Capítulo 2

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Camila PDV

Três semanas depois

Os primeiros raios solares da manhã fria de Dezembro – que eu não sabia o dia ao certo, mas sabia que estávamos próximos do Natal por causa do frio cortante – lutavam entre as nuvens densas no horizonte. Tento me aconchegar ainda mais dentro do casaco que havia encontrado entre as poucas peças que estavam abandonadas dentro do guarda-roupa.

Através da janela, eu podia ver a luz pálida da manhã iluminar a rua à frente. Em um muro chapiscado estava escrito em letras caixa alta: "ONDE ESTÁ O GOVERNO AGORA?". Provavelmente a mensagem havia sido deixada depois que tudo desmoronou de modo que nem as forças armadas puderam controlar.

Mesmo com o presidente dos Estados Unidos da América declarando Lei Marcial o caos se alastrou. Leis militarizadas não resolveram a crise política e civil que não só nosso país entrou, mas também o mundo todo. Aquela merda estava em todos os lugares.

Observo o estabelecimento à frente. Era meu turno de vigia e apenas as respirações brandas das pessoas dormindo atrás de mim mostravam que eu não estava sozinha. Olho para trás e vejo Sofia dormindo abraçada ao seu ursinho de pelúcia. A menina estava com um cobertor a mais, o meu, mas ainda assim eu temia que ela sentisse frio. Suas feições latinas e cabelos negros faziam com quem olhasse jurasse que ela era uma pequena cópia minha.

Eu tentava ao máximo não me deixar levar pelos pensamentos nostálgicos, mas o que eu mais desejava era ver o sorriso dos meus pais novamente. Ouvir a risadas deles junto a da minha irmã, que agora, era a única razão de eu continuar viva. Eu precisava protegê-la de qualquer coisa ou de qualquer pessoa.

Ao seu lado estava Dinah Jane, uma jovem que costumava ajudar seu pai mecânico no estado da Califórnia. A jovem, que era um ano mais nova, havia se mudado para Miami na tentativa de mudar de vida com a sua irmã caçula, Regina, que agora estava abraçada a ela. Após encontrá-la no início daquele inferno, eu e Dinah nos tornamos boas amigas por causa do instinto protetor que tinha.

No canto esquerdo do pequeno apartamento que decidimos passar a noite estava Allyson Brooke, ainda pálida por causa da grave infecção que teve em um corte no seu braço esquerdo. A baixinha loira era enfermeira em um hospital no lado Sul de Miami, quatro anos mais velha e minha vizinha. E, por estarmos juntas desde o início, não pensei duas vezes em sair em busca de remédios para ela.

Elas eram minha família e eu faria qualquer coisa para mantê-las salvas.

- Seu turno já acabou a meia hora. – uma voz grave nas minhas costas me faz estremecer por alguns segundos. Viro-me e vejo Austin dando um sorriso amigável, oferecendo-me um pedaço de seu pão.

- Eu estou bem, obrigada. – respondo, com um sorriso fraco.

Austin Mahone era um jovem que ainda estava na academia para se tornar um policial e quase havia se formado. Mas agora ele havia se denominado um por causa da necessidade. Encontramo-nos em um posto de gasolina quando meu grupo era maior. O jovem queria uma carona até o centro de Miami onde existia o CDC, Centro de Controle e Prevenção de Doenças, e eu hesitei um pouco antes de ceder.

Os cientistas – que ficaram responsáveis por achar uma cura – permaneciam lacónicos sobre qualquer informação. Ao chegarmos lá nos deparamos com o prédio destruído e a única esperança que nos restou foi o CDC de Georgia, o estado próximo. Este era nosso objetivo de viagem, mas não é fácil transitar com duas crianças e uma mulher doente, portanto, isso fez com que nos atrasássemos algumas semanas.

Into The DeadOnde histórias criam vida. Descubra agora