito pouco, era algo irregular, e foi logo após a morte do padrasto, quando ele se viu obrigado a arrumar mais dinheiro para ajudar a família; depois disso ele foi para outra construtora, que o pagava um pouco melhor, mas que logo começou a falir, e em pouco tempo fechou completamente. Foi nesta fase de sua vida quando sua situação piorou ainda mais.

E o que mais me agradou foi a forma como a nossa conversa foi levada: Com leveza e cumplicidade o tempo todo, mesmo com os assuntos mais sérios. E eu confesso que fiz o caminho mais longo até chegar à confeitaria porque eu estava adorando nossa interação.

Quando paramos em frente à Doce Saber, Adam a olhou fascinado.

Doce Saber é um prédio de dois andares, onde embaixo são as lojas e em cima a casa dos donos. O prédio é todo feito em madeira escura, tudo lindo demais. E o lado de dentro nos leva a um desses filmes antigos: As estantes e paredes são todas de madeira, abarrotadas de livros com capas de couro, de todos os idiomas e culturas; o lugar é iluminado com lâmpadas amareladas escondidas em alguns castiçais antigos para dar a impressão de iluminação de velas, deixando o lugar confortável. Simplesmente não dá vontade de ir embora. Em alguns cantos há pufes brancos e cadeiras de madeira para que os clientes se acomodem e leiam algum livro, sem precisar comprar; a única condição é conservar o estado do livro.

Adam não conseguia fazer nada a não ser ficar olhando a tudo aquilo com o mesmo fascínio que olhou a fachada do prédio. Eu tive que tirá-lo do seu estado maravilhado e levá-lo segurando sua mão para o lado oposto à livraria, até a confeitaria, que segue o mesmo estilo: Paredes e o piso de madeira; a única exceção é a parede de vidro que dá para os fundos do prédio, onde tem uma área com cercas altas também de madeira, mas com cerca elétrica no topo; essa área tem algumas mesas e um pequeno jardim com árvores pequenas e uma fonte de pedra.

Por querer mais conforto, optamos por um lugar mais ao canto, na parte interna, longe do movimento. Há dois casais e um grupo de três amigos na parte externa, conversando animadamente.

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